SAFRAS
Pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e da Universidade Federal de Lavras (Ufla) estão finalizando trabalhos a respeito do fungo Claridosporium claridospoides, ao qual estão atribuídas bebidas de boa qualidade. O fungo pode atuar contra diversas espécies de microrganismos que atacam lavouras de café e prejudicam a formação e a qualidade dos grãos. Em breve, o defensor biológico pode ganhar o mercado.
A espécie foi encontrada em 1989, durante investigações realizadas conjuntamente por pesquisadores das duas instituições, que buscavam compreender a influência de microrganismos sobre a qualidade do café. Sob coordenação da doutora em fitotecnia Sara Maria Chalfoun, a equipe detectou que poderia explorar as propriedades do C. claridospoides como agente antagonista aos fungos deletérios à qualidade da planta. "Percebemos que o Claridosporium apresentava ação antibiótica em favor dos frutos, uma vez que ele hiperparasita os demais microrganismos que atacam o carpo e o danificam, comprometendo a formação e a qualidade dos grãos", explica. Segundo ela, foi o início de um trabalho revolucionário para a indústria cafeeira.
Os pesquisadores desenvolveram métodos para isolar o fungo, que, cultivado em laboratório, seria adaptado para aplicação em plantações de café, em forma de biodefensivo. Devidamente patenteado, o produto está em processo de registro comercial, mas já encontra terreno para aplicações, em regime de teste, nas lavouras de todo o Estado. "O produto consiste de uma suspensão concentrada do fungo, purificado e multiplicado, inoculada em água agregada à substância que confere aderência ao produto", explica Chalfoun. O produto não recebe aditivos químicos. Sem toxinas De acordo com a pesquisadora, além de melhor paladar, o café cultivado com o bioprotetor, em lugar de fitossanitários, adquire características mais saudáveis. "O fungo não produz toxinas, nem deixa vestígios de substâncias nocivas. Ademais, o Claridosporium só atua durante o período de frutificação", diz. Na secagem dos grãos, o fungo é completamente eliminado. Outra vantagem é a proteção do grão nessa fase, período em que não se recomenda a aplicação de defensivos, devido ao risco de absorção. O grupo se dedica, ainda, a estudos que visam a adequação ambiental para melhor acomodar o fungo e possibilitar sua reprodução natural.
A base de conhecimento adquirida pela equipe ramificou-se em diversas outras pesquisas de natureza similar. Um desses produtos busca inibir a formação de mucilagem, substância gelatinosa que se forma no invólucro do grão e favorece a fermentação. "O produto é composto por enzimas fúngicas capazes de metabolizar a pectina, maior componente da substância", esclarece Sara Chalfoun. Bioinseticida que combate a broca está em estudo Outro produto em fase de desenvolvimento é o bioinseticida. Seu alvo é a broca-do-café, uma das piores vilãs da indústria cafeeira no Brasil, para a qual ainda não existem defensivos em circulação no mercado. A pesquisa em andamento visa à seleção de organismos com potencial para produção de quitinase, metabólico apto a degradar a quitina, principal componente do exoesqueleto da espécie. Além desses produtos, a equipe trabalha no desenvolvimento de um solubilizador de fosfato, substância indispensável ao bom funcionamento do metabolismo vegetal. "Geralmente, o fosfato é abundante no solo onde o café é cultivado, mas, em estado sólido, revela-se impróprio à absorção pela planta. Nosso produto atua no sentido de torná-lo disponível para o cafeeiro", afirma a pesquisadora Sara Maria Chalfoun. Os mais recentes estudos tratam do desenvolvimento de biofiltros, que, com incorporação de determinados fungos emissores de cargas voltaicas, promovem a retenção de resíduos metálicos encontrados na composição de fitossanitários e que podem contaminar as lavouras. "Atualmente, safras do café sofrem significativas reduções mediante a detecção de resíduos metálicos nos grão, que devem ser descartados", completa.