AGROPECUÁRIO
05/11/2007
Programa 4C prepara o Brasil para atender compradores internacionais, que querem grão sustentável
O Brasil deve ser um dos primeiros países a fornecer o chamado café sustentável, em conformidade com o Código Comum da Comunidade Cafeeira, também chamado 4C. O programa, lançado em dezembro do ano passado, estabelece normas para o setor baseado em três dimensões: ambiental, econômica e social. O código 4C, iniciativa dos maiores compradores mundiais de café, entre eles Nestlé e Sara Lee, pretende promover a sustentabilidade da lavoura à xícara, desenvolvendo técnicas de responsabilidades social e ambiental na produção, no processamento e na venda dos grãos. Atualmente, cerca de 3,5% da oferta global de café, ou 4,4 milhões de sacas, já são produzidas de acordo com os critérios do programa.
Maior produtor e exportador mundial de café, o Brasil está na dianteira do uso desse sistema de trabalho. “Segundo as cooperativas e produtores visitados, a estimativa é de que em curto prazo o país possa entregar as quantidades demandadas pelos compradores no padrão 4C”, prevê Fernando Giachini Lopes, diretor-presidente do Instituto Totum, responsável pelo projeto de adequação ao código.
Certificadores analisaram 11 fazendas de quatro diferentes cooperativas brasileiras do Norte de São Paulo, Sul de Minas e cerrado mineiro. A Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), a maior do setor, já recebeu o selo 4C. A varredura concluiu que nas terras visitadas (aproximadamente 600 hectares) não há práticas inaceitáveis, sob a ótica das exigências do programa. “Quando o mercado internacional começar a procurar o café 4C, o Brasil já estará preparado”, afirma Lopes.
A partir das vistorias, foi elaborado relatório com os resultados do projeto-piloto. Estão detalhadas no documento as dimensões social, ambiental e econômica observadas. De modo geral, o 4C é aplicável à realidade brasileira, refletindo as práticas usuais dos negócios do país. Sob o aspecto social, os critérios exigidos são atendidos em sua maioria. Um item que merece melhoria é a formalização dos contratos de trabalhos com pessoal temporário, na época da colheita. Apesar disso, em todas as regiões há reconhecimento da necessidade de registro em carteira.
Em termos econômicos, os resultados também são favoráveis. As fazendas têm acesso às informações de mercado com agilidade e as cooperativas fornecem facilidades aos produtores nas formas de assistência técnica, mercados diferenciados e de compra de insumos por financiamentos. Cafés de melhor qualidade sempre são mais valorizados, refletindo as práticas exigidas pelo 4C. Os relatórios mostraram que algumas adequações seriam necessárias em propriedades sob o aspecto ambiental, que recebeu nota intermediária no documento. Ainda são encontrados produtores em diferentes estágios de implantação de áreas de reservas legais, outorga de uso de água e em alguns casos foram verificadas nas fazendas embalagens com reutilização indevida.
“O 4C não é meramente uma certificação. É uma associação aberta a produtores, exportadores, traders, indústrias, na qual todos os membros podem interagir”, explica Lopes. Para participar, a empresa tem de se tornar sócia e pagar uma taxa de filiação anual, estipulada em função da quantidade de sacas e da categoria de associado. Para o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e representante da entidade no Conselho da Associação 4C, Nathan Herszkowicz, a oferta gradual e crescente de cafés em conformidade com o código representará uma grande vantagem competitiva para a cafeicultura brasileira. “Em linha com esse movimento mundial, temos o Programa Cafés Sustentáveis do Brasil, lançado pela ABIC e que avança no quesito qualidade: os cafés são auditados nas lavouras e também nas indústrias”, diz.