BICHO MINEIRO: CONTROLE PRECISA SER FEITO AGORA PARA GARANTIR A GRANDE SAFRA DE CAFÉ DE 2018

Quanto menor for a duração do seu ciclo, mais gerações ocorrerão num curto espaço de tempo, resultando em populações altíssimas de adultos, lagartas e crisálidas, e um grande número de ovos nas folhas.

Por: INFORME ACARPA

O bicho-mineiro das folhas do cafeeiro, Leucoptera coffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae), é a principal praga do cafeeiro na cafeicultura do cerrado mineiro (Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e noroeste de Minas Gerais), já que o clima quente dessas regiões encurta o seu ciclo, que varia de 19 a 87 dias. Assim, quanto menor for a duração do seu ciclo, mais gerações ocorrerão num curto espaço de tempo, resultando em populações altíssimas de adultos, lagartas e crisálidas, e um grande número de ovos nas folhas (Fig. 1).




Figura 1 – Ciclo biológico do bicho-mineiro


O ataque do bicho-mineiro nos cafeeiros não causaria prejuízos se as folhas minadas (Fig. 2) não caíssem e permanecessem nas plantas; acontece que no período seco do ano, antes das floradas, no período de agosto a outubro, os cafeeiros podem sofrer desfolha drástica, podendo ser até total (100%), resultando em prejuízos de até 72% na produção de café, segundo resultados de pesquisas desenvolvidas pela Epamig no município de Patrocínio, em 1998.


Outro detalhe: nas regiões de clima quente, o bicho-mineiro ataca todos os anos, com prejuízos, se não bem controlado, daí o alerta da Epamig aos cafeicultores sobre a importância dessa praga. É uma praga que jamais será erradicada da cafeicultura brasileira, daí a necessidade de os cafeicultores conhece-la em todos os seus aspectos para controlá-la com eficiência.



Figura 2 – Folhas de cafeeiro minadas pelas lagartas do bicho-mineiro


Infestação do bicho-mineiro em 2017 e preparo da safra de 2018


A infestação do bicho-mineiro, nos meses iniciais de 2017, está praticamente zerada, resultado da ocorrência do período chuvoso, com chuvas normais, adverso à praga, e do novo enfolhamento emitido pelos cafeeiros a partir de novembro de 2016, que diluiu sua infestação. Outro detalhe: a safra de café de 2017 está garantida, safra essa que foi preparada ano passado, em 2016. Sempre um ano antes.


Como prevenir a infestação do bicho-mineiro em 2017


Sabe-se que o bicho-mineiro atacará as lavouras de café do cerrado mineiro em 2017, porém, não se sabe o seu início, que poderá ser a partir de março/abril. É imprevisível.


A partir de agora o cafeicultor preparará os cafeeiros para a grande safra de café de 2018 (ano que vem). Como? Preservando o enfolhamento atual dos cafeeiros até a época das floradas (setembro/outubro), através do controle do bicho-mineiro, ferrugem e outras doenças e da aplicação dos tratos culturais normais recomendados para a cultura.


Como se inicia a infestação do bicho-mineiro nas lavouras de café do cerrado mineiro, se a infestação atual está zerada, sem adultos (Fig.3)? De onde virão? A infestação inicia-se pela emergência de seus adultos, em grande número (nuvens de adultos), a partir de crisálidas (dentro de casulos em forma de X) (Fig. 4), que estavam em diapausa (vivas e viáveis), presentes na fase dorsal (de baixo) das folhas da metade inferior dos cafeeiros, quando as condições climáticas e outras condições são favoráveis para que isso ocorra. Daí não se poder precisar o mês de emergência de adultos da praga. Em 2016, a emergência de adultos do bicho-mineiro ocorreu no final do mês de março/início do mês de abril. A partir daí inicia-se o primeiro ciclo dessa praga, com o acasalamento de machos e fêmeas e a postura de ovos de maneira dispersa na página superior das folhas (Fig. 5).



Figura 3 – Adulto (mariposinha) do bicho-mineiro




Figura 4 – Crisálidas (casulos) de bicho-mineiro em forma da letra X


 




Figura 5 – Ovos típicos de bicho-mineiro na página superior de folhas de  cafeeiro


Após a fase de ovo eclode (nasce) sua lagartinha, que penetra diretamente na folha, onde começa a se alimentar e, consequentemente, a formar a mina ou lesão (Figs. 6 e 7). Depois, o ciclo vai se completando, com as fases de crisálida e adulta (Fig. 1), inclusive com ciclos sobrepostos, já que as condições climáticas (poucas chuvas e temperaturas altas) vão lhe favorecendo. Assim, a ocorrência de poucas chuvas até junho e nenhuma chuva a partir daí, já no período seco, com temperaturas altas, favorecem a multiplicação do inseto (Fig. 8).



