AGRONEGÓCIO
03/10/2007
Bolsas já refletem realidade para café
Os preços do café na Bolsa de Nova York (Nybot) começam a refletir a baixa oferta do produto no Brasil – o maior produtor mundial da commodity. A ausência dos fundos nos contratos futuros explicam esse fato. O analista de Mercado de Café, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Jorge Queiroz, diz que os fundos reduziram a participação nas operações de commodity – a segunda mais negociada no mundo – porque tiveram prejuízos nos últimos meses nas aplicações financeiras em virtude da turbulência na economia dos Estados Unidos.
“Hoje está prevalecendo a força da oferta e da demanda porque a Bolsa não está com essa carga pesada (dos fundos)”, diz Queiroz. “Havia antes um momento com forte participação de especuladores. Com isso, e os preços externos do café não refletiam a realidade das lavouras brasileiras. A presença dos fundos distorcia as perdas pelo efeito do clima adverso. Com isso, o mercado não refletia a oferta e a procura”, completa o analista.
No início do ano, exportadores chegaram a dizer que a safra brasileira já não tinha tanta representatividade no mercado internacional, porque a política anterior da cafeicultura brasileira – de queimar estoques para elevar preços – estimulou o plantio em outros países. Analistas chegaram a duvidar também dos números da Conab, de que a produção estava maior do que o levantamento da estatal.
Os estoques mundiais já são os menores dos últimos 47 anos, segundo o analista da Safras & Mercado, Gil Barabach. Com base em dados do Departamento de Agricultura dos EUA (Usda), diz, os estoques de passagem para a safra 2007/08 são de 16,824 milhões de sacas, diante da demanda mundial de 120 milhões anuais. Para o analista da Conab, Queiroz, os estoques internos são de 7,2 milhões.
O analista da Safras & Mercado concorda que o mercado de café tem sustentação própria. “Perde-se o cenário especulativo e ganha peso a questão fundamental, de baixa oferta mundial”, diz Barabach.
Ontem, os preços da commodity fecharam o pregão a 134,30 centavos de dólar por libra-peso, com uma modesta queda de 0,40% em relação ao dia anterior. “A redução é um realinhamento das cotações, após a forte alta da sessão anterior”, diz Barabach. Os preços do café ultrapassaram o patamar de 120 centavos de dólar por libra-peso sexta-feira, quando as previsões climáticas reforçavam o clima seco, de chuvas insuficientes para garantir o ciclo da safra 2008/09 – considerado crítico, devido ao déficit hídrico. Para o analista da Conab, os preços devem se manter firmes. Entretanto, sem querer fazer previsões, Queiroz acredita em uma retomada da produção dos cafezais, que em algumas regiões de Minas Gerais já estão murchos. Para o engenheiro-agrônomo da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), Joaquim Goulart, a safra que já chegou a se estimar em 56 milhões de sacas, não deve chegar aos 48 milhões.
(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 7)(Viviane Monteiro)