O café foi o quinto produto agrícola mais exportado pelo Brasil em 2006. Das 44 milhões de sacas produzidas, 27,2 milhões foram embarcadas, gerando receitas de US$ 3,3 bilhões. O produto responde por 2,5% da pauta de exportação do país, mas já chegou a representar 70% na década de 1920. Hoje, além de vender para mercados tradicionais como Alemanha, EUA, Itália e França, o Brasil conquistou novos destinos, como o Japão e a China. Os árabes também crescem como importadores.
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O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues prega a venda de produtos com maior valor agregado |
Cláudia Abreu, Débora Rubin e Geovana Pagel
São Paulo – Em 2006 o Brasil consolidou seu posto de maior produtor e exportador mundial de café, produto que mais uma vez contribuiu para o resultado do produto interno bruto (PIB) do agronegócio, que somou R$ 534,8 bilhões. Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o valor bruto da produção de café foi de R$ 10,4 bilhões no ano passado – 1,9% a mais que em 2005, ano que faturou R$ 10,2 bilhões.
De quebra, o café foi o quinto produto agrícola mais exportado no ano passado. Das 44 milhões de sacas de café produzidas, 27,2 milhões foram exportadas para um total de 73 países, gerando uma receita de US$ 3,3 bilhões. “Foi a maior receita cambial do setor dos últimos anos. O café representou 8% do resultado bruto das exportações do agronegócio”, afirma Guilherme Braga Abreu Pires Filho, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Hoje, o café responde por 2,5% do total da pauta de exportação brasileira. Mas o produto já chegou a representar 70% das vendas externas do país na década de 1920. As exportações brasileiras começaram em 1816. Entre 1830 e 1840, o café assumiu a liderança das exportações do país com mais de 40% do total. Em 1840, o Brasil se tornou o maior produtor mundial de café.
“O período áureo do café durou até 1930, quando o café representava, em média, 65% das exportações brasileiras”, destaca Maurício Miarelli, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC). Já em 1932 houve a famosa queima de estoques devido à supersafra mundial.
A participação do café nas exportações do país diminuiu nos anos 70, quando o valor da exportação de manufaturados ultrapassou o do café. Nos anos 80, o café respondeu por aproximadamente 10% do valor total das exportações. Na década de 90, com a maior diversificação da pauta de exportações, esse percentual diminuiu ainda mais e o café passou a responder por cerca de 3% das exportações brasileiras.
Valor agregado
O grande negócio do Brasil ainda é a exportação do café em grão verde. Porém, já tem prestígio na venda de café solúvel (leia matéria abaixo) e recentemente iniciou a conquista de espaço também para o café torrado e moído, que começou a ser exportado há apenas quatro anos, e rendeu US$ 26 milhões em 2006.
“Pouco se comparado ao café em grão, muito se pensarmos que começamos faz pouco tempo. Por outro lado, o café torrado e moído tem valor agregado. Conseguimos até US$ 4,5 o quilo, enquanto o grão fica em US$ 1,7 o quilo”, diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC).
Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também afirma que o cenário melhorou muito nos últimos anos, mas deixa um alerta. Segundo ele, se o Brasil quiser se manter como o maior produtor de café e atender à demanda mundial, vai ter que investir em três aspectos fundamentais: reduzir o endividamento dos produtores; expandir as vendas do torrado e moído; e, por fim, permitir que os produtores, via cooperativas, negociem diretamente com os compradores e, de preferência, já processem seu café.
“No entanto, disso tudo, o investimento no torrado e moído é o principal porque o café brasileiro precisa de mais valor agregado. Enquanto não se investir nisso, Alemanha e Itália continuarão exportando café sem plantar um grão – o que não tem o menor cabimento”, conclui Rodrigues.
