Reprodução Óleo do paulista Cândido Portinari, denominado Café, de 1925. |
Foram os árabes os primeiros a se preocupar com sua cultura. Embora alguns atribuam a origem do nome à cidade de Kaffa (na região Abissínia), o fato é que o vocábulo café vem mesmo do árabe qahwah , de onde derivou o termo turco qahweh . Os povos que adotaram a bebida foram adaptando o vocábulo às suas próprias pronúncias. Daí vieram coffee (inglês), kaffee (alemão), café (francês), caffè (italiano), kophe (russo), café (espanhol), além do coffeea em latim.
Preparo – Os nômades da África costumavam esmagar os frutos do cafeeiro, acrescentando um pouco de gordura, para formar uma bola, o que lhes permitia carregar o alimento (sistema até hoje utilizado por algumas tribos). Outros produziam a fermentação da casca do café para obter uma espécie de aguardente. Também era costume acrescentar água fervente às cascas secas, para se obter chá. Mais tarde, descobriu-se que as sementes podiam ser torradas e trituradas em pilões, sistema que prevaleceu entre os costumes árabes. Só muito depois viriam os moinhos.
A difusão da bebida no Oriente foi bastante rápida e o café passou a fazer parte do dia-a-dia dos árabes. Mais que isso: beber café passou a ser um direito das pessoas. Tanto que, no ano de 1475, chegou a ser promulgada uma lei permitindo à mulher pedir o divórcio caso o marido não fosse capaz de lhe prover uma quantidade diária da bebida.
Em Meca, surgiram as primeiras cafeterias, conhecidas como qaveh qanes . Cidades como Meca eram centros religiosos para reza e meditação e a religião muçulmana proibia o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica. Dessa forma, os qaveh qanes se transformaram em casas onde era possível passar a tarde conversando, ouvindo música e bebendo café. As cafeterias tornaram-se famosas no Oriente pelo seu luxo e suntuosidade e pelos encontros entre comerciantes para a discussão de negócios ou reuniões de lazer.
Viagens – Levado por mercadores italianos em suas viagens pelo Oriente, o café começou a ser saboreado na Europa no início do século XVII. Italianos, alemães e franceses passaram a procurar uma maneira de desenvolver a cultura do produto, mas os segredos do plantio continuavam sendo exclusividade do povo árabe, que, inclusive, proibiam os estrangeiros de se aproximarem das suas plantações de café.
Em 1672, abria-se o primeiro Café da França. Mais ou menos nessa época inaugurava-se também o primeiro na Inglaterra, enquanto o de Viena data de 1683. Coube aos holandeses quebrarem a resistência árabe e plantarem as primeiras mudas nas estufas reais. Daí, chegaram à América. Depois, ainda pelas mãos dos holandeses, foram levadas para Java, enquanto os franceses faziam plantações na Guiana.
Domínio – Por um bom período, a França dominou o comércio mundial, pois dois terços da produção provinham das suas colônias na América. Os cafés parisienses se multiplicavam: havia 380 deles em 1720, número que chegaria a 900 no final do século. Por essa época, também na Inglaterra, o café era a bebida preferida, só vindo a perder essa primazia quando os ingleses descobriram que a cultura do chá se dava melhor em suas colônias.
Durante séculos, os apreciadores tomaram um café em que se misturavam diretamente o pó e a água fervente. Só em 1802, o farmacêutico francês Antoine Descroisilles inventou a cafeteira, que chamou de ” caféolette “. Outra revolução iria acontecer mais de século depois, quando, no ano de 1938, o italiano Achille Gaggia registrou a patente da máquina de café expresso.
Até hoje, embora não produzam, os italianos são autoridade quando se fala em café. Até porque talvez ninguém aprecie tanto o bom café quanto eles. Uma prova disso: são os recordistas em cafeterias. Na Itália, há uma cafeteria para cada 400 habitantes, ou seja, 140 mil para uma população de 57 milhões de pessoas. O país tem ainda a mais alta concentração de cafeterias históricas, algumas com dois ou três séculos. E diferentes cidades têm relações muito peculiares com o café. É o caso de Nápoles, onde existe a cultura do sospeso . É um hábito que funciona dessa forma: quando um napolitano vai ao bar tomar um expresso, paga o dele e também o do próximo cliente. Assim, quando alguém está sem dinheiro, pode entrar no bar e perguntar se ali há um sospeso , ou seja, um “pendurado”. Assim, toma o seu expresso!
Normalmente, o italiano toma seu espresso (curto) acompanhado de uma tirinha de limão. Em outros países, há hábitos diferentes, alguns até meio bizarros. Como no Oriente Médio, onde se costuma acentuar o sabor com cardamono, gengibre e até alho. Na Áustria pode ser servido com figos secos. O grego não dispensa a companhia do copo de água gelada, enquanto os cubanos costumam tomar o café de um gole só.
Para os alemães, a companhia ideal do café é o leite condensado ou chantilly. Já para os suíços a mistura certa é um licor, normalmente o kirsch . No México, costuma ser servido de graça – e em grandes quantidades. Mas a bebida apreciada pelos mexicanos (e também em boa parte dos EUA) não prima pela qualidade: é aguada e sem sabor. (TT)