BALANÇO SEMANAL — 31/03 a 04/04/2014
Estudo encomendado pelo CNC prevê safra de café de 40,1 a 43,3 milhões de sacas em 2014
– Levantamento encomendado pelo CNC junto à Fundação Procafé aponta perdas significativas, ocasionadas pela estiagem, sobre as safras 2014 e 2015 de café
O Conselho Nacional do Café (CNC), frente à inusitada situação climática vivenciada no cinturão produtor do Brasil, no começo deste ano, com falta de chuvas especialmente em janeiro e fevereiro, encomendou, junto à Fundação Procafé, uma pesquisa para apurar os danos causados às lavouras cafeeiras e as consequentes perdas que ocorrerão nas safras 2014 e 2015 do País, o maior produtor mundial.
A avaliação foi realizada pela equipe de técnicos especializados em cafeicultura da entidade, visando estimar, de forma objetiva, os reflexos da estiagem e da falta de chuvas quanto aos aspectos vegetativos e produtivos das lavouras, o que gerou “chochamento” dos grãos e redução do tamanho e do peso dos frutos.
O trabalho, em nível de campo, ocorreu ao longo do mês de março, após a retomada de precipitações suficientes para o retorno do processo fisiológico normal dos cafeeiros, cessando, portanto, a maior parte dos efeitos do veranico.
De acordo com os estudos, tomando como base a primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – 46,5 milhões a 50,1 milhões de sacas de 60 kg – para a safra 2014, dos quais 35,0 a 37,4 milhões de sacas correspondem ao café arábica, foram observadas perdas de aproximadamente 18% sobre a produção desse tipo de café, com o volume total a ser colhido (arábica+conillon) recuando para um intervalo entre 40,09 milhões e 43,30 milhões de sacas.
Os pesquisadores da Fundação Procafé explicaram que o efeito da seca e das altas temperaturas foram mais acentuados nos cafezais com menor nível tecnológico, nos quais o produtor utilizou poucos insumos, principalmente os fertilizantes, devido aos preços aviltados do mercado antes da seca.
Mas essa situação de carência nutricional se agravou também nos cafeeiros com melhor nível, onde os produtores usaram mais fertilizantes. Premidos pela falta de chuvas, esses cafeicultores conseguiram fazer apenas uma ou duas adubações, quando normalmente são feitas de três a quatro. “Agora, em março, alguns estão tentando suprir com adubações, estimulados pelos melhores preços. No entanto, para a presente safra, isso pouco adianta”, relatam os pesquisadores.
SAFRA 2015 – Para 2015, a expectativa inicial, com o reflexo residual da seca e em função da observação dos ciclos produtivos das distintas regiões, espera-se que o Brasil colha de 38,7 milhões a 43,6 milhões de sacas, caracterizando nível baixo, semelhante ao que se espera na safra atual após os efeitos do veranico.
Para a definição de qual das pontas desse intervalo será alcançada na temporada seguinte, pesará a recuperação hídrica na pós-estiagem, através de chuvas normais em março, abril e maio, de forma a favorecer a recomposição da folhagem, em final de ciclo de crescimento, e o sistema radicular danificado.
Por outro lado, os pesquisadores da Fundação Procafé informaram que, em março, algumas áreas ainda não voltaram ao regime pluviométrico normal, verificando-se chuvas totais na faixa de 70-100 mm, volumes insuficientes para a recomposição de água armazenada em maior profundidade no solo, fato que poderá afetar diretamente a indução floral, já em curso, e, indiretamente, o “pegamento” da florada, via desfolha das plantas.
PERCENTUAL DE PERDAS – A equipe da Procafé utilizou-se de metodologia realista e analisou lavouras nas diversas regiões produtoras de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, onde o impacto do veranico e das altas temperaturas foi mais significativo na safra a ser colhida. Abaixo, resumimos os percentuais e volumes de perdas prognosticados pela Fundação em relação à primeira estimativa da Conab.
MINAS GERAIS
– Sul e Oeste de MG: perda média de aproximadamente 30%, ou 4,0 a 4,2 milhões de sacas a menos.
