Porto Alegre, 28 de maio de 2015 – Acompanhe abaixo texto do analista de
SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, avaliando o comportamento do mercado
internacional de café nos últimos dias. Ele fala das recentes quedas, com
perda de suportes na Bolsa de Nova York para o arábica. Veja o texto:
“ICE INTERROMPE LATERALIDADE E AFUNDA
O café acabou despencando e, nessa queda, perdeu importantes suportes na
ICE Futures em Nova York. E isso pode alimentar novas baixas, pois expõe o
momento de fragilidade técnica do mercado. É verdade que a alta do dólar
frente a outras dividas é um forte fator de pressão sobre as cotações do < br />café no mercado externo. Porém, a firmeza da moeda norte-americana apenas dá
mais intensidade ao movimento negativo que teve iníco a partir da
consolidação de cenário fundamental mais fraco. E isso fez o café abandonar
o traçado lateral, perder o suporte de 130 cents e atingir mínima em 123,55
centavos de dólar por libra-peso na última quarta-feira (27).
Os novos números de safra vão desenhando um cenário produtivo mundial
bem melhor do que o imaginado inicialmente, pressionando as cotações da
bebida. Além do Brasil, também se esperava uma safra maior em 2015 na
Colômbia, Vietnã, Indonésia, India e Guatemala. Na semana passada, o mundo
do café foi \’surpreendido\’ pela previsão da Vo lcafé, que indicou
produção global de 154,3 milhões e consumo de 153,2 milhões de sacas de 60
kg. Enfim, projeta superávit 1,10 milhão de sacas para o próximo ciclo.
Esses novos números marcam uma mudança no sentimento global, com
operadores deixando um pouco de lado o medo da falta e apostando em uma pequena
sobra. Porém, esses agentes constroem essa mudança ainda em um terreno
frágil. Não dá para esquecer que os estoques brasileiros são baixos.
Pesquisa recente da Reuters junto a exportadores indicou estoques ao final de
junho entre 4,5 milhões e 11,2 milhões de sacas de 60 kg, sendo que a maioria
das estimativas ficou entre 5 milhões a 8 milhões de sacas. A SAFRAS &
Mercado, como divulgado duas se manas atrás, trabalha com estoques de passagem
para o próximo ciclo comercial de 5,21 milhões de sacas, o que corresponde a
uma queda de 53,3% frente aos 11,16 milhões de sacas do início da temporada
2014/15.
Os baixos estoques servem para aliviar a pressão negativa e para que os
operadores sigam alertas ao sinais climáticos. Contudo, a tendência
fundamental é de baixa, sendo que o avanço da safra brasileira pode
intensificar esse movimento. Fora o gargalo da chegada da safra 2015, outro
ponto de atrito no mercado virá com as floradas e os primeiros sinais da safra
brasileira 2016. Uma boa florada é promessa de grande produção, o que ajuda a
sedimentar o cenário de avanço da produção acima do consumo e da retomada
dos e stoques globais.
O clima adverso pode quebrar essa lógica negativa, mesmo que
momentaneamente. Excesso de chuva agora na colheita ou o avanço de uma massa de
ar polar mais intensa sobre as áreas de café do Brasil pode tirar o comprador
da sua zona de conforto e trazer volatilidade ao mercado.
Prévia do USDA sinaliza incremento na produção mundial
As projeções dos adidos do USDA servem como uma prévia para o relatório
semestral, que será divulgado no próximo dia 19 de junho. E os números
estão acima do esperado, criando uma expectativa positiva em relação à
produção mundial para o ciclo 15/16. No Vietnã, por exemplo, a projeção do
adido é que a produç&atil de;o de café alcance 28,7 milhões de sacas de 60 kg,
ficando 1,72 milhão de sacas acima de 2014, que foi revisada para baixo a 27,04
milhões de sacas. O clima favorável ao desenvolvimento das lavouras e as
áreas novas em produção, especialmente nas provinciais de Dong e Dak Nong,
garantem essa performance produtiva. E o avanço na produção eleva o saldo
exportável do país para 27,04 milhões de sacas. Alta de 2,3% em relação aos
embarques da temporada 14/15.
A Colômbia deve produzir 12,7 milhões de sacas em 15/16, um incremento de
200 mil sacas em relação a temporada anterior, quando produziu 12,5 milhões
de sacas. A Colômbia ainda colhe os frutos do programa de renovação dos
cafezais, que le vou a redução da idade media dos cafeeiros de 15 para 7 anos.
Além, disso, as novas lavouras são pautadas em variedades mais resistentes à
ferrugem, o que elevou a produtividade média do país de 10 para 15 sacas por
hectare em cinco anos.
A partir dessas indicações iniciais dos adidos do USDA, simulamos um
cenário de produção. Primeiro, o departamento de agricultura do EUA deve
corrigir para baixo a produção na temporada 14/15. A estimativa de safra mais
baixa do arábica de algumas origens importantes da América Central e na
África balizam essa perspectiva. Na contramão, cresce a expectativa de aumento
na produção de arábica em 15/16. A safra de robusta deve se manter,
praticamente, estável. Com base nos números parciais dos adidos do USDA, a
produção mundial de café pode chegar a 152 milhões de sacas, sendo 87
milhões de arábica e 65 milhões de sacas de robusta. Confirmado esse
cenário, a produção global cresceria 3,4% em relação as 147 milhões de
sacas de 14/15 (revisadas).
Arbitragem ICE/LIFFE cai para 51 cents
Tanto o arábica como o robusta desmancharam no mercado internacional. Só
que a queda na ICE foi mais expressiva. Enquanto o arábica caiu 8,5%, o robusta
recuou 6,2% na semana encerrada em 27 de maio. Com isso, a arbitragem ICE/LIFFE
voltou a cair a 51 cents/lb para o vencimento julho/15 e a se afastar da
média dos últimos 12 meses (87,42 cents). Segue também longe da banda
inferior do \’desvio-padrão da média\’ em 66,98 cents/lb.
Com as perdas da última semana, o café intensificou a desvalorização
externa no mês de maio. O arábica no terminal nova-iorquino acumula perdas de
9,4%, enquanto para o robusta em Londres a baixa é de 9,7%.”
Edição: Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS