Ele foi um dos produtos escolhidos para a comemoração de 140 anos de uma boutique de alimentos em Paris
04/12/2010 –
Caminhos da Roça
A fazenda São Gabriel é centenária e está com a família de Mariângela Taramelli Francisco desde 1968. O repórter Dirceu Martins conversou com ela sobre a história da fazenda.
Dirceu – Como vocês descobriram que esta região poderia dar um café com tanta qualidade?
Mariângela – Na verdade o município é uma referência de cafés de qualidade, e meu pai era comprador de café, ele intermediava os produtores e as exportadoras. Na época de 1968 ele resolveu investir realmente na produção e começou a comprar os pedaços de terra, comprou um sítio de 24 alqueires, todos escolhidos a dedo e formou as fazendas a partir desse sítio.
Dirceu – E porque o café aqui é bom?
Mariângela – Porque aqui é o terroir do café, pedaço de terra onde tem a melhor condição para produção de alguma planta, aqui no caso, do café. E é considerado um terroir porque estamos a mais de 1000 metros de altitude. Existe um estudo de 30 anos do Instituto Agronômico, que viu que aqui não tem déficit hídrico, a temperatura média anual é 20º, então é um lugar propício para o café. Por mais que esteja calor durante o dia , de noite a temperatura cai bruscamente, então isso é uma coisa saudável para a lavoura.
Dirceu – Como foi participar da seleção para comercializar o café de vocês em uma loja da França?
Mariângela – Em 2005 teve o ano do Brasil na França, uma homenagem que fizeram aos brasileiros, e fomos procurados pela Apex, Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos, e ela queria um café de cada região brasileira para participar desses eventos na França, e no estado de São Paulo nós fomos os escolhidos.
Dirceu – Essa história da França é mais que uma premiação, é uma escolha entre muitos?
Mariângela – Existe uma boutique em Paris, de produtos de alta gastronomia, eles tem 30 lojas e a mais tradicional está fazendo 140 anos. Eles resolveram, para comemorar essa data, escolher no mundo 40 produtos que eles classifcam excepcionais, entre frutas, doces, geléias, vinhos , queijos, e inclusive, o café, eles entraram em contato conosco e disseram que estavam em busca de um café bourbon amarelo, que tivesse uma história e que para eles fosse excepcional. Mandei amostras de café verde, torrado e moído, foi um trabalho delicado, de Março até Agosto, eles pediram para delimitar a área de exclusividade deles, coloquei até uma placa para isso, e foram acompanhando tudo. Em Agosto eles avisaram que dos cafés que tinham sido selecionados, nós tinhamos sido escolhidos e eles precisariam da história da minha família. Contei para eles que sou neta de imigrantes italianos, que meu avô trabalhou na lavoura do café e meu pai também colheu café quando menino.
Dirceu – Vocês também ganharam um prêmio em São Paulo este ano?
Mariângela – A fazenda São Caetano ganhou, que é junto aqui, mas é do meu irmão, ele mandou uma amostra de café cereja descascado e foi o campeão aqui do município.
Dirceu – Cereja descascado é quando se colhe o café vermelho?
Mariângela – Sim, vermelho, e tira a casca dele ainda naqule estágio de maturação, de cereja, e ele fica com aquele mel.
Dirceu – E o que isso ajuda na bebida?
Mariângela – Melhora muito a bebida do café, fica muito mais suave, adocicado, porque o mel está concentrado no grão.
Dirceu – E isso dá mais trabalho, a colheita fica mais cara?
Mariângela – Dá mais trabalho, a colheita fica mais cara e ele custa muito mais caro para quem quer adquirir, em média de R$ 100 a mais a saca.
Dirceu – Quantos prêmios vocês já ganharam?
Mariângela – Já ganhamos vários prêmios nas fazendas e na nossa torrefação, mais de 20.
Dirceu – Falando sobre a qualidade do café, tema da nossa enquete, quanto tempo a senhora acha que vai demorar para o café de qualidade chegar à mesa da maioria dos brasileiros?
Mariângela – Acho que vai levar algum tempo ainda, mas já existem safras especiais, cafés gourmets, em muitas lojas o consumidor já encontra esse tipo de café. Lógico, com o preço bem diferenciado do café que o brasileiro está acostumado a tomar todos os dias.
Dirceu – Chega a ser o dobro?
Mariângela – Mais que o dobro, só que para que isso seja mais rápido é o próprio consumidor que tem que exigir um café de melhor qualidade.
Dirceu – E você acha que o produtor está disposto a produzir um café de melhor qualidade?
Mariângela – Eu acho que sim, porque ele vai ser bem melhor remunerado, você consegue agregar valor no seu café, mesmo o verde, e deixa de ser comodittie, o café de qualidade deixa de ser comodittie.