16/05/2013
Além de contratos financeiros, trading para negociar produtos está nos planos do banco
Por Talita Moreira | De São Paulo
O BTG Pactual prepara uma megaestrutura para atuar na negociação de commodities, apurou o Valor. O projeto prevê, de um lado, a criação de uma trading que poderá negociar produtos. De outro, a atuação do banco na operação financeira de derivativos será reforçada.
Londres, Nova York e São Paulo serão as bases do BTG nessa área. A operação terá presença em oito países – praticamente os mesmos em que o banco tem escritório.
O BTG já reservou pelo menos US$ 300 milhões para a empreitada. Nas demonstrações financeiras do primeiro trimestre de 2013, o grupo informa que o Banco Central aprovou, em abril, a alocação desse montante na agência do banco em Cayman “com o propósito de investimento em novas companhias estabelecidas” relacionadas aos negócios de commodities.
Em São Paulo, o comando da nova área ficará a cargo de Ozeias Oliveira, e, em Londres, a área será liderada por Ricardo Leiman. Ambos são egressos da trading chinesa Noble Group. Nos últimos meses, o banco também reforçou a equipe de analistas para essa área, afirmam profissionais do mercado.
O banco já oferece a seus clientes operações com derivativos, energia e commodities agrícolas “para fins de hedge e de negociação”, como o próprio grupo define na descrição de suas frentes de atuação. O BTG tem uma mesa de produtos agrícolas considerada forte pelos concorrentes e não raramente faz contratações de pessoas na área. Parte da nova estratégia visa levar essa operação a um novo patamar.
“Eles podem fazer isso com um custo adicional relativamente baixo. Além disso, tem liquidez de sobra no mercado internacional”, afirma um executivo do setor.
Ao lado dessa operação, o BTG planeja montar uma trading de commodities, nos moldes de grupos como a japonesa Mitsubishi. Além de atuar na compra e venda de produtos, o banco poderia financiar essas operações e receber commodities como pagamento de empréstimos.
O grupo também encomendou estudos sobre o mercado de serviços de logística, segundo pessoas a par do assunto. Terminais e, principalmente, armazenagem – este último, um dos grandes gargalos do agronegócio brasileiro – seriam objeto de interesse do BTG.
O modelo não é inédito. O caso mais clássico é o do banco americano Goldman Sachs, que no início dos anos 80 comprou a centenária trading J. Aron & Company. Por meio dessa divisão, atua na operação de contratos financeiros baseados em commodities e também em negociações de produtos físicos.
Originalmente trading de metais e café, a J. Aron tornou-se uma potência no mercado de commodities e passou a ser uma fonte importante de resultados para o banco americano. Porém, há dúvidas sobre os rumos que esse negócio tomará com a implementação das novas exigências – que ainda precisam ser regulamentadas – para o setor financeiro americano. A principal delas, chamada de “regra Volcker”, proíbe alguns tipos de negociação com capital próprio dos bancos. Com isso, o Goldman Sachs poderia ser levado a separar a divisão em uma empresa à parte.
No caso do BTG, a aposta vai em linha com a estratégia de desenvolver um modelo de negócios diversificado. As áreas de atuação vão desde assessoria financeira até companhias de varejo farmacêutico. O controlador do grupo, André Esteves, frequentemente cita essa diversidade como um dos maiores trunfos da casa.