Em ano de baixa no ciclo produtivo, estima-se recuo entre 7,5% e 15% na colheita total do grão. Variedade conilon deve se recuperar e liberação de importações ainda segue indefinida.
Variedade arábica deve ser a mais impactada pelo desempenho negativo, queda de até 19% na colheita
Variedade arábica deve ser a mais impactada pelo desempenho negativo, queda de até 19% na colheita
Foto: Divulgação
São Paulo – Desde que o País confirmou a perspectiva de queda de até 15% na safra de café, indicadores do grão intensificaram alta e consolidaram novo patamar de preço. A projeção veio além do esperado pelo mercado e só o câmbio poderá barrar o movimento no curto prazo.
As duas variedades da commodity estão cotadas acima de R$ 500 por saca de 60 quilos no Brasil. Na última sexta-feira (20), o grão arábica fechou o Indicador Cepea/Esalq a R$ 525,37 por saca, 10,55% superior ao valor do mesmo período no ano passado e 8,17% maior na variação mensal.
“O fator mais importante é que o mercado internacional já está precificando a expectativa de safra menor no Brasil. Havia um cenário projetado de estoques apertados, mas os números ainda surpreenderam a cadeia”, diz o analista da consultoria Safras & Mercado, Gil Barabach. Em função do ciclo de baixa produtividade estabelecido neste ano, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou colheita entre 43,65 e 47,51 milhões de sacas beneficiadas, somadas as espécies arábica e conilon (robusta), contra as 51,37 milhões de sacas obtidas em 2016. Na melhor das hipóteses, a diminuição é de 7,5%. O levantamento, divulgado na semana passada, foi o primeiro do ano para a cultura.
Para o especialista, as cotações praticadas após o anúncio dessas informações configuram a entrada de um novo patamar, que, a princípio, só é plausível de alteração mediante alguma mudança no dólar – visto que a fraqueza na moeda norte-americana favorece a subida dos índices. Nem a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fortaleceu a moeda, como era esperado por uma parcela do mercado.
Arábica
Para toda a região do sul de Minas Gerais e Mogiana, em São Paulo, tradicional pelo cultivo da variedade arábica, a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé) – maior exportadora do grão no mundo – fez um levantamento que estima redução de até 17% na produção deste ano para a base de 20 milhões de sacas colhidas na temporada passada.
Ao DCI, o presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa, conta que em 2016 a unidade produziu 6,2 milhões de sacas e, para este ano, a expectativa é diminuição de 14%. “Fomos bem remunerados pelos resultados do último ciclo, agora vamos ver como será o desempenho de preços daqui para a frente”, diz. Em abril será realizada uma nova avaliação para maturar a prévia anual, ao passo que a colheita se inicia em meados de junho.
No âmbito nacional, a Conab espera queda entre 12,7% e 19,3% para a variedade que representa 80% da cultura.
Em geral, as cotações da commodity seguem o mercado externo mas, no Brasil, o Ministério da Agricultura intercederá sobre os preços do arábica através de leilões de venda de estoques durante a entressafra. A primeira operação está marcada para a próxima quinta-feira (26). Estão previstas ofertas quinzenais até março.
O Conselho Interministerial de Estoques Públicos (Ciep) autorizou a Conab a comercializar até 43,2 mil toneladas do produto proveniente do ciclo de 2009/2010.
Conilon
Por ser mais rústico e tolerante a pragas, o café do tipo conilon tende a se recuperar das fortes perdas ocorridas no ciclo anterior em razão da seca. Nesta safra, a produtividade potencial pode variar de 21,33 a 23,78 sacas por hectare, saltos de 13,4% a 26,5%. Pelo mesmo motivo, a produção deve chegar ao máximo de 9,63 milhões de sacas, aumento de 20,5%. Ainda que diante de uma melhora no quadro, a oferta é restrita e os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) alertam para a postura retraída dos vendedores. Assim, os preços da variedade têm se sustentado acima dos R$ 500 por saca.
A baixa disponibilidade do grão motivou a indústria nacional a solicitar a liberação de importações da matéria-prima vinda do Vietnã. A Conab efetuou um levantamento de estoques para embasar a decisão do Ministério da Agricultura sobre a compra externa e concluiu que há 2,14 milhões de sacas nas reservas.
A cadeia produtiva discorda deste número. “Muitos agricultores têm café estocado e isso não foi levado em conta no levantamento”, ponderou o presidente da Comissão Nacional de Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, por meio de nota.
“A partir de abril começa a colheita do conilon e a preocupação do setor é que os embarques coincidam com a entrada da safra nacional”, comenta o especialista da Safras & Mercado.
A última reunião para definir a pauta exportadora aconteceu semana passada e terminou sem decisões.
Fonte : DCI