Figura 6 – Minas típicas e intactas de bicho-mineiro mostrando os córions de ovos (cascas) brilhantes



Figura 7 – Minas de bicho-mineiro, em folhas de cafeeiro, com lagartas em  atividade



Figura 8 – Curva da flutuação populacional de bicho-mineiro Leucoptera coffeella na região do Cerrado mineiro (Alto Paranaíba e  Triângulo Mineiro),  de clima quente


Portanto, na cafeicultura do cerrado mineiro, o primeiro ciclo do bicho-mineiro tem que ser controlado com eficiência, para evitar que outros ciclos aconteçam e que ele exploda durante o ano. Daí ser o seu controle químico sempre preventivo (ainda sem a presença da praga). Mesmo preventivo, seu controle tem sido difícil de ser realizado com alta eficiência já que essa praga, provavelmente adquiriu resistência à maioria dos inseticidas antes utilizados, restando poucas opções. Em 2016, devido às altas temperaturas e menor ocorrência de chuvas, seu controle químico foi muito difícil, inclusive com baixa eficiência apresentada pelos inseticidas sistêmicos aplicados no solo, preventivamente, produtos esses que praticamente garantiam o controle dessa praga em anos anteriores. Aguarda-se que se apresentem eficientes a partir de agora, em 2017, para que o controle do bicho-mineiro volte ao normal na cafeicultura do cerrado mineiro.


Controle do bicho-mineiro


O controle do bicho-mineiro é feito por etapas:


1a etapa – aplicação em novembro do ano anterior (2016), no solo ou na água de irrigação, de um inseticida sistêmico (controle preventivo do bicho-mineiro) e de um fungicida também sistêmico (controle preventivo da doença ferrugem). Essa aplicação num controle simultâneo da principal praga e da principal doença do cafeeiro, é feita todos os anos pelos cafeicultores. O melhor inseticida é o tiametoxam. Esta aplicação já foi realizada.


2a etapa – aplicação complementar no mês de fevereiro do inseticida sistêmico tiametoxam 250 WG, no solo ou na água de irrigação.Se ocorrer algum veranico (estiagem prolongada) no início de 2017, com conseqüente infestação do bicho-mineiro, antes ou após a aplicação do inseticida sistêmico em fevereiro, realizar uma pulverização para controlá-lo, procurando-se zerar a infestação dessa praga na folhagem dos cafeeiros, até que se aplique o inseticida sistêmico em fevereiro, ou até que cubra os 30 dias para que o inseticida sistêmico aplicado no solo ou na água de irrigação chegue através do xilema (vasos condutores de seiva bruta) até as folhas e passe a atuar.


Em 2016, ano passado, o início da infestação do bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado mineiro foi no final do mês de março/início do mês de abril, através da emergência de adultos em grande número de crisálidas que estavam em diapausa. Portanto, a pulverização mencionada deveria e foi realizada na época mencionada.


Uma boa eficiência de pulverização pode ser obtida com a mistura dos inseticidas cartap 500 PS (1,0 Kg p.c./ha); spinosad 480 SC (150 mL p.c./ha) e triflumuron 250 PM (300 g i.a./ha). Esta pulverização visa matar ovos de bicho-mineiro na página superior das folhas (cartap), lagartinhas do bicho-mineiro dentro das minas e evitar formar novas minas através delas (cartap, spinosad e triflumuron). O inseticida cartap pode também matar adultos (mariposinhas) do bicho-mineiro pela ação de contato, inclusive também o spinosad. Evitar aplicar inseticida piretróide na mistura visando matar adultos da praga. O spinosad pode ser substituído pelo clorantraniliprole 250 SC (160 mL p.c./ha) ou flubendiamida 480 SC (200 mL p.c./ha). Pulverizar evitando as horas mais quentes do dia. Para evitar evaporação de gotas, adicionar óleo emulsionável mineral a 0,5% (500 mL de óleo emulsionável/100 L de água). Adicionar espalhante adesivo. Medir o pH da água e reduzi-lo para 5,5. Em geral, o pH da água de pulverização (represas etc.) é de aproximadamente 7,0. O ácido dicarboxílico Redutil, ácido forte, com duas carboxilas, é excelente para reduzir o pH da água de pulverização. Bastam 8,3 g do produto/100 L de água para reduzir o pH em 2,0 pontos, sem a necessidade de peagâmetro para medi-lo.


