O mercado de café apresentou um cenário totalmente invertido para o produtor no Brasil no mês de maio. Antes a Bolsa de Mercadorias de Nova Iorque vinha ajudando, com preços bem acima de US$ 1,00 por libra-peso, enquanto o dólar em níveis próximos de R$ 2,00 não deixava as cotações subirem em real. Em maio, o dólar ajudou, subindo bem, mas NY foi o freio de mão para os preços em real ao produtor no mercado físico brasileiro.
Na Bolsa de Nova Iorque, maio foi mês de forte pressão pela condição climática favorável no Brasil, não só pela ausência de frio como também pelo tempo seco que ajudou ao andamento da colheita. Isso deu vazão a um movimento de desmanche de posições compradas, que levou o primeiro contrato a romper a linha de US$ 1,00 em NY, como destaca o analista de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach. Ele aponta que normalmente neste período os agentes estão mais comprados do que agora em NY, se protegendo da possibilidade que sempre existe de um problema com frio ou com geada no Brasil, que prejudicaria a safra futura brasileira. As indicações apontando poucas chances de geada levam os operadores a não acreditar em maiores problemas. Além deste fundamento, fatores técnicos foram bem negativos ao longo de maio. E o café acabou seguindo muito as perdas em outras commodities, como petróleo e metais preciosos, tendo acompanhando em boa parte do tempo o índice CRB (Índice de Preços de Commodities).
Essa postura dos agentes em NY os deixa vulneráveis e a bolsa pode apresentar alguns fortes movimentos compradores e altas em alguns momentos, dependendo das informações do clima. “Isso pode potencializar bolhas compradoras, para corrigir distorções nas carteiras. A tendência, contudo, para os preços segue negativa, em função do avanço da safra brasileira”, aponta Barabach. O fator de inversão de tendência continua sendo o clima, neste momento principalmente a questão do frio, ressalta.
No balanço do mês, o contrato julho em NY fechou o último pregão de abril a 109,70 centavos de dólar por libra-peso e fechou a última sessão de maio a 98,95 cents, evidenciando uma perda no período de 9,8%.
A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F-São Paulo) acompanhou o movimento baixista de NY. No balanço do período o contrato julho teve perda de 12,6%, caindo de US$ 131,80 por saca ao final de abril para US$ 115,25 por saca no fim de maio.
No mercado físico brasileiro de café, foi desta vez a alta do dólar – grande vilão para o produtor nos últimos tempos – que atenuou o efeito negativo das perdas na Bolsa de Nova Iorque. O dólar comercial subiu 11,3% no balanço do mês, tendo saído de R$ 2,088 no final de abril para R$ 2,324 no término de maio. Com isso, no balanço do mês no mercado físico os preços para o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais caíram somente 2,9%, recuando de R$ 242,00 a saca no final de abril para R$ 235,00 a saca.
No entanto, o dólar não foi tão “bonzinho” como possa se imaginar à primeira vista. O analista de SAFRAS, Gil Barabach, observa que embora possa ter atenuado as perdas com a queda em NY em maio, a alta do dólar contribuiu para a retração nas cotações do arábica na bolsa nova-iorquina, já que a moeda americana mais valorizada estimula os embarques brasileiros, dando maior competitividade. Além disso, há uma natural pressão sobre os preços das commodities com o dólar valorizado mundialmente.