Varginha, 20 – O diretor da exportadora Marcelino Martins & Johnson, Sérgio Wanderley, disse hoje em palestra durante o 1º Seminário de Café de Minas Gerais, em Varginha, que o Brasil terá nos próximos anos oportunidade única de manter, ou até elevar, a participação de 30% no mercado mundial do produto, melhorar a renda dos cafeicultores e faturar mais com exportação do grão do que os US$ 3,1 bilhões obtidos no ano passado.
Para isso, no entanto, o Brasil deve produzir uma média de 45 milhões de sacas nos próximos 4 anos. Segundo Wanderley, o País tem potencial para isso. “O parque cafeeiro nacional de 6 bilhões de pés é bastante produtivo, pois a maior parte tem menos de 10 anos, e o País não pode perder essa oportunidade”, ressaltou. Mas os operadores de mercado já estão de olho na safra brasileira 2007/08, que deve ser pequena, sendo que a atual, 2006/07, nem começou a ser colhida. “É uma preocupação que eu nunca tinha visto antes”, comentou Wanderley.
Os fundos de investimento não perderam tempo e têm apostado pesado no mercado de café. “Eles (fundos) são a mão invisível, que fazem valer a máxima: desconfie do mercado”, disse. Em menos de 30 dias, os fundos saíram de saldo vendido na Nybot para cerca 20 mil lotes comprados, puxando os preços. O atual saldo comprado de 20 mil lotes equivale a um volume de 6 milhões de sacas, metade do que a maior torrefadora do mundo processa em um ano. “Não há operador que consiga lutar contra essa força”, ressaltou Wanderley, ao comentar que, no rally de preços de março de 2004, os fundos chegaram a ficar comprados num volume equivalente a 12 milhões de sacas. Na ocasião, a libra-peso de café bateu US$ 1,40 na bolsa de Nova York.
À parte a atuação da “mão invisível” no mercado, Wanderley considera que os fundamentos para o café indicam estabilidade entre oferta e demanda nos próximos anos. O consumo mostra-se de estável a pequeno crescimento nos países consumidores. Nos Estados Unidos, maior mercado mundial, o consumo está estagnado. “Um crescimento mais expressivo ocorre entre os países produtores, puxado pelo Brasil”. No lado da produção, Brasil e Vietnã, principais plantadores de café, devem colher o suficiente nos próximos anos, sem provocar excedentes, como na colheita recorde de 2002.
Quanto ao estoque mundial, Wanderley diz que os grandes volumes não estão mais nas origens, e sim nos países consumidores “o que é uma boa novidade”. Ele explica que no início dos anos 90, quando os estoques estavam em mãos dos países produtores, os preços custavam a reagir. Isso porque, ao menor sinal de alta nos preços, os produtores desovavam os estoques. Naquela época, o estoque do governo brasileiro estava estimado em cerca de 17 milhões de sacas. Hoje, não passam de 3 milhões de sacas.
Agora, o café nas mãos dos consumidores está com preço garantido por meio de hedge, “precificado” e carregado por grandes empresas. Mas, apesar de estar sendo consumido gradualmente, o volume ainda é considerado elevado, “o dobro da média histórica para se trabalhar, que é de 10 milhões de sacas”, conclui.
Tomas Okuda