Bons ventos agrícolas de 2005 têm vida curta

SONIA RACY
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soracy@estado.com.br

10 de janeiro de 2006 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: Estadão

Tudo bem que o agronegócio tenha batido recordes de exportação. Mas as perspectivas para o setor agrícola não são nada boas no médio e longo prazo. ‘As exportações ainda devem se segurar em 2006, mas a aparente tranqüilidade em termos macroeconômicos não significa que, em termos microeconômicos, tudo esteja bem. Pelo contrário. A descapitalização do setor está se dando de maneira célere’, avalia José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, que há anos acompanha, de perto, o setor agrícola. As vendas não estão caindo e devem até aumentar em 2006 por duas razões básicas: a safra de grãos – caso não haja percalços na natureza – deve aumentar algo como 10% em comparação a 2005. E os produtores, que precisam pagar suas contas, vão continuar vendendo a qualquer preço. ‘Existe, no entanto, um limite para esse fôlego’, explicou ontem o economista.


Somente três atividades estão em alta: cana, em função de uma situação estrutural; laranja, por causa dos furacões na Flórida e, mais recentemente, o café. ‘O efeito Starbucks e a intensificação do hábito de tomar café estão ajudando. Como os cafeicultores não previam essa demanda extra, a oferta será menor’, conta Mendonça de Barros. O Japão, por exemplo, está consumindo de 8 milhões a 9 milhões de sacas de café por ano. Para se ter uma idéia do que significa isso, o Brasil, um dos maiores consumidores mundiais, absorve 15 milhões.


Os outros setores estão em baixa. Antes da febre aftosa, quando o preço da arroba chegou a R$ 57, dizia-se que este era o pior preço dos últimos 30 anos. Agora, a arroba caiu para R$ 49,50, o que não remunera nem o capital investido. O frango vai bem, mas sob ameaça da gripe aviária. O porco, que também sofre embargo, sobretudo da Rússia, vive situação complicada. Soja, milho, arroz e trigo estão sofrendo fortemente o efeito câmbio.


O leite, então, nem se fala. O algodão reduziu em 30% a área plantada. ‘E os recursos para financiamento saíram tarde demais, quando o agricultor já estava endividado.’


Mendonça de Barros reconhece, contudo, a dificuldade de o governo ajudar. ‘Nesse setor há muita gente. A maior parte não paga empréstimos porque não pode, mas há uma minoria que pode pagar e não paga e atrapalha os primeiros, pois é difícil separar o joio do trigo.’

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