Para não ficar sem cafeína no verão, vale apostar nas muitas formas de tomar a bebida mais fria, como o cold brew, uma técnica simples que pode ser feita em casa
Acostumado a tomar um cafezinho (ou três) ao longo da tarde, o aficionado pela cafeína fica numa situação complicada quando chega o verão. É melhor desistir da bebida quente e ficar sem a energia do estimulante ou manter o hábito e aguentar o calor? Felizmente, há uma terceira solução: trocar, durante a estação, o café passado na hora por sua versão gelada.
Engana-se, porém, quem acha que, para beber o café gelado, basta diminuir a sua temperatura. “Existem diferentes métodos de preparo de café gelado, seja por extração a frio ou mesmo pelo resfriamento com gelo”, explica a gerente de Coffee Affairs da Nespresso Brasil, Claudia Leite, que põe ênfase no fato de que o “processo de resfriamento deve ser feito corretamente para evitar a oxidação da bebida”.
Chamado de “iced coffee”, o método de resfriamento com gelo é o mais usual. “Você despeja-o sobre pedras de gelo, assim que estiver pronto, a fim de baixar a temperatura em um curto tempo. Dessa forma, conseguimos preservar os aromas, o corpo e frescor da bebida, principalmente”, ensina Claudia.
Outro método que vem ganhando espaço entre os aficionados à cafeína gelada é o cold brew (infusão a frio, em tradução livre). “É um processo feito com a temperatura mantida sempre baixa. O fato de ele não passar por água quente faz com que os óleos naturais do café, que são a parte mais nutritiva – e é onde estão o sabor e o aroma – sejam preservados”, explica Juliana Miari, sócia da Café Américo, empresa belo-horizontina que produz e engarrafa a bebida feita por esse método.
Com o café devidamente gelado, a bebida se torna refrescante, e o leque de possibilidades de receitas se abre. “Os brasileiros ainda estão descobrindo que não precisam beber aquela xícara pelando de tão quente, e começar com receitas leves e simples é uma maneira fácil para degustá-lo frio pela primeira vez”, indica Claudia. Para quem quer se arriscar, a especialista sugere a mistura de 110 ml do líquido gelado com 100 ml de suco de laranja, servido com pedras de gelo.
Na Academia do Café, local onde o consumidor pode escolher qual método será usado para o resfriamento, a dica é misturar o líquido escuro com água tônica. “É uma febre na Europa e nos Estados Unidos. Resolvemos fazer aqui e está saindo muito. O resultado fica bem balanceado, doce e refrescante”, conta a gerente e barista da Academia, Júlia Fortini Souza. A receita segue a dica de Claudia no quesito simplicidade. Basta misturar 90 ml de água tônica com gelo e despejar 40 ml de café por cima (foto).
Drinques. Além de substituir aquela xícara quente no dia a dia, a versão refrescante da bebida ganha espaço em situações que, normalmente, não pediriam um cafezinho. “O mais interessante é que, gelado, o café ganha em versatilidade. Você consegue inseri-lo em um momento em que normalmente não o tomaria, como num drinque durante a noite, por exemplo”, garante Juliana, da Café Américo.
Claudia Leite, da Nespresso Brasil, dá algumas dicas na página ao lado e resume: “O café gelado já é uma tendência lá fora e, agora que chegou, com certeza cairá no gosto do brasileiro e fará muito sucesso”.
Qual é melhor: o café quente ou frio?. É verdade que as duas formas de tirar o líquido rico em cafeína do grão têm suas particularidades. Feita a frio, a bebida fica menos ácida e com sabor mais adocicado e frutado, enquanto a versão quente se destaca pelo aroma mais intenso e pelo sabor mais encorpado. Mas, independentemente do método, os especialistas entrevistados pela reportagem de O TEMPO foram unânimes em dizerem que o real determinante do resultado final, seja ele quente ou frio, é a qualidade do grão.
“É o café especial que traz vantagens. Esses que a gente compra no supermercado tem palha, pedra, inseto, tudo misturado ao grão. Então, os fabricantes o torram bem para mascarar essas impurezas”, alerta a gerente e barista da Academia do Café, Júlia Fortini Souza. “O café de verdade é naturalmente bem doce, não precisa de açúcar, e não é o que a gente toma aqui, no Brasil, associado ao gosto amargo e forte. Ao café puro, não é preciso adicionar mais nada para se sentir um gosto prazeroso”, explica. Júlia faz uma comparação com as cervejas. “As que são produzidas pelas grandes indústrias têm que ser bebidas bem geladas, que é para ocultar um pouco o sabor. Com o café, é a mesma coisa. Se precisou pôr açúcar, é porque ele é de má qualidade”.
Para não errar na hora de comprar o café, ela dá a dica de sempre dar preferência ao grão. “Não basta estar escrito ‘100% arábica’. Tem que procurar quem é o produtor, qual é a região onde o café é plantado, qual é a sua variedade”, completa a barista, que disse valorizar o café de diferentes partes do Brasil, não só o de Minas Gerais.
O preço é outra grande diferença entre o café industrializado em pó e a versão em grão. Enquanto a saca de 60 kg do chamado “café comercial” é vendida por cerca de R$ 100, o especial tem preços que variam entre R$ 600 e R$ 1.000 pela mesma quantidade.
Como fazer o cold brew
FOTO: LEO FONTES / O TEMPO |
Como fazer o cold brew |
1 – O grão
Para fazer o cold brew, é preciso selecionar um grão de qualidade, segundo a sócia da Café Américo Juliana Miari. Ela explica que o produto vendido em pó pode conter impurezas, e o ideal é comprar o grão – que deve ter uma torra média ou escura. Ao moer o café, deve-se tomar cuidado para não deixá-lo muito fino, o que dificulta na hora de coar. O resultado ideal da moagem é um aspecto mais grosso (foto).
2 – Na geladeira
Em casa, você pode escolher um recipiente com tampa para fazer a infusão. A proporção sugerida por Juliana é de 200 g a 220 g de grãos moídos para 1 l de água filtrada. Misture bem e deixe o recipiente guardado na geladeira de 18 horas a 24 horas. “Se passar de 24 horas, fica muito forte”, alerta Juliana.
FOTO: LEO FONTES / O TEMPO |
3 – Hora de coar
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Dado o tempo, coe a mistura. Isso pode ser feito da mesma forma com que você coa o café quente: com coador de pano, papel ou até com a prensa francesa, explica Juliana.
4 – Cold brew pronto!
FOTO: LEO FONTES / O TEMPO |
O cold brew já pode ser consumido. Juliana explica que, como a bebida é mais estável do que sua versão quente, ela dura até 40 dias refrigerada, mas a dica é consumir o produto em até dez dias.
5 – Experimente
A bebida que ganha adeptos em diversos países pode ser consumida pura, mas o ideal é misturar o cold brew, que tem um sabor concentrado, com água de coco, água ou leite. Para Juliana, a proporção ideal é uma parte de café para outra parte da bebida. Ao lado, o cold brew com gelo e leite.