3a etapa – o sucesso do controle do bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado mineiro dependerá da eficiência do inseticida sistêmico tiametoxam aplicado em fevereiro. Se o tiametoxam for eficiente, o período de controle poderá ser de 90 a 100 dias, aproximadamente até maio. A partir de maio e até as floradas (setembro/outubro), o controle será feito com pulverizações de inseticidas. Em 2016 o controle do bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado mineiro foi muito difícil devido à baixíssima eficiência apresentada pelo inseticida tiametoxam aplicado em fevereiro, num curtíssimo e insuficiente período de controle, o que requereu muitas pulverizações para controlá-lo, num ano quente e de poucas chuvas, com algumas dessas pulverizações sem nenhuma eficiência. O resultado foi a ocorrência de desfolhas pelo ataque do bicho-mineiro, possivelmente com prejuízos na produtividade das lavouras além de o controle químico realizado ter ficado oneroso, devido às muitas pulverizações realizadas.


Após o período de controle do bicho-mineiro proporcionado pelo inseticida tiametoxam aplicado em fevereiro, passar a monitorar sua infestação no terço superior dos cafeeiros, local de início e de maior ataque. Quando a porcentagem de folhas minadas for de 20% ou mais em 200 folhas coletadas aleatoriamente em cafeeiros de cada talhão, separadamente talhão por talhão, pulverizar inseticidas em mistura visando zerar novamente sua infestação, ou seja, matando todas as lagartinhas do bicho-mineiro dentro das minas. Após o período de controle, refazer o monitoramento e, a partir daí, as pulverizações serão realizadas em função da presença de lagartinhas vivas da praga dentro das minas. A pulverização pode ser feita com a mistura de diflubenzuron 800 WG (Dimilin) (0,4 Kg p.c./ha), cartap 500 PS (1,0 Kg p.c./ha) e flubendiamida (Belt) ou clorantraniliprole (Premio). O dimilin pode ser substituído pelo inseticida fisiológico novalurom 100 CE (300 mL p.c./ha).


Outras informações técnicas


1a – Os inseticidas convencionais, como os fosforados e piretróides, não mais controlam o bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado mineiro, sendo possivelmente resistência adquirida pela praga a eles, restando atualmente poucas opções.


2a – O inseticida Curyom 550 CE também apresenta baixa eficiência no controle do bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado mineiro, de clima quente. Já na cafeicultura do Sul de Minas, de clima ameno, o Curyom 550 CE é muito eficiente, podendo ser aplicado. A diferença entre as eficiências para o mesmo inseticida é, provavelmente, devido as raças diferentes de bicho-mineiro desenvolvidas ao longo dos anos nas duas regiões cafeeiras, sendo a do cerrado mineiro mais resistente aos inseticidas, resistência essa genética, hereditária.


3a – Os inseticidas fisiológicos mesmo não sendo altamente eficientes, são recomendados em mistura com outros inseticidas por serem lagarticida, atuando por ingestão, nas ecdises ou mudanças de pele. Esses inseticidas, anos atrás, já foram altamente eficientes no controle do bicho-mineiro.


4a – O inseticida clorantranliprole (Altacor) não deve ser aplicado em infestação alta de bicho-mineiro, já que será ineficiente. Sua eficiência tem oscilado na cafeicultura do cerrado mineiro, com muitos insucessos. Antes, era o melhor inseticida, com um longo período de controle.


5a – Muitos cafeicultores, por conta própria, estão substituindo o inseticida Altacor pelo Premio, do mesmo ingrediente ativo clorantraniliprole. Afirmam que o Premio tem se apresentado mais eficiente, embora não tenha registro para o cafeeiro. Porém, o clorantraniliprole tem.


6a – Quem controlou a broca-do-café com duas aplicações de rinaxipir (1,5 L p.c./ha), que também controla o bicho-mineiro, terá teoricamente garantido um período de controle dessa praga até o mês de julho. A partir daí e até as floradas, o controle continuará sendo com pulverizações, com inseticidas já sugeridos, dispensando-se a aplicação de tiamethoxam 250 WG em fevereiro. Como o rinaxipir aplicado em pulverização no controle de broca é realizado em nível de talhões, naqueles talhões onde não foi aplicado, usar o tiametoxam 250 WG em fevereiro, normalmente.


7a – As chuvas que ocorrem de março a junho, antes do período seco propriamente dito, podem ajudar na amenização da infestação do bicho-mineiro.


8a – A irrigação por aspersão, molhando a folhagem do cafeeiro, não ameniza as infestações de bicho-mineiro.


9a – Independente do vigor apresentado pelo cafeeiro, as folhas minadas pelas lagartas do bicho-mineiro caem, queda induzida (provocada) pelas minas nas folhas no aumento da síntese do hormônio vegetal etileno, responsável pela referida queda (senescência) das folhas.


Fonte: Engº Agrº Dr. Júlio César de Souza
Entomologista –  Pesquisador
Epamig Sul de Minas
Lavras MG


 


Leia A íntegra no Blog da ACARPA

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