Boletim semanal – ano 77 – n° 3
Santos, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Escritório Carvalhaes
Na última quarta-feira, dia 20, o jornal Valor Econômico publicou uma série de matérias (“As bolsas em frações de segundo”, “Comprar ou vender: o sistema decide”, “O metro cúbico mais caro de São Paulo”, “Nos EUA, SEC coloca sistema sob suspeita”), que contribuem para aclarar como os fundamentos perderam importância para os grandes operadores que dominam as bolsas.
No café, enquanto os fundamentos apontam para um perigoso desequilíbrio entre produção e consumo mundial, os preços, através das bolsas, são contidos em patamares que interessam aos grandes “players” do mercado mundial. Para se ter uma idéia, esta semana o café colombiano foi vendido no mercado físico a até 80 cents acima das cotações da bolsa de Nova Iorque, que cota café colombiano posto nos EUA. Bastante conveniente para os compradores, pois ajuda a conter o preço dos cafés do Brasil, o grande fornecedor de arábica ao mercado mundial (em 2009, o Brasil foi responsável por 46% das exportações globais de café arábica, fora o que foi consumido no Brasil, segundo maior mercado consumidor mundial de café).
Nosso café costuma ser vendido no mercado físico com deságio sobre os preços da bolsa de Nova Iorque (na verdade com deságio sobre os preços dos colombianos), nesta semana, em média, 20 cents abaixo. Portanto, se as cotações desta bolsa realmente refletissem os preços do café colombiano, os preços de nossos cafés estariam em um patamar mais realista (ou alguém acredita que seria politicamente viável algum operador aceitar vender cafés do Brasil com deságios próximos dos 100 cents?).
Apesar da grande crise financeira global, em 2009 o consumo mundial de café continuou crescendo, como informa a OIC. A divulgação dos crescentes lucros de grandes torrefações internacionais mostra que os negócios vão bem e que novos consumidores estão sendo conquistados. Com o represamento do preço do café verde brasileiro, o que está havendo é uma grande transferência de renda para o exterior. A tão esperada alta está acontecendo, mas infelizmente ela não chega aos bolsos do cafeicultor brasileiro.
A velocidade com que a economia mundial vem mudando, está obrigando governos em todo o mundo a alterarem suas políticas econômicas. Ainda ontem, o presidente americano anunciou duras medidas, inimagináveis alguns meses atrás, para conter os bancos e evitar riscos. No café, precisamos pensar em como usar a privilegiada posição de maior produtor, maior exportador (responsável por mais de 50% do arábica consumido no mundo) e segundo maior consumidor, para impor uma política que defenda os interesses do mais tradicional negócio brasileiro.
Até o dia 21, os embarques de janeiro estavam em 1.040.790 sacas de café arábica, 20.356 sacas de café conillon, somando 1.061.146 sacas de café verde, e 111.927 sacas de solúvel, contra 1.116.368 sacas no mesmo dia de dezembro. Até o dia 21, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em janeiro totalizavam 1.769.094 sacas, contra 1.613.244 sacas no mesmo dia do mês anterior.
A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 15, sexta-feira, até o fechamento de hoje, dia 22, caiu nos contratos para entrega em março próximo, 110 pontos ou US$1,46 (R$2,65) por saca. Em reais por saca, as cotações para entrega em março próximo na ICE fecharam no dia 15, a R$329,80 e hoje, dia 22, a R$335,16/saca. Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega em março, a bolsa de Nova Iorque fechou com alta de 90 pontos.