Brasil, terra fértil para agrotóxicos perigosos

 06/04/2015 
 
País já superou os EUA como o maior importador mundial de herbicidas, inseticidas e fungicidas para a agricultura, mas compra muitos produtos proibidos no Primeiro Mundo


Os fazendeiros do Brasil se tornaram os maiores exportadores mundiais de açúcar, suco de laranja, café, carnes e soja. Também conseguiram uma distinção nada boa: em 2012, o Brasil superou os EUA como maior importador de agrotóxicos. Esse rápido crescimento fez do país um mercado atraente para agrotóxicos proibidos ou que tiveram a produção suspensa em países mais ricos, por riscos à saúde e ao meio ambiente. Pelo menos quatro grandes fabricantes de defensivos agrícolas — a americana FMC Corp, a dinamarquesa Cheminova A/S, a alemã Helm AG e a gigante suíça do agronegócio Syngenta AG — vendem em solo brasileiro produtos banidos em seus mercados domésticos, conforme revelou uma análise de agrotóxicos registrados. Entre as substâncias amplamente vendidas no Brasil estão a paraquat, rotulada como “altamente tóxica” por reguladores dos EUA.


Tanto a Syngenta como a Helm estão autorizadas a vender o produto no mercado brasileiro. As próprias agências reguladoras do Brasil alertam que o governo não foi capaz de garantir o uso seguro de agrotóxicos, como são conhecidos os herbicidas, inseticidas e fungicidas. Em 2013, um avião pulverizador lançou inseticida sobre uma escola em Goiás. O incidente, que causou vômitos e tontura em alunos e professores e levou mais de 30 pessoas ao hospital, ainda está sendo investigado. “Não conseguimos acompanhar…”, admite Ana Maria Vekic, chefe de toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão federal encarregado de avaliar os riscos dos agrotóxicos à saúde.


“Não temos o pessoal ou os recursos para o volume e a variedade de produtos que os fazendeiros querem usar”, conta. FMC, Cheminova e Syngenta disseram que seus produtos são seguros, se usados adequadamente. A proibição em um país não significa necessariamente que um agrotóxico deveria ser proibido em toda parte, argumentam, porque cada mercado tem necessidades diferentes para suas várias colheitas, pestes, doenças e climas. A Helm, de Hamburgo, não respondeu aos pedidos de comentário. “Não dá para comparar um país temperado”, explica Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). “Temos mais pragas, mais insetos e mais safras.” Especialistas em saúde pública rejeitam a justificativa.


“Não importa se as safras e os solos no Brasil são diferentes…”, afirma Victor Pelaez, engenheiro de alimentos e economista da Universidade Federal do Paraná. “As pessoas, a saúde do ser humano, são iguais no mundo todo. Veneno em um lugar é veneno em todos, no Brasil também”, acrescenta. Avaliações das agências reguladoras mostram que grande parte dos alimentos cultivados e vendidos no Brasil viola as regulamentações nacionais. No ano passado, a Anvisa finalizou sua análise mais recente de resíduos de agrotóxicos em alimentos de todo o país. De 1.665 amostras coletadas, de arroz a cenoura, maçãs e pimentões, 29% apresentavam resíduos que excediam os níveis permitidos ou continham agrotóxicos sem aprovação. Reuters

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