ECONOMIA
27/11/2007
Janaína Martins
Repórter
O setor agropecuário mineiro é o novo líder no ranking brasileiro da produção de riqueza, passando da quarta para a primeira posição em valor agregado, superando São Paulo na agricultura e o Rio Grande do Sul na pecuária, principais concorrentes até então. Os números mineiros do setor ganharam mais força após a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) no período de 2002 a 2005, pela Fundação João Pinheiro, de acordo com nova metodologia adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em março deste ano. De acordo com os dados revisados, o PIB do setor agropecuário teve uma expansão de 12,6% em 2004, comparando a série antiga com a nova, passando de R$ 13,6 bilhões para R$ 15,4 bilhões. E esse número ficou ainda maior em 2005, chegando a R$ 15,5 bilhões, período, no entanto, em que não há base de comparação na série antiga.
O crescimento também foi constatado no valor do PIB geral mineiro de 2004, comparando as séries antiga e nova. Na primeira, o valor era de R$ 166,5 bilhões, valor que subiu para R$ 177,3 bilhões na nova tabulação, representando alta de 6,4%. Essa expansão, segundo a coordenadora de Contas Regionais da FJP, Maria Helena Magnavaca, é um reflexo também do peso dos tributos no país, pois a nova metodologia incluiu a Cofins no cálculo do PIB.
Os dados do PIB de 2005, já calculados com a nova fórmula, também demonstraram crescimento em Minas acima da média nacional. O valor da riqueza gerada naquele ano foi de R$ 192,6 bilhões, total 3,99% superior aos R$ 177,3 bilhões registrados em 2004. No país, a expansão foi de 3,16%, com o valor do PIB passando de R$ 1,9 trilhão, em 2004, para R$ 2,1 trilhões em 2005. No entanto, a participação da geração de riqueza do Estado no total do país sofreu pequena retração, saindo de 9,13% em 2004 para 8,97%, em 2005 – variação de 0,16 ponto percentual. ½Temos que ressaltar que a realidade econômica não se modificou. O que mudou foi a forma como mensuramos o desempenho, o que acabou, no caso da agricultura, gerando impacto no ranking nacional”, explica o presidente da Fundação João Pinheiro (FJP), Ricardo Luís Santiago.
A terceira economia do país, responsável por 9% do PIB brasileiro, é superada por São Paulo, com 33,9% da fatia, e Rio de Janeiro, com 11,5%. A revisão dos dados, segundo o presidente da Fundação João Pinheiro, favoreceu o Estado no setor agropecuário, mas provocou redução na indústria, mesmo comportamento percebido em todo o país, que perdeu a participação, no seu volume do PIB, da contabilidade dos serviços terceirizados, agora redirecionados para o cálculo do setor Serviços. Este, por sua vez, passa a ter uma participação maior na composição da riqueza gerada no Estado.
A principal modificação no cálculo do PIB é o uso de pesquisas estruturais, como as anuais da Indústria (PIA), de Serviços (PAS), de Comércio (PAC), da Indústria da Construção (PAIC) e de Amostra por Domicílios (Pnad), substituindo os censos econômicos de 1985, com dados defasados e com uma realidade produtiva muito distante da atual. Para traçar a produtividade agropecuária, foi utilizado o censo 1995/1996. Também constam da nova abordagem os dados da Declaração de Informações Econômico-Fiscais – Pessoa Jurídica.
Café puxa as contas do Estado
O café pode ser considerado o ouro em grãos da economia mineira, apesar de já enfrentar a concorrência do leite, que vem adquirindo supremacia nas contas regionais do Estado que surge como primeiro produtor do país, e da carne, cujo processamento em Minas está crescendo, mesmo que a passos lentos. O grão que dá origem a uma das mais tradicionais bebidas nacionais ainda determina a evolução dos dados do setor agrícola. A forte expansão do PIB da agricultura em 2004 (R$ 10,5 bilhões contra R$ 8,5 bilhões em 2003, variação de 23,5%), que ajudou a mudar a posição do Estado no ranking nacional, contou com uma safra ½gorda” do café naquele ano. ½É um produto que ainda enfrenta o problema da bianualidade (safra boa a cada dois anos), limitador que vem regredindo”, afirma Maria de Fátima Almeida Barbosa Gomes, pesquisadora da Fundação João Pinheiro.
