Modelo do café adensado, difundido pioneiramente pelo Iapar a partir da década de 90, para incentivar a retomada da cultura, já representa 55% da área cultivada no estado
Londrina – O renascimento do café no Paraná é fruto de um programa iniciado na década de 90 pelo governo do estado. O objetivo do Plano Integrado para a Revitalização da Cafeicultura era vencer o trauma deixado pela geada de 1975, que aniquilou as lavouras da então principal cultura paranaense. Daquele ano para o seguinte, a produção caiu de 11 milhões de toneladas (52% do volume brasileiro) para zero.
Enquanto arrancava as árvores queimadas pelo gelo, a maioria dos cafeicultores escolheu entre duas opções: vender a terra e migrar para as cidades ou substituir a cultura por lavouras mecanizadas (soja, milho e trigo) ou pastagens. Poucos –geralmente os pequenos, sem alternativas– decidiram insistir no café.
Quase duas décadas depois, o desafio era convencer os produtores de que a cultura poderia voltar a ser viável e rentável. Entrou em cena o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), sediado em Londrina e com experiência na cultura desde sua criação, em 1972. A solução apresentada foi um novo modelo produtivo conhecido como café adensado.
O sistema reduziu o espaçamento entre as ruas (de 4 para até 1,5 metro) e entre plantas (de 1,5 metro para até 0,5 metro). Para isso, foram desenvolvidas variedades mais baixas (com média de 2 metros de altura, contra até 3,5 metros das plantadas anteriormente) e resistentes à ferrugem. Também foram criadas variedades precoces e tardias, que possibilitam o escalonamento da colheita. Os técnicos passaram a recomendar a poda das plantas após a ocorrência de geadas. O plantio em áreas baixas, antes uma prática, passou a ser desaconselhado.
Hoje, 55% da área cultivada no estado – 60 mil em 108,2 mil hectares – já segue o modelo de adensamento. O resultado foi um ganho de 200% na produtividade das lavouras paranaenses. Em 1992, quando o programa começou, colhia-se, em média, sete sacas de 60 quilos em um hectare. Hoje, a produção chega a 22 sacas. “A área plantada atualmente é um terço da que tínhamos no final da década de 80 e produzimos a mesma coisa”, ilustra Paulo Sérgio Franzini, coordenador de café no Departamento de Economia Rural (Deral), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab).
O sucesso do café adensado tem uma explicação: foi desenvolvido sob medida para as pequenas propriedades. A concentração de até 10 mil plantas por hectare impede a entrada de tratores e colheitadeiras nas áreas, favorecendo o uso de mão-de-obra. Antes dessa técnica, os pequenos imitavam os grandes, sem necessidade, desperdiçando terreno.
Segundo o agrônomo Armando Androciolli Filho, coordenador da equipe que pesquisa café no Iapar, o sistema adensado também enfrenta melhor a geada. Com a baixa população por hectares do sistema convencional, a recuperação produtiva de uma lavoura levava até quatro anos. Na forte geada de 2000, a produção das lavouras paranaenses voltou ao normal em metade desse período.
Valmir Denardin – Gazeta do Povo/Gazeta do Povo Online – Caderno Caminhos do Campo 23/05/2006