17/10/2012
Já foram publicados inúmeros trabalhos sobre os efeitos do café no nosso organismo. Alguns dizem que faz bem e outros que faz mal. Afinal onde está a verdade? Para tentar tirar isso a limpo um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos analisou a taxa de mortalidade e causa mortis em um grupo de cerca de 400.000 pessoas com idade entre 50 e 71 anos. Essas pessoas foram acompanhadas por 13 anos: entre 1995 e 2008. O estudo coordenado por Rashmi Sinha foi publicado na revista New England Journal of Medicine. Qual foi a conclusão do estudo?
Recordando
O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo tanto nos Estados Unidos como no resto do planeta. Como o café contém cafeína, que é um estimulante, muitas pessoas o consideram como não saudável. Por outro lado o café é uma fonte rica de antioxidantes e outros compostos bioativos que poderiam ser importantes para combater doenças inflamatórias ou resistência a insulina. Alguns estudos sugerem que o café pode aumentar o risco de doenças cardíacas, mas os resultados são inconsistentes. Outros sugerem que o café poderia proteger o organismo contra diabetes, doenças inflamatórias, derrames e injúrias devido a acidentes, mas que não teria efeito em relação sobre o câncer. Em resumo, há muita controvérsia a respeito. O objetivo do estudo conduzido pelo Dr. Rashmi foi analisar se havia uma associação entre o consumo de café e causa de morte.
Como era constituída a amostra ?
Foram incluídos na amostra 229.119 homens e 173.141 mulheres. De acordo com o consumo de café, as pessoas foram divididas em categorias, desde zero (não consome café) até 6 ou mais xícaras por dia. Além disso foram avaliadas várias outras variáveis como tabagismo, alimentação, prática de exercícios etc…. Um total de 52.515 pessoas morreram durante o estudo. Desses 33.371 eram homens e 18.784 mulheres.
A primeira análise mostrou que a taxa de mortalidade foi maior entre aqueles que consumiam café
Se você toma muito café (como eu) já deve ter se assustado. Mas calma aí. O que os pesquisadores observaram é que entre as pessoas que consomem muito café há uma grande porcentagem de fumantes (não é o meu caso). De fato, frequentemente vemos pessoas que quando querem largar o cigarro param também de tomar café porque dizem que os dois hábitos estão intimamente associados – tomar café estimula neles a vontade de acender um cigarro. Mas o importante desse estudo é que, quando os fumantes foram retirados da amostra, os resultados foram o inverso. A taxa de mortalidade, nos dois sexos, incluindo doenças cardíacas, doenças respiratórias, derrame, diabetes, doenças inflamatórias , infecções e – surpreendentemente – acidentes também foi menor entre os consumidores de café. Ufa…. que alívio. Em resumo, entre aqueles que tomavam 6 ou mais xícaras , houve 10% menos mortes entre os homens e 15% menos entre as mulheres.
Efeito da cafeina?
Um dado muito interessante é que os pesquisadores observaram que o efeito “benéfico” do café em reduzir a mortalidade foi o mesmo entre aqueles que tomavam café com cafeína ou descafeinado. Isso sugere que não seria a cafeína a responsável por aumentar a longevidade, mas como existem mais de 1000 substâncias no café é difícil saber quais seriam os efeitos de cada uma delas. Uma das hipóteses é que os antioxidantes, incluindo polifenóis, poderiam ser importantes. Além disso, há uma diferença entre o café americano, que é tomado em xícaras grandes, e o nosso que não pode ser esquecida. Será que a grande ingestão de líquidos junto com o café americano não poderia também ter um efeito benéfico?
Por outro lado, os autores não sabem explicar como o café poderia diminuir as mortes acidentais. A única coisa que me ocorre seria que o café deixa as pessoas mais alertas (ou mais “ligadas” na linguagem popular), mas esse efeito sempre foi atribuído à cafeína.
Você tem alguma outra sugestão, caro leitor?
Pesquisadores da UnB publicam estudo em jornal científico onde concluem que o cafezinho é um alimento funcional e faz bem à saúde, além de ser importante para as comunidades de baixa renda
O café e os brasileiros, de longa data, vivem uma relação muito intensa, não
apenas pelo gosto que eles têm pela bebida, mas pela grande influência econômica
e política que a commoditie exerceu sobre o Brasil. Contudo, depois da República
do Café com Leite e do fim da hegemonia dos cafeicultores no país, as discussões
em torno do produto passaram para o nível do “faz ou não faz mal tomar um
cafezinho ?”. A resposta é dada pelos professores do Departamento de Nutrição da
Universidade de Brasília, Teresa Helena Macedo da Costa e José Garrofe Dórea. De
acordo com o estudo Is coffee a functional food?, que publicaram, em agosto
deste ano, em um dos mais importantes jornais científicos de nutrição do mundo,
o British Journal of Nutrition, o pretinho é um alimento funcional e pode fazer
muito bem para a saúde, além de prevenir doenças.
