Cade aprova fusão entre ALL e Rumo e concorrentes questionam restrições

O Estado de S. Paulo
12/02/15


Aprovação do negócio cria gigante de logística integrada, unindo ferrovia e porto; operadores logísticos e produtores de soja ficaram frustrados com a decisão


O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou nesta quarta-feira, por unanimidade, a fusão entre a América Latina Logística (ALL) com a Rumo, do grupo Cosan, mas impôs algumas restrições, consideradas “brandas” por entidades e empresas que questionaram a operação. A aprovação do negócio, que cria uma gigante de logística integrada, unindo ferrovia e porto, ocorreu três anos depois de o grupo Cosan, do empresário Rubens Ometto Silveira Mello, ter feito a primeira oferta para se tornar dono da ALL.


As restrições impostas pelo relator do processo no Cade, Gilvandro Araújo, incluem a participação mínima de 45% para os concorrentes da nova empresa nos terminais da companhia no porto de Santos, o estabelecimento de uma cota para utilização da ferrovia pela Raízen (joint venture entre Shell e Cosan) e contratos de longo prazo com os usuários da malha ferroviária da ALL.


Araújo também impôs a criação de um supervisor independente para garantir a isonomia da empresa na prestação de serviços e vetou que executivos da Cosan tenham cargo na empresa resultante da união entre ALL e Rumo. Ele ainda criticou o papel da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) como agente regulador.


Ao Estado, Araújo disse que suas críticas estão respaldadas nos argumentos das empresas que questionaram a fusão (foram 16 impugnações) e nos depoimentos da própria Rumo, que acusou a ALL de descumprimento de contrato. “As restrições foram feitas com base no que ouvimos dos impugnantes e requerentes. Demos maior transparência ao negócio”, afirmou.


Críticas. Operadores logísticos e produtores de soja ficaram frustrados com a decisão do Cade. Eles esperavam que o órgão determinasse a venda de alguns ativos. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) informou que vai analisar melhor a decisão, antes de comentar o tema. Outras empresas estudam recorrer.


A aprovação do negócio foi bem recebida pelo mercado. Nesta quarta-feira, as ações da ALL lideraram as altas do Ibovespa, com valorização de 13,84%, a R$ 5,10. “A operação é transformadora e podemos ver a nova companhia avaliada em R$ 13 bilhões (R$ 12 a ação)”, disse a equipe do Bank of America Merrill Lynch. O analista do UBS, Rodrigo Fernandes, acredita que a operação será concluída em 45 dias.


Em fevereiro do ano passado, depois de muitas idas e vindas, a Cosan formalizou oferta de incorporação das ações da ALL pela Rumo, com a combinação dos ativos das duas empresas estimada em R$ 11 bilhões à época. Hoje, o valor de mercado das duas companhias gira em torno de R$ 5 bilhões.


A primeira proposta da Cosan foi feita em fevereiro de 2012, mas as negociações foram interrompidas em agosto de 2013. No fim do mesmo ano, ALL e Rumo entraram em uma batalha judicial, na qual a Rumo questionava o não cumprimento de contrato por parte da ALL.


Com a decisão de unir os ativos, as duas companhias encerram uma extensa novela, colocando um ponto final no litígio e abrindo espaço para investir em uma companhia ferroviária, com uma malha de 12 mil quilômetros, principal escoadora de grãos da região Centro-Oeste para Santos.


Investimentos. Para colocar em marcha um investimento estimado entre R$ 7 bilhões e R$ 9 bilhões, a Cosan aguarda a aprovação da operação na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e os trâmites de incorporação de troca de ações das empresas, sob o crivo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A Rumo, nas próximas semanas, deverá abrir seu capital para incorporar as ações da ALL.


“O nosso grande desafio é acabar com o estigma de que o agronegócio brasileiro é lucrativo da porteira para dentro. Nossos planos são diminuir o custo da logística e dar eficiência à empresa. Com logística eficiente, a fronteira agrícola expande muito”, disse ao Estado Rubens Ometto.


A Cosan será o controlador da nova companhia. A Rumo e seus acionistas ficam com 36,5% – Cosan terá 27,4% e os fundos TPG e Gávea, 4,56% cada. O BNDESPar terá 7,69% do negócio. Os acionistas privados somam, juntos, 7,19%. Os fundos de pensão e o BRZ ficam com 8,17%. O restante, 40,4%, é negociado em bolsa. Cosan, TPG, Gávea e BNDES ficam no bloco de controle da ALL-Rumo.


A venda da ALL era considerada vital para sobrevivência da companhia, altamente endividada e com material rodante sucateado, segundo fontes. / COLABORARAM NIVALDO SOUZA E LUCIANA COLLET

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