BM&F vai aproximar pequeno produtor da Bolsa de Chicago

23/05/2012 
  

 
 
bruno cirillo | DCI
SÃO PAULO


A partir de junho, sojicultores de pequeno e médio porte terão acesso aos contratos negociados em Chicago – sem precisar sair do País. A Nova Bolsa (Bolsa de Mercadorias & Futuro e Bolsa de Valores de São Paulo ou BM&F Bovespa) apresentará nesta tarde os detalhes técnicos de seu novo produto, baseado em uma operação de cross-listing (listagem cruzada de ativos) com a Chicago Mercantile Exchange (CME), a maior bolsa de commodities agrícolas do mundo. Na prática, agricultores poderão cotar a oleaginosa – que no início da semana atingiu um novo patamar de preços no Brasil – diretamente no mercado internacional.


O produto tem o mesmo tamanho daquele que é comercializado no mercado interno: papéis equivalentes a 27 toneladas de soja, com margem inicial de 6,5% do valor previsto. O gerente de Serviços em Commodities da BM&F Bovespa, Luiz Cláudio Cassagni, espera que a aceitação dos produtores rurais seja tão satisfatória quanto a das corretoras que já aderiram ao minicontrato financeiro.


“O contrato de hoje é precificado em Paranaguá [onde fica o principal porto paranaense]. O que a gente vai lançar considera o preço de Chicago”, explicou o executivo, que ontem participava de um seminário promovido pela BM&F Bovespa em São Paulo. “Quem não tem acesso ao contrato internacional, terá. A partir da BM&F Bovespa”, garantiu. O preço de formação brasileira, com base nas pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), será mantido em operação, segundo Cassagni.


Também presente no evento, o diretor-executivo de Produtos e Clientes da BM&F Bovespa, Marcelo Maziero, disse que o etanol é a próxima cultura a ser contemplada, em setembro, por um novo contrato que permita maior facilidade de acesso ao mercado internacional. “Esses dois contratos são os primeiros de uma série, para que o mercado brasileiro [de commodities agrícolas] opere com mais intensidade”, afirmou.


Para Maziero, embora o Brasil lidere em produção de alimentos e figure entre os três maiores exportadores de açúcar, café e laranja do mundo, o País não está entre os maiores negociadores de derivativos de commodities – o que, para ele, é lamentável. Nos circuitos financeiros globais, um montante equivalente a dez vezes as safras reais circula em torno delas; na soja, a relação é de 32 vezes, de acordo com o executivo. Seria uma bolha? “É um mercado extremamente líquido”, disse.


No Brasil, o máximo que se conseguiu fazer foi negociar três vezes o volume real de café, pelo que disse Maziero. Os papéis relativos a boi gordo também são avantajados, em comparação com a carne que se corta de verdade. “A quantidade de soja que temos exportado para a China… vemos apenas 5% da produção com contratos na bolsa”, disse Maziero.


“A construção de um mercado de derivativos no Brasil é de interesse dos mesmos que podem construir esse mercado. A bolsa está muito disposta a agir como catalisadora, com incentivo e infraestrutura, a gente tem uma expectativa forte de receber apoio mais intenso do governo, pois precisamos de incentivos diferentes do que temos tido, das tradings e dos grandes produtores. Há quase uma certeza de que o Brasil pode se posicionar como um grande polo de tecnologia financeira do agronegócio”, declarou o diretor da BM&F Bovespa.


Oferta incerta
No seminário de ontem, um consenso acerca da oferta de commodities agrícolas se mostrava entre as apresentações de especialistas e empresários: as incertezas e as quebras dos volumes de produção, principalmente na América Latina, constituem o principal desafio do agronegócio nos dias atuais.


“A imensa volatilidade do mercado de agricultura se deve principalmente à falta de informação sobre a oferta da última década”, afirmou um representante norte-americano da companhia de pesquisas em negócios Thomson Reuters. “A safra de soja de 2012 e 2013 é um exemplo das estimativas que não conseguiram captar o tamanho das perdas: os contratos de junho tinham sido captados a US$ 12 por bushel, com estimativa de 70 milhões de toneladas. Mas, depois, isso foi diminuído a 68 milhões de toneladas e foi a primeira vez que vimos o mercado futuro a menos de US$ 12”, explicou.


Sob o ponto de vista da capacidade, o problema da oferta persiste: as importações de soja e óleo da China mensuram-se em 111,5 milhões de toneladas, de acordo com o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Caio Rocha. “Isso é tudo que o Brasil e a Argentina produzem juntos”, disse ele. “O desafio atual é a oferta”, afirmou. 

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