Os professores fizeram
uma releitura bibliográfica de mais de 200 artigos científicos relacionados ao
café, publicados por cientistas de vários países que consomem a bebida. “Nenhum
dos trabalhos indicava malefícios causados pelo produto”, afirma o professor
Dórea. Muito pelo contrário, reforça a professora Teresa Helena, a bebida
proporciona o aumento da capacidade de trabalho físico e mental, do estado de
alerta e vigília, da memória e do bem-estar, equilibra a hiperatividade
infantil, ajuda na concentração e também minimiza os efeitos do mal de Alzheimer
e de Parkinson.
Segundo eles, há relatos que indicam que o café ajuda no
aumento da temperatura corporal e na aceleração do metabolismo. “Por isso, é
recomendável aos obesos que fazem dietas para emagrecer”, falam. Eles também
destacam que um estudo holandês associou o consumo de café ao baixo risco de
desenvolver diabetes do tipo 2. “A pesquisa foi feita com cerca de 17 mil
pessoas e o resultado mostrou que quem tomava sete xícaras de café coado no
filtro de papel por dia, comparando-se aos que consumiram apenas duas xícaras,
não desenvolviam a doença”.
Eles enfatizam ainda que o café não possui
apenas funcionalidade no que diz respeito à saúde, mas também social. “A bebida
é muito importante para as comunidades de baixa renda, pois, a água que usam
para prepará-la é fervida, o que elimina muitas bactérias. Por isso, é preciso
estimular o consumo nessas regiões”, sugerem. Outro ponto que ressaltam é o fato
de que o alimento não precisa ser refrigerado: “Isso facilita o
armazenamento”.
O estudo feito pelos cientistas revela que o café,
diferente do que muita gente pensava, é um alimento benéfico. “Não queremos
dizer que ele é remédio e que deve ser receitado para quem quer curar alguma
doença. Tudo depende do processo de cultivo, torrefação e consumo, combinados
com uma rotina cultural de alimentação”, pondera o professor Dórea. Eles falam
também que as mães não precisam ter medo de deixar os filhos tomarem café. Os
pesquisadores informam que não há nenhum registro de problemas de saúde causados
pela bebida no Brasil. “Essa idéia de que criança não deve tomar café nasceu nos
Estados Unidos, em função de questões religiosas. É que pelo fato de o alimento
deixar a pessoa ativa, ele é considerado impróprio”, explicam.
O que
são alimentos funcionais?
Conforme informações do portal eletrônico
www.azeite. com.br, esse tipo de alimento começou a ser estudado pelos japoneses
no ano de 1985. “Trata-se de alimentos que, além de nutrientes, possuem
substâncias bioativas benéficas à saúde, se forem ingeridos na quantidade certa
e sistematicamente. Até bem pouco tempo, os alimentos tinham duas funções
essenciais: a sensorial (aroma e sabor atraentes) e a nutritiva, por fornecer os
nutrientes e suprir as necessidades energéticas do organismo.
Depois dos
estudos iniciados por cientistas do Japão, foi detectado substâncias nos
alimentos que não tinham poder de nutrir, mas que são capazes de prevenir e
combater doenças, principalmente, as crônico-degenerativas como os cânceres e as
doenças cardiovasculares. Esses alimentos são conhecidos como
funcionais”.
Onde tudo começou
A idéia de analisar a
relação café/saúde nasceu num encontro com professores da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (URFJ), que estruturaram um grupo de pesquisa, cujo tema de
trabalho era Café e Saúde. “Participamos de um seminário com o grupo em Porto
Seguro e, assim que voltamos para Brasília, resolvemos fazer um estudo denso
sobre a funcionalidade da bebida”, conta a professora Teresa Helena.
Para os cientistas, o estudo mudou o patamar do alimento e a repercussão
no meio científico foi surpreendente. O próprio professor Dórea, que toma um
litro de café pela manhã, confessa que antes de fazer as pequisas não via tanta
relevância no consumo desse alimento. “O motivo é simples: não damos a devida
importância à bebida, a qual o Brasil é o maior produtor mundial”.