TUDO CAMPO
20/08/2010
Café antigo é resgatado
Projeto incentiva cultivo comercial de um tipo tradicional muito apreciado
Os turistas que visitam o Município de Alto Paraíso (a 250 quilômetros de Brasília), porta de entrada para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no nordeste goiano, degustam, nas pousadas e restaurantes da região, um café que provavelmente foi levado para lá por tropas de Bandeirantes, ainda no início do século XIX. De grande aceitação pelos consumidores, o café tradicional de Alto Paraíso de Goiás é agora objeto de estudo de projeto do Consórcio Pesquisa Café liderado pela Embrapa Café.
O projeto, coordenado pelos pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Paulo César de Lima e Waldênia de Melo Moura, visa a implantação da cafeicultura orgânica e agroecológica para agricultores familiares da região, possibilitou o resgate do café que é plantado em quintais de várias propriedades e tradicionalmente consumido pelas famílias de agricultores.
Paulo conta que desde 2006 visitava a região e conhecia o café, mas só em 2008 começou o trabalho com os agricultores, despertando neles a importância econômica do produto, que pode ser comercializado tanto na própria região quanto em outros mercados, tornando-se fonte de renda para as famílias e melhorando a qualidade de vida da população.
ALTO PARAÍSO
O café existente na região, segundo seus próprios moradores, está plantado há vários anos nos leitos dos rios que formavam as rotas das tropas dos Bandeirantes. Der acordo com Paulo Lima, a principal característica do café de Alto Paraíso é a qualidade da bebida, além da vantagem de ser adaptado à região.
Segundo o pesquisador, foram testados oito tipos de café, do tipo arábica, cultivados nos quintais de moradores daquela região. Lima explica que estão sendo testados naquela região 23 outros cafés. Os pesquisadores querem saber se o que confere a qualidade à bebida é o clima da região ou a genética do café.
Além disso, estão reproduzindo em viveiro os cafés cultivados na região para que os agricultores familiares possam aumentar seus plantios domésticos. Lima diz que como os pés de café são cultivados em meio aos pomares dos quintais, não dá para saber a produtividade deles, mas pela carga das plantas, ele avalia que deve se assemelhar aos cafés comerciais do mesmo tipo.
Com o resgate desse café, os agricultores poderão usar novamente suas propriedades para a produção agrícola comercial, atividade realizada antes da chegada do turismo na região com a inauguração de Brasília e a abertura do Parque da Chapada dos Veadeiros.
Alto Paraíso possui cem agricultores registrados em seu sindicato rural, dos quais 70 são familiares. A maioria produz alimentos apenas para consumo e utiliza suas propriedades e os recursos delas extraídos (plantas aromáticas e medicinais e pedras semipreciosas) no comércio propiciado pelo turismo.
Muitos interessados
As mudas de café estão sendo produzidas pelos próprios agricultores, sob a orientação dos pesquisadores, em viveiros instalados em áreas de escolas rurais de três comunidades da região – Sertão, Fraternidade e Vereda. Além disso, a escola de Sertão incluiu no conteúdo teórico da disciplina de ciências as práticas realizadas durante a execução do projeto, incentivando o interesse dos alunos pela cafeicultura orgânica e agroecológica, bem como pelos princípios da produção sustentável, preservação ambiental e conservação de sementes.
Segundo Paulo Lima, 20 famílias participam efetivamente do projeto, cuidando do viveiro, e muitos já estão cultivando as novas plantas desde o início deste ano. Mas há outros produtores familiares interessados em aumentar seus plantios assim que mais mudas estiverem prontas. O pesquisador conta que há interesse também por parte de quilombolas do Município de Cavalcante (GO) em cultivar esse café e, inclusive, empresas já procuraram os pesquisadores da Epamig e demonstraram interesse em cultivar o café de Alto Paraíso.
Os novos plantios, de acordo com Paulo Lima, estão sendo cultivados nos mesmos moldes tradicionais da região – os pés são plantados em meio aos pomares dos quintais. Ele avalia que, devido à qualidade da bebida, esse café deverá ser comercializado já processado (pelo menos torrado), para agregar valor ao produto, e deverá ser comercializado para nichos de mercado quepagam pela qualidade da bebida.
O projeto Desenvolvimento de Tecnologias de Produção de Café Orgânico e Agroecológico na Chapada dos Veadeiros começou em 2008, com duração de dois anos, mas já foi renovado por mais dois. Desenvolvido sob a liderança da Embrapa Café e coordenação dos pesquisadores da Epamig, o projetoconta com apoio da Prefeitura de Alto Paraíso de Goiás e da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás.