Consórcio que inclui brasileiros sequencia o genoma referência do café arábica
Globo Rural
Um consórcio de cientistas de mais de dez países, entre eles o Brasil, fez o sequenciamento do genoma de referência do café arábica, conseguindo selecionar genes possivelmente responsáveis pela resistência da planta à ferrugem e a outras doenças, assim com alguns relacionados ao aroma da variedade do grão. O resultado da pesquisa foi publicado em um artigo na revista Nature Genetics na segunda-feira (15/4) e divulgado pela agência Fapesp.
A espécie Coffea arabica é a mais consumida entre as cerca de 130 existentes. Ela é o resultado da fusão de duas outras espécies: Coffea canephora (conhecido no Brasil como café conilon ou robusta) e Coffea eugenioides.
“Com o conhecimento do genoma é possível obter informações que permitem ir para dois lados: o do desenvolvimento de variedades por meio de direcionamento de cruzamentos, ou seja, como uma referência para nos guiar em futuros cruzamentos que produzam novas variedades; e o das intervenções mais diretas, como modificar um gene especificamente”, resume Douglas Domingues, pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e um dos autores do trabalho, desenvolvido quando ainda atuava na Universidade Estadual Paulista, campus de Rio Claro.
O grupo conseguiu encontrar conjuntos de genes que estão relacionados à resistência a doenças. Mas o trabalho ainda está longe de terminar, uma vez que esses genes têm de ser testados. “Serão necessárias mais pesquisas para identificar e criar variedades resistentes a estas e outras pragas e doenças do café”, atesta Maud Lepelley, gerente do grupo de Genética de Plantas e Química no Nestlé Institute of Agricultural Sciences.
Em paralelo, o grupo de Domingues conseguiu observar algumas ocorrências relacionadas à expressão de genes ligados à qualidade do café, sobretudo o aroma. “Observamos, em uma variedade asiática do arábica, que os genes ligados a aroma e sabor são mais expressos nos frutos pelo subgenoma do C. eugenioides do que pelo outro progenitor. Ou seja: um dos genomas contribui mais que o outro para as características sensoriais da bebida. O que nos perguntamos agora é: será que isso se aplica a todas as variedades que sequenciamos?”, diz Domingues.
Um spin-off do trabalho já está em curso, de acordo com Domingues. “Acabei de iniciar outro projeto, que é um desdobramento deste primeiro esforço em parceria com os pesquisadores franceses que fizeram parte desse consórcio. Vamos analisar agora as espécies não cultivadas de café. Queremos conhecer o genoma de espécies não cultivadas de café, mas que contenham características relevantes num cenário de mudanças climáticas. Estamos nos concentrando no sequenciamento de espécies que são mais resilientes climaticamente. Saber que genes elas têm que o café arábica não tem e as faz resistentes ao clima. Eventualmente, poderíamos introduzir ou modificar genes por meio de edição gênica para tornar as espécies cultivadas mais resistentes.”
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