Café é matéria-prima para obtenção do biodiesel

17 de janeiro de 2005

Por: UFMG




Novo destino está sendo traçado, na UFMG, para os grãos de café classificados como defeituosos, e que não ganham o mercado externo. Por sugestão do Sindicato das Indústrias do Café de Minas Gerais (Sindcafé), professores da Escola de Engenharia iniciaram pesquisa sobre a viabilidade de seu aproveitamento para a produção de biodiesel. Os estudos são financiados pela Fapemig, que aprovou, em 2003, a liberação de R$ 30 mil.


O valor destina-se ao custeio de pequena escala de trabalho em laboratório, informa uma das coordenadoras da pesquisa, a professora Adriana Silva França, do departamento de Engenharia Química. O trabalho consiste em realizar a extração do óleo, isolar impurezas e verificar a viabilidade de seu uso para a produção do biodiesel. O método vale-se de solventes, indicado para sementes de baixo teor de óleo, como as do café.


Estima-se que, de cada 100 quilogramas de café, é possível obter 12 quilogramas de óleo. Apesar de produzir pouco óleo – a soja fornece 20% e o babaçu 60% de sua massa -, o café possui vantagens em relação a outras oleaginosas, sobretudo devido ao volume de sua produção e ao custo reduzido do processo de aproveitamento dos grãos defeituosos, cuja separação já ocorre no beneficiamento convencional.

Rede organizada
O fato do café ser uma cultura consolidada, que conta com ampla rede de agricultores e empresários organizados, é outro fator importante para o aproveitamento dos grãos como combustível biodegradável. Diversificar o destino dos grãos também interessa aos cafeicultores devido à queda sistemática dos preços do café no mercado internacional nas últimas décadas.


A utilização de grãos de culturas regionais poderia ser o caminho mais adequado para o Brasil obter sucesso na produção de matérias-primas para a biodiesel, avalia o professor Leandro Soares de Oliveira, do departamento de Engenharia Química que, junto a Adriana França, coordena a pesquisa na área. Ele observa que a instalação de unidades regionais de produção de biodiesel utilizando oleaginosas locais, além de reduzir custos, permitiria gerar novos empregos e facilitaria o escoamento do produto para a própria comunidade. Minas Gerais responde por quase metade da produção nacional de café, e o Brasil é o líder mundial. Só em 2004, o país colheu cerca de 2,5 milhões de toneladas de grãos – estima-se que 430 mil serão defeituosos, o que daria para extrair 41,24 mil toneladas de óleo para biodesel.


O consumo de diesel no Brasil chega a R$ 40 bilhões de litros ao ano. “Com a nova regulamentação, que autoriza a mistura de 2% do biocombustível ao diesel, o mercado precisará produzir 800 milhões de litros de biodiesel ao ano”, estima o professor Inácio Loiola Campos, do departamento de Engenharia Nuclear da Escola de Engenharia.
De acordo com Leandro de Oliveira, o aproveitamento de grãos de culturas regionais como matéria-prima de combustíveis pode ajudar a fortalecer uma mentalidade de pesquisa em biodiesel no país. Além dos centros de pesquisa da Petrobrás e do Cetec, que desenvolveram tecnologia na área, há, segundo o professor, dois grandes grupos – sediados na USP e UFRJ -, que estudam biocombustíveis a partir de diversas fontes.


“As competências estão sendo formadas”, analisa Oliveira, que participa da estruturação do laboratório de biodiesel na Escola de Engenharia e de novo grupo de pesquisa na UFMG sobre biocombustível, ao lado de Adriana França, Inácio Loiola e Ramón Molina, este do departamento de Engenharia Mecânica. O objetivo é expandir a pesquisa com diversas matérias-primas e desenvolver projeto para implantação, na Universidade, de unidade de produção de biocombustíveis.


Sobre a importância da pesquisa na área, Inácio Loiola lembra que o peso do petróleo e da eletricidade de origem hidráulica é muito alto na matriz energética do Brasil. “Se houver nova crise, o país poderá amargar graves conseqüências”, prevê o professor. Loiola desenvolve tese de doutorado em que compara o diesel ao biodiesel feito a partir de várias oleaginosas. Os itens analisados são emissão de poluentes, desempenho do motor e oxidação do biodiesel, freqüente 90 dias após de sua produção. Quando isso ocorre, ele tem suas características alteradas e pode causar danos ao motor e ao meio ambiente.


Biodiesel
Derivado de óleos vegetais ou de gorduras animais, é um combustível para motores a combustão interna com ignição por compressão, renovável e biodegradável, capaz de substituir parcial ou totalmente o óleo diesel de origem fóssil. Ele permite reduzir, drasticamente, a emissão de poluentes na atmosfera. A indústria automobilística já possui cronograma para converter motores de carro de passeio para diesel, o que aumentará sua vida útil e o consumo de biodiesel no país.

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