– Zona da Mata de MG: perda média de 19,2% (1,014 milhão de sacas) da safra esperada antes da seca.
– Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de MG: com o regime de chuvas, em janeiro e fevereiro, melhor em relação a outras áreas do Estado, e com muitas lavouras irrigadas, a perda média percentual estimada foi de 10 pontos – 630 mil sacas -, com a ocorrência sendo mais observada nas áreas de sequeiro e nas sub-regiões mais quentes.
– Jequitinhonha, Mucuri e Norte de MG: na média, chegou-se a uma perda estimada de 12%, equivalente a um intervalo entre 70 e 80 mil sacas.
Com base nos cálculos acima, o principal Estado produtor de café do Brasil registrou perda média levemente superior a 22% em relação ao primeiro levantamento da Conab, com sua produção sendo prevista, agora, entre 19,77 milhões e 20,97 milhões de sacas.
ESPÍRITO SANTO
Os especialistas da Procafé relataram que as regiões cafeeiras capixabas tiveram condições climáticas um pouco mais favoráveis do que as demais analisadas. Primeiramente, em dezembro de 2013, quando houve excesso de chuvas (mais de 500 mm), causando graves enchentes, em especial nas partes central e norte do Estado. Seguiram-se precipitações regulares na região mais baixa e mais ao norte, onde se cultiva o café robusta, que, portanto, não sofreu perdas consideráveis, por isso a variedade não foi objeto de avaliação. No que diz respeito ao café arábica, foi registrada uma quebra média de 11%, representando cerca de 300 mil sacas, o que reduziu a produção total para valores entre 2,47 milhões e 2,73 milhões de sacas.
SÃO PAULO
As principais perdas ocorridas nos cafezais paulistas foram registradas na região da Mogiana, o que conduziu a redução no Estado para um percentual de 10 pontos, ou entre 250 mil e 300 mil sacas a menos a serem colhidas. Dessa forma, a nova projeção passou a ser de 3,95 milhões a 4,40 milhões de sacas.
O LEVANTAMENTO
Para a realização desse trabalho, a Fundação Procafé levou a campo 12 pesquisadores e uma equipe de suporte com mais 13 profissionais, que visitaram 11 regiões produtoras de café no Brasil. Essas zonas foram estratificadas em sub-regiões, de acordo com suas condições climáticas semelhantes, conforme tipo de vegetação e solo, altitude, etc. Dentro de cada sub-região, foram eleitos os municípios de maior representatividade para, de forma aleatória, serem realizadas visitas às propriedades, onde o técnico verificou os impactos em cinco tipos de lavouras: até segunda safra; adultas com carga alta; adultas com carga baixa; recepadas; e esqueletadas do ano de safra.
Nessas lavouras, foram observados o enchimento e o tamanho dos frutos e a incidência de cercosporiose e da broca-do-café. A determinação foi efetuada colhendo grãos do ramo inteiro, colocando-os em água para aferir o percentual de “boias” e, naqueles que boiaram, foram feitos cortes transversais para a determinação das características da fava internamente – se preta ou parcialmente afetada –, objetivando estimar a perda de peso. Na coleta, observou-se uma amostra média entre o lado que mais recebeu sol e o lado de sombra da planta, em suas três alturas: na saia, no terço médio e no ponteiro. Por fim, na verificação da folhagem, determinou-se o nível de escaldadura, o tamanho das folhas e o número médio de nós do crescimento para a safra seguinte.
SOBRE A FUNDAÇÃO PROCAFÉ
A Fundação Procafé, localizada em Varginha, no Sul do Estado de Minas Gerais, tem como objetivo principal a realização de pesquisas nas áreas de produção, preparo e qualidade do café, gerenciamento agrícola, diagnósticos e estudos socioeconômicos, entre outros. Também promove e apoia treinamento de pessoal vinculado à cafeicultura e realiza eventos técnico-científicos e de transferência de tecnologias diretamente ou em parceria com órgãos públicos e privados.
Atenciosamente,
Silas Brasileiro
Presidente Executivo do CNC