Adaptar o mercado cafeeiro brasileiro às novas tendências e exigências mundiais de consumo consciente de produtos desenvolvidos respeitando a sustentabilidade econômica, social e ambiental é um desafio que vem sendo enfrentado pela Associação Brasileira da Indústria de Café – ABIC, parceira do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café.
Nesse contexto, são diversos os programas criados e implementados pela ABIC para atender os mercados cada vez mais exigentes. Um dos mais conhecidos é o Selo de Pureza da Abic, que atesta a qualidade e a pureza do café torrado e moído. Há cerca de oito anos, a Abic agregou o quesito sustentabilidade do café a suas ações de certificação com resultados perceptíveis no setor graças ao Programa Cafés Sustentáveis do Brasil – PCS.
A inovação tecnológica tem sido parceira imprescindível nesse processo de busca pela sustentabilidade da cafeicultura nacional. Segundo o gerente geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo, as tecnologias desenvolvidas no âmbito do Consórcio Pesquisa Café contribuem direta e indiretamente com esse Programa da Abic, consolidando o Brasil como líder da produção e exportação e segundo maior consumidor mundial, como também possibilitado avanço significativo na produção de cafés sustentáveis.
Programa Cafés Sustentáveis – Para estimular a sustentabilidade na produção de café, com qualidade e certificação, a ABIC desenvolveu o Programa Cafés Sustentáveis do Brasil. A iniciativa estabelece uma série de requisitos a serem atendidos em toda a cadeia do fornecimento do café, desde o processo agrícola e beneficiamento, passando pela fase industrial de torrefação, moagem e embalagem, para conquista do selo de certificação. O Programa distingue as marcas de café torrado e torrado e moído que agregam qualidade e sustentabilidade. O selo na embalagem comprova que 60% da composição do blend, ou seja, da matéria-prima básica para cafés superiores e gourmets, são provenientes de fornecedores sustentáveis.
Os cafés diferenciados pelo selo de sustentabilidade, com rastreabilidade assegurada desde a planta até a xícara, devem atender à Normas de Qualidade Recomendável e Boas Práticas de Fabricação de Cafés Torrados em Grão e Cafés Torrados e Moídos, do Programa de Qualidade do Café – PQC, que assegura a qualidade da bebida e as características sensoriais do produto final. O PQC é também um programa da Abic. O enfoque de sustentabilidade do Programa Cafés Sustentáveis do Brasil se baseia nas “metas do milênio” e no “pacto global” (Global Compact), ambos programas da Organização das Nações Unidas – ONU.
Para o diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, o incentivo à sustentabilidade e qualidade do café em todas as fases da sua produção é uma maneira produtiva, competitiva e eficaz de melhorar as condições das pessoas que trabalham no cultivo, processamento, industrialização e comércio, assim como aumentar a oferta de cafés com melhor qualidade ao mercado consumidor, aumentando o consumo e tornando toda a cadeia mais lucrativa e sustentável.
Para conhecer mais sobre o Programa Cafés Sustentáveis do Brasil, a Embrapa Café entrevistou o diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz.
Embrapa Café: O que é o Programa Cafés Sustentáveis do Brasil e seus objetivos? Em que momento e como o Programa iniciou suas atividades?
Nathan Herszkowicz: O Programa Cafés Sustentáveis – PCS do Brasil foi criado pela ABIC em 24 de outubro de 2006 para estimular a oferta de cafés sustentáveis e oferecer às industrias oportunidade de se posicionarem nesse novo segmento de mercado no momento em que o conceito da sustentabilidade começava a se propagar. Ao mesmo tempo, o PCS representou uma forma de agregar valor ao produto em toda a cadeia produtiva, premiando os produtores de cafés sustentáveis com maior renda e maior valor de venda de sua produção. O Programa é um exemplo de como unir produtores e torrefadores em torno de um propósito comum. Os primeiros parceiros foram produtores do Cerrado Mineiro por meio de acordo da ABIC com o Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado – CACCER.
Embrapa Café: Como o Programa de Qualidade do Café tem contribuído para a identificação dos cafés sustentáveis? Quais os requisitos exigidos e sua abrangência?
Nathan Herszkowicz: O PCS permite o uso de um logotipo próprio, o qual as empresas que aderem ao programa podem usar em suas embalagens para identificar seus produtos diferenciados aos consumidores. O logotipo traz uma árvore envolvida por uma xícara de café e o nome Programa Cafés Sustentáveis do Brasil – PCS. Diferentemente de outros programas de sustentabilidade, é um nome brasileiro e que traduz rapidamente, pela sua leitura, o que o produto tem como diferencial. Os produtos certificados PCS são cafés de qualidade boa a excelente (qualidade essa que deve ser comprovada em auditorias anuais), produzidos com 60% do blend originado em fazendas com certificação nacional ou internacional de sustentabilidade. Os produtos que recebem o selo PCS devem, necessariamente, participar do Programa de Qualidade do Café – PQC, da ABIC, o que assegura a qualidade da bebida, sabor, aroma e outros atributos, além de indicar a categoria de qualidade onde o produto se enquadra.