Segundo ela, desde o início da década de 2000 vem-se observando o crescimento da produção de grãos em Minas acima de dois dígitos. Essa expansão favoreceu a promoção da agropecuária do Estado para o topo do ranking, reforçada também pela quebra da superestimação de dados de outros estados, como São Paulo. ½A metodologia anterior, baseada nos censos econômicos, dava margem para essa distorção, o que não acontece agora com o uso das pesquisas estruturais”, ressalta a coordenadora de Contas Regionais da FJP, Maria Helena Magnavaca.
Na série antiga, São Paulo contribuía com 21,3% na composição do PIB da agropecuária no país, índice que caiu para 10,2%, dando espaço para que Minas passasse de 8,4% para 10,1%.
Reclassificação faz setor industrial recuar
Apesar de perder em valor agregado (-23,8%) e em participação (10,4 pontos percentuais) nos dados do PIB de 2004 com a nova metodologia, o setor industrial mineiro não chegou a amargar quedas no ranking brasileiro, porque sua retração foi efeito comum em todo o país, com algumas exceções nas regiões Norte e Nordeste. Com a série nova, a indústria mineira passa a representar 30,9% do PIB nacional do setor, contra 42,8% anteriormente. O impacto foi maior nas atividades de transformação e construção.
Na primeira, ficou evidente, segundo os pesquisadores, o reflexo da reclassificação de novos segmentos, como os trabalhos prestados às empresas, que passaram a ser contabilizados no setor Serviços. O valor agregado da indústria de transformação, em 2004, passou de R$ 43,6 bilhões para R$ 31,4 bilhões, queda de 28% com a mudança de metodologia. Apesar do impacto, Minas continua em segundo lugar nesse setor.
Já na construção, a queda foi bem maior, chegando a 44,6%. O valor agregado em 2004 caiu de R$ 14,8 bilhões para R$ 8,2 bilhões, e a participação do setor na composição do PIB saiu de 9,5% para 5,3% também em 2004. Segundo Maria Helena Magnavaca, a entrada da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic) cobriu a falta de informações existentes para este setor. ½Hoje é uma atividade que está bem medida”, ressalta.
A indústria extrativa mineral, diferentemente das demais, não sofreu retração, ao contrário, apresentou expansão de 65% em 2004 na comparação da série nova com a antiga. Os R$ 5,6 bilhões correntes em 2004, ante os R$ 3,3 bilhões no ano anterior, no entanto, poderiam apresentar um resultado mais expressivo, de acordo com Magnavaca, se toda a pelotização fosse feita em Minas. Hoje, o minério de ferro bruto segue para ser pelotizado no Espírito Santo.
Serviços elevam participação
As maiores mudanças em termos de construção do cálculo do PIB, tanto em Minas como em todo o Brasil, foram implantadas no setor de Serviços. Antes calculado com um perfil mais global, o setor passou a ser dividido em vários tipos de atividades, muitas delas absorvendo segmentos que antes eram somados aos números da indústria, por exemplo. ½Ele passa a ter uma participação maior, mas é difícil fazer uma comparação, porque foram feitas várias alterações”, afirma o presidente da Fundação João Pinheiro, Ricardo Luís Santiago. O setor de Serviços teve a participação ampliada de 48,7% para 59% com a nova metodologia.
Na série antiga, o setor de Serviços já registrava aumento do valor agregado de 2002 a 2004 – R$ 59,1 bilhões, R$ 66,3 bilhões e R$ 73,5 bilhões, respectivamente. Com a nova metodologia, esses valores passam para R$ 68 bilhões, R$ 76,9 bilhões e R$ 87,9 bilhões, que equivalem a altas de 15%, 16% e 19,6%, respectivamente. Os dados de 2005, já computados com a nova fórmula, mostram uma expansão de 10,7% em relação ao ano anterior.
E o destaque ficou por conta do segmento Transportes, com alta de 21,8% no valor agregado, que passou de R$ 6,6 bilhões em 2004 para R$ 8,1 bilhões em 2005. A esse segmento foram incorporados os serviços dos Correios, que antes eram classificados em Comunicações.
Na nova série, os Serviços foram divididos em Comércio, Alojamento e Alimentação, Transportes, Serviços de Informação, Financeiro, Serviços Prestados às Família e Serviços Prestados às Empresas.