Medidas são anunciadas com poucos detalhes no momento mais agudo de perdas
Parte das reservas será repassada a bancos que financiem exportadores por meio de leilões realizados pelo Banco Central
NEY HAYASHI DA CRUZ
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na tentativa de acalmar os mercados num dia de perdas recordes na Bovespa, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fizeram um pronunciamento às pressas na tarde de ontem para mostrar aquilo que chamaram de “solidez” da economia brasileira e anunciar medidas de apoio às exportações.
Esse apoio ocorrerá de duas maneiras. Uma delas será feita por meio do BC, que irá repassar parte dos recursos das reservas internacionais do país para bancos que financiem o comércio exterior brasileiro. A outra será determinar ao BNDES que libere mais R$ 5 bilhões para linhas de crédito voltados a empresas exportadoras. No caso do BC, a novidade será a maneira como a medida será implementada: por meio de leilões, o BC irá conceder empréstimos a bancos que financiam exportações no Brasil. Em troca, esses bancos deverão entregar, como garantia, um valor equivalente ao do empréstimo em títulos negociados no mercado internacional. Só poderão participar desse leilão bancos que operem com comércio exterior. Nem Mantega nem Meirelles disseram o valor a ser repassado aos bancos ou a data dos leilões. “Vai ser na medida do necessário”, disse Meirelles. As reservas internacionais do Brasil estão em cerca de US$ 206 bilhões.
Meirelles também não soube dizer quais títulos serão aceitos como garantia: se limitou a informar que papéis emitidos pelo governo brasileiro no exterior estarão entre os papéis a serem incluídos na transação e prometeu mais detalhes hoje.
Em relação ao BNDES, os R$ 5 bilhões ao financiamento de exportações fazem parte de um pacote de R$ 15 bilhões que o Tesouro Nacional já havia prometido injetar no banco estatal. O dinheiro será aplicado nas linhas do BNDES chamadas de “pré-embarque”, que atendem a todas as empresas que operam no país, mas dão preferência às micro e pequenas. Por meio dessas linhas, o banco concede empréstimos aos exportadores do embarque da mercadoria vendida.
Quando a entrevista de ontem foi anunciada, no começo da tarde, a Bovespa registrava queda de 12%, e o “circuit breaker”, mecanismo que interrompe o pregão em caso de variação muito brusca, já havia sido acionado duas vezes.
Nem Meirelles nem Mantega responderam a perguntas dos jornalistas, e boa parte do pronunciamento consistiu numa tentativa de transmitir tranqüilidade. “O Brasil não está imune. É uma crise global, que atinge mais os países mais fragilizados e menos os mais sólidos, como o Brasil”, disse Mantega. “Sairemos dessa fase aguda, embora a crise vá continuar. Talvez a maior desde 1929. Na fase aguda, fica tudo pior. Com a desconfiança total, o mercado cai na irracionalidade e no comportamento de manada.”
O ministro disse ainda que espera que a oferta de financiamentos para o Brasil deva se normalizar, embora com juros mais altos do que os praticados antes da crise.
“Quando os governos todos tomarem as providências necessárias, haverá reconstituição das linhas de crédito que secaram. Isso se dará em um patamar de menos crédito e com taxas mais elevadas.” Meirelles seguiu a mesma linha: “É a grande vantagem de o Brasil ter adotado uma política conservadora, prudente: neste momento, temos recursos suficientes para enfrentar uma crise que afeta a todos. Temos recursos suficientes para enfrentá-la com serenidade”.
Ele também citou as medidas tomadas pelo BC nas últimas semanas para combater os efeitos da crise no Brasil como sinal de que o governo está atento ao agravamento da situação. Entre as iniciativas citadas, estavam as mudanças nas regras do recolhimento compulsório dos bancos e os leilões de dólares feitos pelo BC no mercado de câmbio.