Em entrevista, a diretora-executiva da BSCA Vanúsia Nogueira comenta sobre a participação brasileira na Feira de Cafés Especiais, em Houston
Inez De Podestà
O Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, quer se destacar não só na quantidade, mas também na qualidade. A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês) planeja realizar uma série de ações de promoção comercial no exterior em 2011.
Uma delas é a participação no evento da Associação de Cafés Especiais da América (SCAA, na sigla em inglês), esta em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A principal feira internacional do setor ocorre de 28 de abril a 1º de maio em Houston, Texas, nos Estados Unidos.
Vanúsia Nogueira, diretora-executiva da BSCA avalia que, nos últimos dez anos, a produção brasileira registrou um crescimento espantoso no nível de profissionalismo e de maturidade. Para ela, o setor tem trabalhado a qualidade dos produtos. Agora, falta mostrar ao mundo essa produção tão qualificada e diversificada. “Sou da opinião de que não é necessário muito dinheiro para fazer campanhas elaboradas. Precisamos de criatividade, o que temos de sobra, e de disposição para se expor mais no mercado”, afirma. Na entrevista a seguir, Vanúsia também comenta sobre a participação brasileira na Feira de Cafés Especiais, em Houston, onde o país terá um estande de 130 metros quadrados, com uma cafeteria para degustação do café de cada região produtora.
Quais são as expectativas para a Feira de Cafés Especiais em Houston?
Vanúsia Nogueira – Teremos uma excelente oportunidade de mostrar os cafés brasileiros e o Brasil, que neste momento é um país fashion. Aumentou muito a curiosidade dos consumidores, de forma geral, em torno do nosso país. Teremos condições de apresentar a qualidade dos nossos produtos e o profissionalismo com o qual temos trabalhado o agronegócio brasileiro.
O que o Brasil vai mostrar na Feira?
Vanúsia Nogueira – Principalmente, profissionalismo e sustentabilidade. Queremos mostrar ao mundo que o agronegócio no Brasil é tratado de forma muito séria e rigorosa, ao contrário do que os nossos concorrentes gostam de apregoar para mundo. Cuidamos do nosso meio ambiente e temos uma preocupação em respeitar o lado social. Nunca perdemos de vista obviamente a sustentabilidade econômica. Apresentaremos ao mundo todo universo de cafés que temos no Brasil. Somos o maior produtor, temos grande variedade e tipos diferentes de cafés dentro das diversas regiões produtoras do Brasil. Vamos mostrar nossas origens, a história dessas regiões, com as diferenças desse produto em cada região.
Quais as oportunidades de negócios para os cafés do Brasil no evento?
Vanúsia Nogueira – É um evento que pode abrir muitas portas para potenciais negócios no decorrer da nossa safra que se inicia exatamente no final do mês de abril. A nossa expectativa é gerar contatos e oportunidades de vindas de potenciais compradores para o Brasil durante o período de safra, para aí sim, fecharmos negócios. Os estrangeiros vêm no auge da nossa safra, entre maio e julho, e gostam de acompanhar o processo de colheita e preparo dos cafés. Em seguida, começam a fechar os negócios já sabendo exatamente o produto que terão nas mãos.
Quais são as mudanças que ocorreram desde 2000, quando o Brasil foi país-tema na Feira de Cafés Especiais, em São Francisco?
Vanúsia Nogueira – Nesses últimos dez anos, vejo um crescimento impressionante da produção brasileira, no nível de profissionalismo e de maturidade, na consciência do Brasil para a questão da diferenciação, em trabalhar efetivamente a qualidade dos produtos e mostrar isso ao mundo. Antes, o Brasil era visto como um produtor de quantidade, de commodity e não de um produto diferenciado. A partir da última década, desenvolvemos uma série de trabalhos estratégicos que mostraram ao mundo que temos produtos tão bons quanto qualquer outra região produtora do melhor café do mundo. Hoje, o mundo começa efetivamente a conhecer onde estão esses cafés, quais são e como utilizar esses produtos diferenciados.
Como tem sido trabalhada a vocação do Brasil para os cafés especiais?
Vanúsia Nogueira – Este é um trabalho que está apenas começando principalmente com os concursos de qualidade no Brasil. Descobrimos quais são as microrregiões produtoras dessas pérolas preciosas. Nossa vocação está exatamente na diferenciação dos nossos produtos, na segmentação e no reposicionamento competitivo do Brasil. No mercado interno, identificamos onde estão esses diamantes a serem colhidos. No exterior, encontramos quais são os segmentes de consumidores capazes de saborear esse produto especial brasileiro.
O Brasil precisa avançar em marketing, ser mais agressivo?
Vanúsia Nogueira – O Brasil tem um caminho muito longo a percorrer em questões de marketing, de demonstração de um formato mais explicito do que aquilo que nós temos. Culturalmente, o brasileiro sabe trabalhar muito bem, mas não sabe fazer a propaganda daquilo que produz. Sou da opinião de que não é necessário muito dinheiro para fazer campanhas elaboradas. Precisamos de criatividade, o que temos de sobra, e de disposição para se expor mais no mercado.