CAFÉ: Mesmo com alta de preços, produtores ainda amargam prejuízos
Pequenos produtores de café que dependem exclusivamente da atividade na região de São Sebastião do Paraíso, no sudoeste mineiro, dizem amargar prejuízos há anos. Apesar de os preços da commodity terem registrado alta expressiva desde o ano passado em razão da estiagem no Centro-Sul do país, eles garantem que não conseguiram lucrar por conta dos menores volumes colhidos.
Douglas de Oliveira Iza é um dos que reclamam dessa situação. Ele colheu 2,5 mil sacas de café em 2013 em seus 150 hectares entre terras próprias e arrendadas. Em 2014, a estiagem e o calor contribuíram para reduzir a colheita para 2 mil sacas. “Gastamos 50% a mais de frutos colhidos para fazer uma saca de café”, diz. Neste ano, ele estima que vai colher em torno de 3 mil sacas. Não fossem as intempéries, suas lavouras teriam potencial para 4,5 mil sacas.
Iza, que também é engenheiro agrônomo, afirma que as plantações estão com grãos chochos, mas que ainda não é possível saber o tamanho das perdas nesta temporada (2015/16). E afirma que sua conta não fecha. Em 2012, diz, uma saca de 60 quilos valia de R$ 240 a R$ 250, para um custo de produção de R$ 350. Em 2014, o preço aumentou, mas não havia produto suficiente para aproveitar a bonança. Em 2013, ele vendeu no mercado futuro 50% de sua safra a R$ 350 para entrega em 2014. As cotações superaram esse valor, e o produtor lamenta que perdeu rentabilidade e teve que carregar o prejuízo da safra
anterior.
“Se o mercado não mantiver o nível atual [cerca de R$ 500 a saca], o produtor não atravessa 2015, não terá rentabilidade”, afirma Iza. Ele calcula que seu endividamento está em R$ 3 milhões e amarga dificuldades para obter crédito rural com juros reduzidos. “Quando tinha café na mão, não tinha preço. Quando teve preço, não tinha café”, concorda Antonio Jacinto Caetano, presidente do Sindicato Rural de São Sebastião do Paraíso e também cafeicultor na região.
De acordo com análise da Cooparaiso, o preço médio do café arábica entre 1994 e 2014 não compensou o aumento de custos como salário mínimo, óleo diesel, adubo, energia e calcário. Além disso, aponta o levantamento, o preço médio de venda nesses 20 anos foi inferior ao custo médio de produção, o que provocou o endividamento. No intervalo, o salário mínimo teve aumento de 1.247,8%, o óleo diesel de 765,1% e o adubo subiu 652,5%. Já o preço do café tipo 6 bebida dura aumentou 245,9%.
O café é a principal atividade econômica de São Sebastião do Paraíso. As usinas sucroalcooleiras da região fecharam suas portas há cerca de três anos, inviabilizadas pela crise no segmento. Apesar dessa equação e dos recentes problemas climáticos, a situação podia ser pior. Caetano observa que na região de São Sebastião do Paraíso a seca não foi implacável como em algumas áreas do Sul de Minas. “Estamos no céu, naquela região tem muitas pessoas que estão entregando suas propriedades aos bancos”. Alguns têm deixado o campo em busca de emprego na cidade”.
“A cada dia que passa estamos morrendo”, diz Iza. Mas ele afirma que deixar a atividade não é algo fácil. Por ser uma cultura perene e com alto custo de implantação, é difícil simplesmente abandonar o café. “E se eu não plantar lavouras novas, como vou pagar minha dívida?”, concorda Caetano. As informações são do Valor Econômico, divulgadas pela Rede Social do Café.