A Nestlé decidiu consultar um boletim climático para direcionar negócios e sair na frente da concorrência, quando os diretores resolveram contratar uma empresa que comercializa boletins meteorológicos para saber quanto valeria a safra de determinado cafezal. O caso exemplifica um serviço que tem atraído cada vez mais os grandes players, seja envolvidos no agronegócio, indústria têxtil, alimentícia, ou até mesmo na área da telefonia.
“No caso da Nestlé, os diretores queriam saber se o ano seria de geadas, o que elevaria o valor da colheita”, diz Carlos Magno, dono da Climatempo, a maior empresa do segmento, contratada pela Nestlé para obter o balanço climático dessa região. Em 1989, o meteorologista decidiu abandonar o emprego no setor público, no Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) – área subordinada ao Ministério da Agricultura -, para abrir a sua própria empresa de consultoria climática.
“No setor público o atendimento é feito de uma forma comum e muitas vezes deixávamos de atender necessidades específicas de determinadas empresas. Vi uma lacuna que poderia ser preenchida pelo setor privado”, conta Magno. Foi então que o meteorologista deixou o emprego e apostou na criação da Climatempo, consultoria com 62 funcionários, 18 deles “homens do tempo”.
De acordo com Magno, o foco inicial da empresa eram produtores rurais, setor que necessitava de informações mais específicas de clima para conduzir plantações e colheitas. “Nossa surpresa foi sermos procurados pela Nestlé. Então vimos o grande potencial do negócio.”
Segundo Magno, o contrato da fabricante se estendeu à área de sorvetes, onde as previsões são utilizadas para determinar a produção e estoque do produto. Na lista de companhias que regem os negócios observando o tempo a partir dos boletins da empresa, também estão a butique de luxo Daslu, Magazine Luiza, Arezzo e outras mil clientes. O valor do boletim é de R$ 500 a R$ 1,5 mil, dependendo das informações contidas na previsão. Com os clientes, a empresa obteve um faturamento anual estimado em R$ 3 milhões no ano passado, segundo o mercado.
Para este ano, a parceira fechada com a empresa de satélites Atmos, que permitirá o uso do satélite localizado em Mogi das Cruzes (SP), a Climatempo pretende trazer clientes do governo para seu portfólio. “Estamos em negociação com cinco empresas e com o novo serviço pretendemos atender prefeituras, defesa civil, e órgãos rodoviários da região.” O satélite mede, em tempo real, as condições meteorológicas da porção leste e sul de São Paulo, sul do Rio de Janeiro, parte do sul de Minas Gerais e Paraná, incluindo o litoral.
Outra de medição de clima que atua em São Paulo e tem em sua lista o setor público, como a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), além da prefeitura de São Paulo e da Defesa Civil do Estado de São Paulo, a Somar prevê crescer 30%.
“Decidimos focar tanto em empresas grandes, como a Vale do Rio Doce e Petrobras, que são nossas clientes, quanto em pessoa física”, diz Paulo Etchichury, um dos sócios da empresa. Cerca de 80% dos clientes vêm do setor agrícola, principalmente cooperativas. “Temos também mil clientes com cadastros simples [pessoa física]. São agrônomos, pequenos produtores”. De acordo com Etchichury, a taxa cobrada para esses profissionais varia de R$ 50 a R$ 300 mensais. A empresa também atua fora do Brasil. “São cerca de 20 clientes fora, concentrados em operações de compra e venda de café. No Brasil, oferecemos ao Banco Itaú previsões para que eles possam acompanhar os investimentos em diversos setores. Já à Companhia Vale do Rio Doce monitoramos a umidade do ar em regiões de extração”, exemplifica o sócio.
Governo
O setor público vê no crescimento das ofertas das empresas privadas de clima uma saída para facilitar o atendimento à toda a população. “Oferecemos serviços de previsão gratuitos, mas não podemos personalizar ofertas às empresas privadas”, conta Antonio Divino de Moura, diretor de previsão do tempo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Neste ano, o Inpe recebeu aporte de R$ 20 milhões para reestruturar suas estações (10 em todo o País). “A parceira veio da união da parceria público-privada”, disse o diretor, sem comentar as empresas. Atualmente, o site do Instituto recebe cerca de um milhão de visitas por mês e 600 ligações para consulta de clima são feitas todos os dias.
Cintia Baio