Por Tarso Veloso | De Brasília
“Todas as liberações nesse sentido precisam de uma atenção especial”, diz o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo
O mercado brasileiro deverá contar, a partir de outubro, com três novas variedades de sementes transgênicas de soja e milho resistentes a um herbicida até então usado com maior intensidade em culturas como arroz, cevada e trigo.
Conforme antecipou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, a reportagem apurou que, em até dois meses, a Dow AgroSciences poderá ser autorizada a vender variedades resistentes ao 2,4-D (ácido diclorofenoxiacético), um dos componentes presentes no “agente laranja”, usado na guerra do Vietnã. O produto é considerado “extremamente tóxico”, categoria 1, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para efeito de comparação, o glifosato é classificado como “Pouco Tóxico”, categoria 4. (ver matéria acima).
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que analisa e autoriza a liberação comercial de organismos geneticamente modificados (OGM) no país, já recebeu pareceres a favor da liberação comercial de subcomissões que avaliam seus impactos sobre a saúde humana e animal. O Valor apurou que quando o assunto for a plenário, em outubro, deverá receber parecer favorável da maioria dos membros do colegiado.
Dos três pedidos, dois são de soja e um de milho. A primeira soja será resistente ao herbicida 2,4-D e ao herbicida glufosinato de amônio. A segunda, aos herbicidas 2,4-D, glifosato e glufosinato de amônio. Por fim, o milho será tolerante ao herbicida 2,4-D e a determinados inibidores da acetil coenzima.
O pedido já recebe críticas de ambientalistas e pesquisadores, que acreditam que uso de novos produtos só acontece devido à resistência que as ervas daninhas adquirem. “Com o tempo, teremos ervas cujo controle se tornará mais difícil. Com isso, os herbicidas atuais não surtirão efeito e precisaremos de novos produtos. Todas as liberações nesse sentido precisam de uma atenção especial”, disse o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, doutor em Engenharia de Produção e representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) na CTNBio.
Hoje, o produto já é registrado para uso no estágio de pré-colheita em arroz, aveia, café, cana, centeio, cevada, milho, soja, sorgo, trigo e pastagens formadas. “Nesses casos, ele é aplicado antes da planta emergir e há o receio de que o uso do produto aumente com as novas variedades”, afirmou Melgarejo. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), em documento de 2010, manifestou-se a favor dos produtos resistentes ao 2,4-D.