Indústrias devem ter queda de 14% no volume de vendas neste ano; redução maior ocorre em áreas de grãos
DA REDAÇÃO
As
entregas de adubos e fertilizantes pelas indústrias ao mercado interno poderiam
estar por volta de 25 milhões a 26 milhões de toneladas neste ano não fosse a
forte crise que afetou o setor agrícola. Os dados para 2005, no entanto, não são
animadores e indicam apenas 19,5 milhões de toneladas, volume 14% inferior ao do
ano passado e que retorna aos patamares de 2002.
Essa queda só não foi
maior porque está havendo uma mudança geográfica do consumo desses insumos.
Enquanto os Estados produtores de grãos mostram forte retração, os voltados para
outras culturas tiveram aumento da demanda.
Um caso típico é o do
Espírito Santo, onde o consumo é 15,2% superior ao de 2004. O Estado é o segundo
maior produtor de café, produto
que mostra recuperação nos preços.
São Paulo também vai na contramão dos
demais Estados. Pouco dependente da produção de grãos, o Estado líder em
cítricos e cana-de-açúcar deve consumir 3,1% a mais de adubos e fertilizantes,
afirmou Eduardo Daher, diretor da Anda (Associação Nacional para Difusão de
Adubos).
Daher diz que os Estados que destinam parte da produção para
cana-de-açúcar, café, cítricos e
celulose (denominado por ele de quatro “cês”) estão com aumento de demanda
desses insumos.
Já os líderes em grãos, como Mato Grosso, Goiás e Mato
Grosso do Sul, estão com quedas de até 33%. O recuo é tão grande que o Paraná,
um dos mais tradicionais produtores do país, já consome menos adubo do que São
Paulo.
Venda e receita menores
Se as indústrias desse setor
amargam recuo de 14% nas vendas de produtos, a queda do faturamento será ainda
maior. A previsão é um faturamento líquido de R$ 12 bilhões, com decréscimo de
27% em relação a 2004.
George Wagner Bonifácio de Souza, presidente da
Ama (Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil), diz que “é difícil
contabilizar custos externos no mercado nacional”.
Além de faturamento
menor, o setor enfrenta, ainda, a elevação dos débitos dos produtores, que
chegou a US$ 2 bilhões. Segundo Souza, ainda resta pelo menos um terço desse
valor para ser equacionado. O aperto de renda dos produtores dificultou a
distribuição de crédito por parte das indústrias. O crédito foi liberado com
maior cautela e olho no cadastro dos clientes.
Com vendas mais intensas
nos meses de setembro a novembro, e pagamentos estipulados para 30 a 60 dias, as
indústrias de adubos começam a negociar agora as dívidas dos agricultores. Os
executivos do setor ainda não têm números sobre a inadimplência, “que deve ter
aumentado”.
Os motivos da queda na venda de adubos neste ano são
conhecidos: seca, ausência de crédito, liberação de dinheiro fora de hora, real
fortalecido e recuo nos preços das commodities tanto no mercado interno como no
externo.
O pior é que grande parte desses fatores pode continuar no
próximo ano, segundo Souza. “Necessitamos urgentemente de seguro rural, mais
crédito -e a custos compatíveis-, investimentos em infra-estrutura e isonomia em
ICMS”, segundo ele.
Para Torivaldo Antônio Marzolla Dilho,
vice-presidente do conselho de administração da Anda, o cenário para 2006 é
bastante preocupante e “com muita sorte empataremos com
2005”.