Em vez de chá, café
A partir dos anos 50, o Brasil começou a enfrentar a concorrência com outros países produtores de café, fazendo a participação brasileira diminuir para uma média de 25% da produção mundial. Hoje, o Brasil é responsável por 30% da produção mundial. Como ingrediente para manter sua fatia no mercado mundial, além de vender café para os mercados tradicionais como Alemanha, Estados Unidos, Itália e França, o Brasil conquistou novos mercados como o Japão e a China, que não são, ou não eram, tradicionalmente grandes consumidores de café. Hoje, o Japão já é o quinto maior consumidor do mundo.
“São países com características semelhantes, que levaram ao crescimento do consumo de café. Uma delas é a ocidentalização de hábitos”, diz Guilherme Braga do Cecafé. “O que a gente observa na China, por exemplo, é que o consumo não ocorre no lar, ao contrário dos países de um modo geral, onde 60% do consumo de café habitualmente ocorre em casa”, explica.
“Os jovens japoneses e chineses querem se diferenciar dos mais velhos, que bebem chá. Inclusive, eles gostam de freqüentar as ‘casas de café’ porque ali podem conversar, socializar. Nas casas de chá, as pessoas devem ficar em silêncio”, explica Nathan.
De acordo com o diretor-geral do Cecafé, uma das estratégias utilizadas para penetrar no mercado chinês é via cafeterias, que aparentemente são o segmento de mercado que mais vai se desenvolver. Mas existe também a possibilidade de associação com indústrias de torrefação locais.
Nas arábias
Os países árabes são vistos como novos mercados potenciais. Doze – dos 22 países da Liga Árabe – já importam café brasileiro. Em 2006 eles importaram 811,6 mil sacas, principalmente da espécie arábica. Também no ano passado o Líbano passou a ser o maior mercado no Oriente Médio. Os libaneses importaram 292,4 mil sacas de café, ultrapassando a Síria que importou 250,7 mil sacas em 2006 e, até então, era o principal importador árabe do café brasileiro.
Apesar das exportações para os árabes ainda serem percentualmente pequenas, Braga diz que a região é um bom mercado. De acordo com ele, os árabes consomem até mais café brasileiro do que mostram os números. Isto porque muitas vendas não são feitas diretamente do Brasil, mas por meio de intermediários na Europa.
Desafios
Apesar do crescimento das exportações de café, o Brasil e os demais produtores mundiais devem tomar alguns cuidados para se beneficiar do aumento da demanda, sem que se repitam episódios anteriores. Uma das precauções é evitar a empolgação quando os preços estão altos. “Entre 94 a 98, tivemos um ciclo de preços externos extraordinário, coisa de US$ 250 a US$ 300 a saca, que levou a produção lá para a lua, principalmente aqui no Brasil. Sobreveio depois um ciclo de preços baixos e agora estamos entrando num ciclo de preços mais altos”, diz Guilherme Braga, do Cecafé.
Há uma dificuldade muito grande para ordenar esse processo, porque o café tem importâncias diferentes em cada economia. Por exemplo, o Brasil já dependeu quase que completamente do café. Hoje, outros países têm uma dependência muito grande, seja na receita do capital, seja na geração de empregos. O Vietnã, por exemplo, é um deles. Em 25 anos tornou-se o segundo produtor mundial e deve crescer ainda mais.
De acordo com Braga, um dos caminhos é buscar apoio da Organização Internacional do Café (OIC), constituída por 72 países, entre produtores e consumidores. “Hoje a OIC não tem ações de mercado como teve no passado, mas é um foro de discussão onde se procura harmonizar políticas capazes de evitar que surjam com a freqüência que surgiram no passado esses desequilíbrios entre produção e consumo”, afirma.
Outra iniciativa é a divulgação do café brasileiro no exterior. O Conselho Deliberativo de Política do Café (CDPC) reserva uma verba do Funcafé (fundo especial para a política cafeeira) para o marketing. Ações como degustações em pontos de venda e feiras do setor são cada vez mais comuns – especialmente no segmento de cafés especiais. “Nesse segmento, temos participado principalmente de feiras na França, Rússia, Japão, Estados Unidos”, diz Braga.
Fonte: http://www.anba.com.br/especial.php?id=338 – Acessado em 26 de janeiro 2006