Embrapa Café: Do ponto de vista social, ambiental e econômico, quais os requisitos mínimos de sustentabilidade exigidos pelo Programa?
Nathan Herszkowicz: Há uma lista de requisitos mínimos. Na dimensão ambiental, por exemplo, pode-se citar a proteção dos mananciais de água e da vegetação ao longo dos cursos de água. Na social, a liberdade de associação e negociação e condições dignas de trabalho. Para consultá-los na íntegra, sugiro ler a Norma de Sustentabilidade para a Cadeia do Café – Cafés Sustentáveis do Brasil, da ABIC. Para acessá-las, basta consultar http://www.abic.com.br/publique/media/PCS_normasUSTENTABILIDADE.pdf .
Embrapa Café: Como são feitos os acordos de cooperação entre cafeicultores, suas organizações e os industriais?
Nathan Herszkowicz: As empresas interessadas recebem uma lista de organizações e cooperativas ou produtores que possuem certificação de sustentabilidade comprovada. O contato é livre entre vendedores e compradores e, uma vez escolhidos os parceiros, as informações são transferidas para a ABIC, que verifica se todos os requisitos estão atendidos, determina se há necessidade de auditoria prévia e, finalmente, concede à empresa a sua certificação, divulgando suas marcas em seu site e demais mídias da ABIC.
Embrapa Café: Com a adoção do Programa Cafés Sustentáveis do Brasil, que benefícios produtores, indústria, trabalhadores e consumidores estão usufruindo?
Nathan Herszkowicz: Todos os envolvidos, desde o produtor ate o comerciante de café, a indústria e o varejo supermercadista ou outros canais de distribuição, diferenciam-se pela oferta de cafés sustentáveis. Esse nicho de mercado vem tendo procura crescente e representa fator determinante de compra para um certo segmento de consumidores conscientes de seu papel na preservação do meio ambiente e na melhoria das relações de trabalho, padrão de vida, escolaridade, renda e satisfação pessoal dos envolvidos na produção de café. A indústria, por sua vez, ganha o reconhecimento dos consumidores como empresa e marcas inseridas nesse novo e importante conceito de sustentabilidade.
Embrapa Café: Na sua opinião, como as pesquisas do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, têm colaborado para o PCS?
Nathan Herszkowicz: A Produção Integrada do Café, que reúne um conjunto de tecnologias e de boas práticas agrícolas, é grande aliada da sustentabilidade. Assim, o desenvolvimento pela pesquisa de novas cultivares adaptadas às diferentes regiões produtoras, de técnicas avançadas de manejo e colheita, secagem, armazenamento, irrigação e reúso de água e preparo do grão, entre outras, no âmbito do Consórcio Pesquisa Café, tem garantido condições sustentáveis no campo, o que faz do Brasil o país produtor com maior número de propriedades certificadas.
Embrapa Café: Que outras iniciativas de certificação da ABIC poderia citar?
Nathan Herszkowicz: A ABIC trabalha atualmente na consolidação e crescimento de todos os seus programas de certificação e qualidade: Selo de Pureza, PQC e PCS. Lembro ainda que há outro programa, o Nível Mínimo de Qualidade – NMQ, voltado para orientar a aquisição de cafés com melhor qualidade em licitações públicas e privadas, iniciativa que vem crescendo e permitindo a compra de café muito bons ou excelentes. E há ainda um programa de futuro promissor, que é o “Café na Merenda, Saúde na Escola”, que leva café com leite para o lanche de crianças de escolas públicas, permitindo que os estudantes usufruam dos benefícios do café para a saúde: melhoria da memória e da concentração, da prontidão para o trabalho escolar, entre outros.
A Abic, o Consórcio Pesquisa Café e a Embrapa Café – A Abic é uma entidade sem fins lucrativos parceira do Consórcio Pesquisa Café e também uma das integrantes, pela iniciativa privada, do Conselho Deliberativo da Política do Café – CDPC, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa. As ações do Consórcio são desenvolvidas e estruturadas com base em focos temáticos estabelecidos pelo CDPC.
CDPC – É composto por representantes da iniciativa privada e do governo. Pela iniciativa privada: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA; Conselho Nacional do Café – CNC; Associação Brasileira da Indústria de Café – ABIC; Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel – ABICS; e Conselho dos Exportadores de Café do Brasil – CECAFÉ; pelo governo, Mapa, Ministério da Fazenda – MF, Ministério das Relações Exteriores – MRE, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC e Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG.
Fonte: Embrapa Café