Tradicional produtora de cafés no Brasil, a região da Alta Mogiana acaba de ser premiada com o título máximo no Concurso Nacional de Cafés, que aconteceu durante o 13º Encafé, realizado em Pernambuco. A vitória veio por meio da Fazenda Terra Preta, de Ped
Tradicional produtora de cafés no Brasil, a região da Alta Mogiana acaba de ser premiada com o título máximo no Concurso Nacional de Cafés, que aconteceu durante o 13º Encafé, realizado em Pernambuco. A vitória veio por meio da Fazenda Terra Preta, de Pedregulho (SP), propriedade de Fernanda Silveira Maciel Raucci, de 46 anos. Após a eleição de melhor café natural do País, as 10 sacas de 60 quilos do produto foram arrematadas em leilão e pago a cada uma delas R$ 8.150, maior valor oferecido por uma saca de café no mundo. O valor superou inclusive o preço pago ao café cereja descascado, R$ 2.230, a saca — café tradicionalmente mais valorizado que o natural.
O lote premiado foi arrematado pelo Consórcio Brasil, formado pelas empresas detentoras das marcas Café Pelé, Café Damasco, Café Santa Clara e Café Bom Dia.
O café já havia vencido o concurso estadual e, nesta etapa, outras dez sacas foram comercializadas por R$ 1 mil cada.
Fernanda dirige a Fazenda Terra Preta desde 1990, mas a cafeicultura é tradição na família desde o início do século passado, época áurea da cultura no País. A vencedora do concurso herdou a fazenda Curral de Pedras do pai ainda em 1981. A propriedade foi dividida entre Fernanda e sua irmã. “A cultura do café está no sangue. Sempre me interessei e procurei aprimorar ao máximo a qualidade do café produzido na fazenda, por meio de cursos e apoio técnico para o manejo”, explica. A fazenda Terra Preta possui 236,7 hectares, sendo 42 dedicados à cultura do café, onde são colhidas anualmente cerca de 1,2 mil sacas do grão. As demais áreas da propriedade estão divididas entre a cultura de cana-de-açúcar e pastagem.
Alta qualidade
Para atingir a alta qualidade, Fernanda afirma que diversos cuidados especiais são tomados, como, por exemplo, a colheita com máquinas ou no pano, sem deixar que os grãos caiam no chão, lavagem e separação adequadas, uma secagem de até 15 dias, além de um período de descanso. “Da safra premiada, colhi 430 sacas. No entanto, já havia comercializado a grande maioria pelo preço de mercado. O cuidado com toda a lavoura é o mesmo, mas alguns grãos se destacam”, avalia.
Ainda, segundo Fernanda, alguns fatores da própria região da Alta Mogiana contribuem para a qualidade do grão. “A altitude média é de mil metros, com um clima e solo muito favoráveis. No entanto, os cuidados com a lavoura são essenciais para aprimorar a qualidade do produto.”
Apesar do alto valor conseguido pela saca de café no concurso, a proprietária do lote vencedor afirma que os valores pagos pelo produto de sua fazenda acompanham as cotações da commodity. “Por incrível que possa parecer, não conseguimos um valor extra por nosso café. Essa é uma luta antiga dos cafeicultores locais que começou junto ao Sindicato Rural de Pedregulho. É justamente por isso que a recente criação da Associação de Cafés Especiais da Alta Mogiana (AMSC, sigla em inglês) é importante. Tentaremos conseguir um selo próprio para a região e, com isso, agregar valor ao produto.”
Em relação às condições do mercado da época em que assumiu a direção da fazenda até os dias de hoje, Fernanda afirma que houve grande evolução. “Quase toda a minha produção é vendida para a Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas da Região de Franca (Cocapec) e cerca de 90% do produto é destinado à exportação. No entanto, o cenário no mercado interno está passando por uma grande mudança. O brasileiro aprendeu a tomar e conhecer um bom café, o que estimula a produção e agrega valor aos cafés gourmets. Além de sermos os maiores produtores mundiais do grão, em breve seremos também os maiores consumidores.”
O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Nathan Herszkowicz, conta que o recorde anterior aconteceu no primeiro concurso Nacional ABIC de Qualidade de Café.
“O lote vencedor recebeu um lance de R$ 8.001, a saca de 60 kg, de propriedade do mineiro Daltro Noronha Barros”, disse o diretor executivo.
Herszkowicz. afirma que “é importante mostrar aos produtores e consumidores que o café mais caro do mundo é nacional e será consumido no Brasil”, disse. Além disso, Herszkowicz comenta que o marketing gerado em torno desse acontecimento, aguça a curiosidade dos consumidores por esse tipo de café e impulsiona todo o setor de cafés gourmets.
Os lotes vencedores serão industrializados pelas torrefadoras compradoras e serão comercializados com a identificação do selo 2ª Edição Especial dos Melhores Cafés do Brasil nas redes de supermercado do País.
Alta Mogiana
Segundo o presidente da AMSC, o empresário e ex-governador, Orestes Quércia, “esse prêmio chega em uma hora importante e mostra que o café da Alta Mogiana é um dos melhores do mundo”. Ele afirma ainda que “os valores pagos pelo lote vencedor estimulam os produtores e sinalizam que o café especial tem futuro, sobretudo na Alta Mogiana”.
Milton Pucci, vice-presidente da AMSC, diz que “o fato de uma associada da AMSC vencer o prêmio confirma a percepção de que a qualidade dos cafés da Alta Mogiana é diferenciada”. Para ele, o clima, o tipo de solo e a altitude da região, garantem qualidade dos grãos produzidos. Atualmente, a AMSC reúne mais de 20 associados.
A posse da primeira diretoria da entidade será no dia primeiro de dezembro, na cidade de Pedregulho (SP) e contará com as presenças do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, do secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Duarte Nogueira, além de autoridades do setor.