São Paulo, 24 de Novembro de 2005 – Especialistas alertam as empresas sobre o risco de não incluir a China em planos estratégicos. O Brasil precisa se apressar se não quiser perder mais um bonde da história, desta vez, o bonde chinês. Na avaliação de empresários e especialistas, tanto o governo quanto as indústrias brasileiras precisam identificar as áreas afins e buscar as parcerias possíveis. O secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China, Renato Amorim, diz que “o maior risco para as empresas de todo o mundo é não incluir a China em seu planejamento estratégico, já que a ascensão econômica daquele país não é um fenômeno passageiro e está provocando um vasto reordenamento produtivo global”.
Para o embaixador Sérgio Amaral, que foi um dos participantes do seminário “China: Ambiente de Negócios e Oportunidades para o Comércio e Investimentos”, promovido pelo escritório Felsberg e Associados, não se pode deixar de reconhecer que a China é um mercado difícil, desconhecido, mas são muitos os espaços a serem ocupados. “Há oportunidade na agroindústria, etanol, café, produtos que os chineses precisarão de fato. Não se trata de uma questão ocasional, é estratégica e as decisões precisam ser tomadas já.”
Amaral, que foi ministro do Desenvolvimento do governo Fernando Henrique Cardoso, citou como exemplo uma negociação para o que poderia ser, no futuro, uma rede de cafés brasileira naquele país, que não foi avante “porque houve hesitação”. Agora, Nestlé e Starbucks avançam na China.
As oportunidades, mais do que as ameaças, foram também destacadas pelo cônsul do Brasil em Xangai, João Mendonça de Lima, para quem há possibilidade para a exportação de algodão, arroz, bauxita (alumínio), açúcar, cobre e alimentos processados. Ele lembrou que, de 1978 a 2004 o consumo interno chinês cresceu, em média, 19,7% ao ano.
“Hoje ainda é pequeno, cerca de 10% do consumo dos Estados Unidos, mas em dez anos pode chegar a 40%”, disse o embaixador, com ênfase na necessidade de se explorar as parcerias, a exemplo do que vem sendo feito pelas brasileiras Weg (máquinas) , Embraco (compressores) e Embraer (avião).
“O mais interessante na China são as empresas estatais abertas ao capital estrangeiro privado, porque têm o apoio do governo, com acesso à alta tecnologia e financiamento barato”, disse. Para Renato Amorim, o comércio intra-indústria Brasil-China deve acontecer principalmente nos setores de máquinas, ferramentas e aparelhos mecânicos.
Competitividade ameaçada
Ao mesmo tempo em que se discute as possibilidades de parceria, o Brasil não deve desconsiderar que a China é, sim, uma ameaça ao País.
“O maior problema não é a concorrência no mercado interno, mas sim nos terceiros mercados. Temos de nos preocupar com os desvios de comércio que serão resultantes do fator China”, disse Amaral. “É preciso destacar que a China tem uma estratégia clara do governo e do setor industrial para o mercado externo e expansão interna. O Brasil, não”.
O embaixador destaca também a importância de se levar em consideração o “fator China” nas negociações multilaterais, sobretudo na Organização Mundial do Comércio (OMC).
“A China tem hoje condições de competitividade que nenhum outro país tem – muitas dessas condições em setores onde o Brasil também é competitivo. Uma abertura generalizada na OMC tenderá a beneficiar mais a China em terceiros mercados em relação ao Brasil”, disse Amaral.
Para ele, caso fossem dadas igualdades de condições, um acordo regional Mercosul-UE poderia ser mais interessante para o setor industrial brasileiro do que uma abertura generalizada na OMC. “O Brasil teria com isso uma reserva de mercado na Europa”, o que, avalia, seria uma proteção ao impacto – ainda não avaliado adequadamente – às conseqüências do “fator China” na indústria nacional.
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 4)(Sandra Nascimento)