Café em áreas baixas da Guatemala corre risco por conta do clima

27/08/2009 – Cientistas prevêem que as mudanças climáticas globais afetarão a produção do reconhecido café da América Central nas próximas décadas, porém, atualmente alguns produtores do grão em áreas de baixa altitude da Guatemala já estão sentindo os seus efeitos. Projeções da ONU (Organização das Nações Unidas) indicam que as temperaturas subirão de 1º C a 6ºC no próximo século, o que tornará inviável algumas terras baixas e obrigará os produtores a passar a plantar em regiões mais altas.

Os pesquisadores que efetuam um estudo de quatro anos sobre os efeitos da mudança climática sobre pequenas propriedades de café na Guatemala apontaram que muitos produtores estão lutando para poder continuar com seus cultivos em zonas baixas. “Em Santa Rosa o problema é que o local é seco, sendo que verificamos muita falta de água e este ano a seca afeta bastante a produção”, disse Edwin Castellanos, pesquisador que conduziu o estudo.

As exportações de café gourmet da Guatemala que têm sido consistentes nos últimos cinco anos, oscilando entre 3,3 e 3,8 milhões de sacas por safra, devido ao fato de os produtores de terras altas, com microclimas favoráveis, terem sido pouco afetados. “Se observarmos um percentual maior que 10%, então passaremos a nos preocupar ainda mais”, disse Christian Rasch, presidente da Anacafé (Associação Nacional dos Cafeicultores da Guatemala).

Adicionalmente, produtores de áreas úmidas estão lutando contra os climas extremos e imprevisíveis, segundo apontaram os especialistas. Os produtores de Cerro de Oro, povoado localizado entre vulcões próximos de Lago Atitlán, têm sido afetados pelas chuvas torrenciais assim como por secas em anos recentes. “Não podemos prever os efeitos, já que o clima é incerto”, sustentou o produtor Carlos Siteán.

Na Nicarágua, país vizinho, muitas terras baixas dedicadas à produção cafeeira passarão a ser inviáveis para a cultura à medida que as temperaturas subam. Na Guatemala, muitos produtores não têm um terreno de maior altitude para moverem suas lavouras, sendo que a diversificação de cultivo será a saída, ainda mais que o café é uma atividade de risco, que muitas vezes é afetada pela ação de furacões ou pela seca. “O que estou pensando é que tenho de vender esse terreno, pois em breve não terei resultados”, disse Nasario Guoz, que planta café em Cerro de Oro há mais de 30 anos.

Algumas idéias para auxiliar os produtores com as conseqüências da mudança climática incluem esquemas em que os produtores das zonas de risco podem ter acesso a créditos mais baratos, efetuar mudança de cultivos ou buscar desenvolver variedades mais resistentes. Porém, os especialistas advertem que os esforços de organizações não governamentais e do setor privado poderiam não ser suficientes para conter o que está por vir. “Os governos têm de focar estrategicamente onde pode ser cultivado o café nos próximos 30 ou 40 anos e ver que outras áreas claramente não passarão a ter viabilidade para o café”, disse Peter Baker, especialista em matérias-primas britânico do Centro Internacional para a Ciência e Agricultura.

Algum tipo de ajuda aos produtores poderia surgir caso se chegue a um acordo mundial sobre a mudança climática deste ano, em substituição do Protocolo de Kyoto. As informações partem da AgnoCafé noticiou o Café e Mercado.


 

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