As receitas que ficam nas mãos de produtores, das indústrias e até dos exportadores brasileiros, no entanto, encurtam.
Agricultores colhem café robusta em São Gabriel da Palha, no Espírito Santo
Exportações de torrado e moído, produto de maior valor agregado, cai, mas importações sobem.
O Brasil reafirma neste ano a liderança mundial na produção de café. A safra renderá 58 milhões de sacas, um volume recorde.
As receitas que ficam nas mãos de produtores, das indústrias e até dos exportadores brasileiros, no entanto, encurtam.
O café tem produção e demanda mundiais crescentes, mas as receitas ficam cada vez mais na pós-industrialização e menos na produção inicial.
E o Brasil, líder mundial nas exportações de grãos, não tem presença na oferta externa de café industrializado, produto que gera valor agregado e está reservado aos grandes grupos.
As exigências sobre os produtores crescem cada vez mais, principalmente as ligadas à sustentabilidade e à qualidade do produto, o que eleva custos.
Essa qualidade, porém, rende mais na ponta do consumo do que no valor da saca. O Brasil avança anualmente na quantidade de café considerado diferenciado no mercado.
Neste ano, os dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) indicam que o país colocou 10,1 milhões de sacas de café no mercado externo.
Desse volume, 18% foram de cafés diferenciados, que representaram apenas 21% das receitas totais obtidas no período.
Se os cafés diferenciados rendem menos do que poderiam, as receitas com exportação de café torrado e moído decepcionam ainda mais. Ano após ano o país vem registrando queda neste segmento.
Nos quatro primeiros meses deste ano, o Brasil exportou o correspondente a US$ 4,24 milhões de café torrado e moído, mas importou US$ 18,81 milhões no mesmo período.
O mercado externo já está ocupado por grandes empresas, muitas delas atuando também no mercado interno brasileiro. A manutenção do “status quo” é conveniente para muitas.
O Brasil é atraente para as gigantes do setor não só porque aqui elas se abastecem de matéria-prima, mas também estão de olho no segundo maior mercado consumidor do mundo.
A produção brasileira de café será recorde porque as lavouras passaram pela chamada bienalidade positiva. Os cafeeiros produzem muito em um ano e perdem força no seguinte.
A produção deste ano deverá ser 29% superior à de 2017. Quando comparada à de 2016, período em que houve outra bienalidade positiva, o aumento é 14% (Folha de S.Paulo, 18/5/18)