SAFRAS (05) – Os cidadãos de Uganda são consumidores de chá, embora seu
país exporte mais café do que qualquer outro na África. Porém, os tempos e
os gostos estão mudando e o fato de haver maior população de africanos que
bebem café, ao invés de apenas produzi-lo, está afetando o mercado global.
Há cinco anos, a Good African Coffee (Ltd.), torrefadora e processadora de
café, tornou-se a primeira companhia do país a comercializar localmente café
torrado. Desde então, dúzias de outras cafeterias e restaurantes surgiram em
Uganda.
O consumo local ainda é pequeno, mas uma crescente demanda de consumidores
locais se soma a um mercado já pressionado. A severa seca no Brasil tem
reduzido as ofertas do maior produtor mundial de café. A demanda está
aumentando entre os grandes torrefadores da Europa e os preços do café nos
Estados Unidos nas bolsas globais dispararam.
O custo do grão arábica aumentou mais de 80% até agora nesse ano,
enquanto o café robusta aumentou em cerca de 27%, de acordo com o ICE Futures.
Estimulados pelo aumento, os preços do café ao produtor em países como
Uganda, Burundi e Tanzânia aumentaram em média em 30% desde o começo do ano.
Porém, as práticas agrícolas antiquadas e a negligencia estimulada por anos
de preços voláteis do café deixaram muitas partes da África com menor
capacidade de produzir. Sempre que os preços caem, os produtores abandonam
plantações, até mesmo arrancando suas plantas, somente tentando aumentar a
produção novamente quando o mercado se recupera.
“Cada exportador está agora procurando por mais grãos de café”,
disse o gerente geral da companhia exportadora, Banyankole Kweterana Ltd.,
Nelson Niwahebwa. “Não é fácil nem cumprir com as obrigações contratuais
com nossos clientes existentes”.
A Uganda historicamente produz grãos robusta, mas o governo tem sido
encorajado a plantar mais a variedade arábica. O café arábica representa
agora 30% da produção, mais que os cerca de 15% a 20% há três anos.
No ano passado, os países da África produziram cerca de 14,7 milhões de
sacas de 60 quilos de café, uma queda marginal com relação aos 14,8 milhões
de sacas produzidas no ano anterior, de acordo com dados da Organização
Internacional de Café. O maior produtor, Etiópia, consumiu a maioria de seu
café, exportando 2,8 milhões de sacas de uma produção total de 6,6 milhões
de sacas. Uganda exportou 3,58 milhões das 3,8 milhões de sacas produzidas.
A proporção que é exportada deverá cair. Com a maioria dos países do
continente registrando um crescimento médio sustentado de mais de 6% na última
década, a força de trabalho urbana com um gosto pelo café vem aumentando.
“É uma oportunidade que o setor privado pode aproveitar para transformar a
indústria de café”, disse o gerente de desenvolvimento de negócios da
Autoridade de Desenvolvimento de Café da Uganda (UCDA), Norman Mutekanga.
Na Uganda, o consumo anual de café quadruplicou nos últimos cinco anos,
de menos de 50.000 sacas para mais de 200.000 sacas, de acordo com a UCDA. Na
Etiópia, o consumo local alcançou 3,1 milhões de sacas em 2013, mais que as
2,8 milhões de sacas em 2010.
Apesar do aumento na demanda, os produtores africanos, que dependem
bastante da chuva e dos métodos básicos de produção, não são capazes de
aproveitar a situação, de acordo com a organização regional de café,
Associação de Cafés Finos do Leste da África.
Incapaz de depender do café que produz um rendimento errático, os
produtores têm mudado para produzir grãos e cereais, que produz uma colheita
em uma única estação. Os cafezais demoram de três a cinco anos para
amadurecerem. Angola, que era responsável por uma média de 5% de produção
mundial anual até o meio da década de setenta, perdeu seu lugar entre os
maiores produtores da África Subsaariana após os produtores abandonarem a
atividade.
John Kyeyune trabalhou em sua fazenda de café na região central de Uganda
desde os anos noventa. Porém, com cafezais com até 40 anos, ele disse que sua
colheita continua caindo. “Eu costumava colher mais de 100 sacas, mas nos
últimos anos, eu me considero sortudo com 60 sacas”.
A situação dele é semelhante a de milhões de pequenos produtores na
região, que produzem a maioria do café, mas não são capazes de reabilitar e