Porto Alegre, 27 de agosto de 2014 – Neste mês de agosto, a empresa de pesquisas Euromonitor International divulgou a informação de que o consumo brasileiro de café ultrapassaria o do atual campeão no segmento, os Estados Unidos. Segundo a empresa, o Brasil chegaria a consumir 1,03 milhão de toneladas de café industrializado em 2014, deixando para trás seu rival norte-americano.
O número é confirmado pela Associação Brasileira de Indústria de Café (Abic). Segundo o diretor executivo da instituição, Nathan Herszkowicz, o consumo nacional de fato deve alcançar 1,03 milhão de toneladas de café industrializado em 2014. A Abic, contudo, não confirma a chegada do País ao primeiro lugar do ranking em 2014.
“Há anos o consumo deles estava estagnado e o nosso crescendo, mas agora o consumo dos Estados Unidos passou a crescer também. Então, nós não podemos dizer que nós vamos ultrapassá-los”, explica Nathan. A Abic acompanha, para base de comparação, pesquisas realizadas por instituições como o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), que espera que o consumo norte-americano de 2014 atinja o recorde de 25,4 milhões de sacas, 1,8% mais do que na safra anterior, por isso a diferença. O consumo brasileiro monitorado pela Abic vem apresentando outros dados que chamam a atenção da Associação.
O consumo dos cafés de qualidade tem tido desempenho superior ao próprio consumo geral. Em 2014, a parcela de cafés gourmet deve ter incremento de 15%, frente aos 2% a 3% que devem ser conquistados pelo consumo total. “O setor de c afés gourmet tem crescido a dois dígitos há muito tempo”, relata o diretor da Abic, que conta com 130 marcas registradas como gourmet. Para gerar informações que estimulem o setor e a entrada de cafés de melhor qualidade, a Abic faz periodicamente pesquisas para acompanhar a importância de cada segmento de café, dentro de supermercados. “No início dos anos 2000 não havia cafés gourmet nas prateleiras do supermercado”, revela Nathan.
A constatação foi feita pelo Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo (Sindicafé – SP), em junho de 2000, quando começou a ser realizada a pesquisa quinzenal, em 15 supermercados na cidade de São Paulo, para acompanhar a entrada de cafés superiores gourmets nas áreas de venda. Hoje, de acordo com Nathan, os números comprovam a melhoria no setor. “O que a gente percebe é qu e os cafés superiores ocupam, em média de 8% a 9% da área da categoria cafés\”, conta. O diretor compara o consumo de café ao de vinho e explica que, hoje, só o programa da Abic conta com 130 marcas registradas como gourmet. Falta marketing institucional O tema da estiagem que abateu regiões produtoras no início do ano não deixa de ser abordado em todas as pontas da cadeia.
Segundo o economista João Batista Staut, que trabalha em comércio exterior e marketing há 20 anos e é sócio da empresa P&A, “o sentimento para o ano de 2015 é de uma safra também modesta, porque os cafezais sofreram com a seca de janeiro/fevereiro e março, pouquíssimas chuvas em junho e período de floração com profundo déficit hídrico\”. O ritmo da procura por mais qualidade, no entanto, não deve cair. “Quanto ao consumo d e cafés especiais, a demanda continua crescente para os bons cafés brasileiros de preparo muito bem feito. Eu noto que os compradores que começam a comprar cafés brasileiros de qualidade tendem a incrementar seu volume de compra ao longo dos anos\”, explica Staut, que tem larga experiência em análise sensorial de café e na área de qualidade e exportação do grão.
No mercado interno, ele também nota avanços. “Internamente, nós temos indicativos de que continuam os investimentos, principalmente de produtores em agregar valor aos seus cafés, até para torrá-los\”, afirma Staut. Ele ressalta a qualidade do grão nacional que pode ser utilizado em uma preparação de expresso, filtro ou ser mesclado. “Um café flex pode ter vários bons usos. Se a pessoa souber escolher bem o café brasileiro terá um produto bom em suas mãos”, completa.
Contudo, a respeito do marketing brasileiro, a opinião de Staut é que ainda deixa a desejar. “Não há marketing de cafés institucionais brasileiros, com raras eceções. O marketing está parado, apesar de o governo ter recursos específicos para a cafeicultura\”, explica. Nesse sentido, a falta de trabal os consistentes para incentivar a divulgação de produtores de qualidade superior é tida como ponto frágil da cadeia nacional. \”Poderia haver um crescimento considerável se houvesse um investimento em marketing mostrando ao consumidor esses cafés melhores\”, diz Staut. As informações são do CaféPoint.
Revisão: Cândida Schaedler / Agência SAFRAS