Café: mercado favorável exige cautela e planejamento

Cafeicultores comemoram a elevação dos preços, mas é preciso analisar, afirmam os especialistas.

10 de fevereiro de 2011 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

Por ASCOM Expocaccer
 
A saca de café cotada a, aproximadamente, R$ 500,00 no início de fevereiro é motivo de sobra para alegrar os cafeicultores que ainda possuem café estocado. Tamanho contentamento é proveniente de uma elevação de preços que começou em meados de junho do ano passado, período em que a saca de 60 kg de café custava, em média, R$ 280,00.
 
O aumento dos preços está intimamente ligado à escassez do produto nos estoques mundiais, ao aumento do consumo e à queda de produção de alguns países, principalmente a Colômbia, conforme explica o analista de mercado da Investbras, empresa parceira da Expocaccer, Mauro Lúcio dos Santos. “O que surpreendeu o mercado foi que a alta nos preços, devido à redução constante nos estoques desde a super safra do Brasil em 2002, veio ocorrer justamente em um ano de boa safra no Brasil. Ficando implícita aí a estagnação da produção de outros países”. É válido ressaltar que a procura do mercado é por cafés finos, que possuem qualidade superior.
 
Momento de analisar o mercado

Apesar de esta elevação provocar euforia naqueles que ainda possuem café estocado, o ideal é que os cafeicultores estejam atentos, não só ao mercado, mas, sobretudo em sua produção e na gestão eficaz com o objetivo de se resguardarem e manter a progressão de seu negócio, como alerta o superintendente da Expocaccer, Eustáquio Miranda. “O que temos pregado nos últimos anos e que tem garantido crescimento dos nossos produtores, fato já comprovado e visível para quem quiser enxergar, é que devemos primeiramente conhecer o custo de produção e estabelecer um planejamento de ações comerciais baseadas em médias de vendas, ou seja, procurar realizar negócios antecipados e diminuir a exposição ao risco gerado pela volatilidade do mercado e garantir rentabilidade. O que nos preocupa neste momento é que toda uma cultura de trabalho construída há anos pode ser perdida e substituída pelo velho modelo de se buscar acertar o ponto máximo do mercado, modelo que gerou inúmeras perdas aos cafeicultores no decorrer destes últimos 15 anos. É importante ressaltar que este modelo não deve ser adotado para a totalidade da produção”.
 
De acordo com o superintendente, não existe um melhor momento de se negociar, o importante é que o preço pago pelo produtor remunere. “Os níveis de preços que estão sendo praticados no mercado são extremamente atraentes e sabemos que existe demanda crescente por cafés de qualidade superior. Caberá ao produtor decidir em vender tudo ou fracionar suas vendas dentro da política de estabelecer médias, algo que sempre defendemos”, recomenda Miranda.
 
Próxima safra

Parte dos cafeicultores antecipou as vendas de seu café da safra passada no mercado futuro e se deparou com um mercado em alta na data da entrega do produto, o que gerou descontentamento e dúvidas sobre qual a melhor forma de negociação para a próxima safra, que começa a ser colhida no fim de maio na região do Cerrado Mineiro. Sobre qual mercado escolher: físico ou futuro, a dica é utilizar as duas formas de negociação conforme o movimento do mercado. “O mercado futuro está um pouco abaixo do físico, mesmo assim os preços são atraentes quando levamos em consideração o custo médio de produção. Aconselhamos os produtores a ir dosando suas vendas, inclusive através de CPR’s (Cédula de Produtor Rural), que é a melhor forma de se financiar a produção utilizando o próprio produto”, avalia o superintendente.
 
Projeção de mercado

Definir como o mercado se comportará nos próximos meses é tarefa difícil, porém, analisando as causa que provocaram esta evolução nos preços e fazendo um comparativo com outros momentos de alta excessiva do café, o melhor comportamento para este momento é a cautela, analisa Santos. “Além dos fundamentos positivos próprios do café como redução de estoque, aumento de consumo mundial e estagnação de produção em algumas das principais origens como Colômbia e México, é importante observarmos que o mercado de café também é atrelado a uma cesta de commodities que iniciou uma alta, exatamente em junho de 2010 (junto com o café) devido a temores quanto à inflação mundial e perda de poder aquisitivo do dólar. É importante lembrarmos isso, pois, apesar de não haver indícios, uma mudança no cenário mundial pode trazer um movimento contrário nas commodities, como já observamos em outros anos, o que reafirma a necessidade de o produtor, bem como todo setor de café, de continuar o trabalho que vem sendo realizado nos últimos anos. É momento de cuidado e de se proteger de forma responsável e profissional. Um outro detalhe é que em 1997, mesmo com estoque próximo de zero e uma geada, após a forte alta, o mercado caiu forte em questão de 2 a 3 meses”.
 
O superintendente divide a mesma opinião e acredita que a melhor maneira de se manter firme nesse mercado altamente imprevisível e surpreendente, como é o do café, é investir em uma gestão profissionalizada, tendo uma visão ampla de seu negócio e não focar somente no preço de venda. “Continuamos defendendo a contínua profissionalização da produção rural e a busca incessante por uma redução de custos, aumento da produtividade, qualidade e rentabilidade. Esta última questão envolve além do custo, da qualidade e da produtividade, a adoção de uma boa estratégia de vendas, além de outras ferramentas como as certificações das fazendas para melhoria dos preços finais. Hoje este é o principal foco da Expocaccer: dar suporte aos produtores em todas as estas esferas através do programa de gestão rural oferecido pelo Educampo e pelo apoio em certificações com Rainforest Alliance, Utz Certified e Fairtrade, esta última para os pequenos produtores”, conclui Miranda.

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