Da Reportagem
EVANDRO SIQUEIRA
Majestosa. Imponente. Emblemática. Segundo um seleto time de arquitetos, a mais bela construção da Cidade. Para os santistas, Bolsa. Para o Brasil, Bolsa Oficial do Café.
Atendendo a um pedido de A Tribuna, 11 arquitetos renomados elegeram o prédio da esquina das ruas XV de Novembro e Frei Gaspar como o mais marcante de Santos. Foi citado por oito dos profissionais.
Uma beleza que pulsa no coração do Centro Histórico. Detalhes clássicos, renascentistas, barrocos. O gigantismo das colunas, da torre, do pórtico e das mais de 200 portas e janelas remete à fase áurea do café, na primeira metade do século passado.
Uma era de riqueza. Foram apenas dois anos de trabalho — tempo curto, que até hoje deixa especialistas boquiabertos. Enquanto operários erguiam a futura sede dos pregões de café, materiais importados chegavam de navio, dos quatro cantos do mundo.
Ferro e cimento vieram da Inglaterra. Telhas e pisos, da França. Italianos, espanhóis e gregos mandaram os mármores. Alemães, os ladrilhos. Belgas, os cristais. Santos deu sua contribuição com Benedito Calixto, que pintou telas e um vitral. Em 1922, durante as festas pelo centenário da Independência, o prédio foi inaugurado.
Estilo eclético
‘‘A Bolsa é a escultura eclética mais majestosa da Cidade’’, avalia o arquiteto Ney Caldatto, de 45 anos, fã incondicional do prédio. Professor universitário e atualmente coordenador do Departamento Municipal de Desenvolvimento e Revitalização Urbana, ele é autor do livro Palácio do Café, lançado em 2004, em homenagem à Bolsa.
Daniel Passos Proença, 47 anos, professor da Faculdade de Arquitetura da Unisanta, diz que a Bolsa revela a força paulista no setor cafeeiro. ‘‘É uma construção requintada, que ficaria bem em qualquer cidade do mundo, até em Paris’’.
As ‘‘riquíssimas soluções arquitetônicas’’ do imóvel seduzem também o professor Fábio Eduardo Serrano, da Faculdade de Arquitetura da UniSantos. Aos 63 anos, ele compara a Bolsa ao Palácio José Bonifácio, sede da Prefeitura. ‘‘Mas a Bolsa ganha em função da importância histórica’’
Queda e ascensão
Com a transferência dos negócios do café para a Capital, em 1950, a Bolsa perdeu importância. Até 86, serviu, basicamente, para divulgar a cotação do café no mercado internacional. Foi fechada, castigada pelo tempo.
Mas um restauro de R$ 3,2 milhões, concluído em 98, colocou o prédio no roteiro turístico da Cidade e ajudou a resgatar o charme do Centro Histórico.
No ano passado, quando foi tombada também pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Bolsa bateu o recorde de visitantes. Mais de 46 mil pessoas passaram pelo prédio.
Também colaboraram com a reportagem os arquitetos Luís Nunes, Nelson Gonçalves de Lima Júnior, Elizabeth Antônio Pereira Correia, Dawerson da Paixão Ramos, Francisco José Carol, José Maria de Macedo Filho, Oscar Capelache e Bechara Abdalla Pestana Neves.
Com estilos distintos, Sesc e Verde Mar se destacam
O brutalismo do Sesc, na Aparecida, e o modernismo do Parque Verde Mar, na Praia do Boqueirão, também foram lembrados pelos arquitetos ouvidos por A Tribuna.
O Sesc é apontado pelos especialistas como exemplo de uma arquitetura ‘‘bem resolvida’’, isto é, um lugar em que todos os espaços são bem aproveitados e permitem uma convivência harmônica entre os que querem relaxar, se divertir e praticar esportes.
Outra característica marcante é o concreto exposto, sem revestimento, que aos leigos pode dar a falsa impressão de que o Sesc é uma enorme caixa quadrada. Essa, na verdade, é a marca registrada do brutalismo, que surgiu na Inglaterra, nos anos 60.
O Edifício Aníbal Martins Clemente, sede da Prodesan, no Gonzaga, é outro exemplar da arquitetura brutalista. O prédio foi apontado por dois profissionais com um dos mais belos da Cidade.
Citado por três arquitetos, o Parque Verde Mar, na Praia do Boqueirão, é o edifício residencial mais elogiado pelos arquitetos.
Projetado por Artacho Jurado, na segunda metade da década de 50, o prédio tem como destaque o terraço, onde pérgolas com desenhos ondulados dão um charme especial à construção. Além disso, todo o revestimento de pastilhas brancas e em tons de azul, rosa e amarelo é original.
‘‘Tenho o maior carinho por esse prédio’’, diz José Rubens Vitório, de 49 anos, que mora há 21 no Verde Mar e é um dos responsáveis pela manutenção do edifício. ‘‘Como o prédio é tombado, o cuidado ao mexer em qualquer coisa tem que ser redobrado’’.