POLÍTICA
12/08/2008
Região Nordeste sentirá os piores efeitos do aumento da temperatura
A produção de alimentos no Brasil pode tomar um prejuízo de R$7,4 bilhões já em 2020 por conta dos efeitos gerados pelo aquecimento global. Em 2070, as perdas devem atingir o patamar de R$14 bilhões. As projeções fazem parte de um estudo realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) divulgado ontem.
Entre as regiões brasileiras, segundo a pesquisa, o impacto maior se concentra no Nordeste, que verá uma forte redução na área das plantações de arroz, milho, feijão, algodão e girassol. Nos nove estados nordestinos, cerca 20 milhões de pessoas serão atingidas. Na Bahia, os efeitos do aquecimento podem diminuir a produção irrigada de frutas.
Em termos nacionais, a cultura mais afetada será a soja, que pode perder até 40% na produção, o que renderia um prejuízo de R$7,6 bilhões até 2070. O cultivo de café deve mudar de endereço, deixando o Sudeste (o que deve gerar perdas de até 90% para os produtores de São Paulo e Minas Gerais) para ter sucesso no Sul.
No entanto, o estudo aponta que o aquecimento global deve não ter efeito negativo em relação ao cultivo da cana-de-açúcar. Apesar disso, o aumento da temperatura irá provocar ainda mais escassez de água em áreas críticas, prejudicando tanto o crescimento das plantas quanto a intensificação da aridez em regiões que já são naturalmente ressequidas, como a caatinga do Nordeste e do norte de Minas.
“Das culturas que nós vimos até agora, apenas a cana-de-açúcar é que sai ganhando, pelo menos até 2050. Nas outras culturas, a área plantada diminui e a produtividade diminui”, disse Hilton Silveira Pinto, agrônomo do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp e um dos coordenadores do estudo.
“No caso do oeste da Bahia, por exemplo, em que há grande produção de frutas com irrigação, a situação pode ficar crítica”, completou.
Silveira Pinto aposta que os agricultores brasileiros não vão ficar de braços cruzados diante das necessidades impostas pelas mudanças climáticas. “Para começar, todo o sistema de financiamento agrícola do Brasil já depende do zoneamento de risco climático. E em agricultura conta muito o que chamamos de exemplo do vizinho. Quem adotar essas mudanças vai ser copiado”, afirma.
O trabalho foi realizado unindo os dados do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas) sobre o aquecimento global, divulgados no início de 2007, com o Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos, do Ministério da Agricultura. A equipe analisou os nove cultivos mais representativos da produção nacional: algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão, girassol, mandioca, milho e soja. E não levou em conta os estados da Amazônia, porque eles não fazem parte do zoneamento.