29.12.2010
Produtores de café que ainda estão com os grãos estocados se apressam em fazer negócio. Todo mundo quer aproveitar o preço em alta. Nas cooperativas mineiras, os estoques diminuíram. Quase tudo foi vendido.
Da safra de café de 2010 que o produtor Marcelo Queiroz colheu no município de Patrocínio, região do cerrado mineiro, não sobrou nenhuma saca. Tudo já foi vendido. Agora ele está negociando parte da produção que ele espera colher em 2011.
“Já estou determinado a vender 30% da minha safra do ano que vem, porque assim estarei garantindo melhor preço. Vou vender esse café a preço de hoje, a R$ 420,00, e garantindo o preço para a entrega na safra”, disse Marcelo Queiroz.
O produtor Hemerson Bovi, de Monte Carmelo, região do cerrado mineiro, vendeu cerca de 80% das seis mil sacas de café que colheu em 2010. Agora ele está negociando o restante da safra. No momento ele está negociando a saca de 60 quilos por R$ 415,00. “Hoje temos em torno de 20% da safra para tentar vender nos preços atuais”, comentou o produtor.
Com essa alta no preço do café, o estoque da safra nas cooperativas é 80% menor do que em 2009. As sacas que ainda lotam os armazéns já foram vendidas e devem ser entregues aos compradores em no máximo 90 dias.
“Esse café não é mais da cooperativa. Esse café está apenas aguardando o momento dele ser exportado. Esse processo leva cerca de três meses, pois ele precisa ser separado e classificado de acordo com a necessidade do nosso comprador lá fora”, explicou Carlos Alberto Lima, gerente da Cooperativa Cooxupé. “Daqui a três meses o armazém estará praticamente vazio. A expectativa é que chegue no começo da safra de 2011 com o estoque praticamente zerado.”
Em Patrocínio, na Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro (Expocaccer), o estoque também é um dos menores dos últimos anos.
“Nós recebemos mais de um milhão de sacas. Para ser exato, um milhão e 42 mil sacas. De julho para cá saíram mais de 800 mil sacas. Comparado com o tamanho da safra do cerrado, o estoque que sobrou é muito baixo. Isso se dá muito à escassez de café no mercado e à alta procura pelo produto aqui da nossa região”, contou João Ferreira Júnior, gerente de cafés especiais da Expocaccer.
Em Varginha, no sul de Minas Gerais, outra importante região produtora de café, o clima pode influenciar a próxima safra. Em toda a região têm ocorrido os temporais típicos de verão no fim de tarde. Só que essa chuva veio atrasada e para a cafeicultura ela não influencia em nada. Teria que ter chovido em meses anteriores.
Na fazenda experimental da Fundação Procafé, ligada ao Ministério da Agricultura, são feitos estudos sobre a quantidade de chuva nas áreas produtivas. Três medições apontaram um déficit de chuva principalmente entre os meses de maio e setembro.
O agrônomo Rodrigo Naves, da Fundação Procafé, explicou o reflexo de tudo isso: “Devido a esse déficit hídrico bastante acentuado, a planta desfolhou bastante. Mesmo ocorrendo uma florada bastante uniforme em outubro, o pegamento da florada está menor. O número de frutos por roseta está menor. Isso quer dizer uma baixa safra para o próximo ano”.
“Agora nesse período, essas chuvas são importantes porque o produtor está fazendo as adubações. O adubo precisa de água no solo para ele poder translocar e a planta absorver esses nutrientes”, continuou o agrônomo. “Vai amenizar um pouco esse déficit que ocorreu no passado, mas o que está definido não tem como mudar.”