A Basf S.A. reuniu ontem em Ribeirão Preto mais de uma centena de técnicos agrícolas e produtores de café para o lançamento do fungicida Cantus. O gerente de cultivos extensivos de citrus e café da multinacional, Jasp Pedroso Júnior, traçou um cenário positivo para a cultura cafeeira e também para o setor de citros, apesar da cautela mantida por alguns produtores.
“A situação do café é promissora. O consumo tem sido maior que a produção desde 2005 e tende a continuar assim até pelo menos 2008”, disse Pedroso, reconhecendo que o câmbio ainda afeta o setor.
“Apesar dos dados aparentemente animadores, os custos de produção cresceram muito nos últimos anos”, ressalva Eduardo Pio Chaves Correia de Figueiredo, produtor em Coqueiral, Carmo da Cachoeira e Três Pontas, no sul de Minas.
Custo
“O custo está muito próximo dos US$ 100 que estamos recebendo pela saca de café”, afirma Figueiredo. Segundo ele, o que mais aperta o bolso do cafeicultor são despesas financeiras de dívidas passadas, encargos, impostos, mão-de-obra e insumos agrícolas, como adubos e defensivos.
Segundo Figueiredo, existe uma tendência de se usar produtos cada vez menos tóxicos nos cafezais, que deixam menos resíduos no grão, para atender a exigências do mercado internacional. “Mas isto implica em aumento dos custos, que temos de arcar. Depois que você entra num nível de tecnologia agrícola, não tem como voltar atrás.”
Redução de custos
Segundo Figueiredo, o setor aprende com as crises a reduzir custos. “Depois, quando a gente começa a vislumbrar lucros, os custos voltam a te engolir.”
O gerente da Basf admite que os sinais promissores para as culturas de café, cana e citros estão longe de salvar todo o mal instalado pela crise na atividade de soja.
Segundos dados do Sindag (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal), enquanto o setor de soja gastou em defensivos químicos um total de US$ 2,2 bilhões em 2004 – antes de se aprofundar na crise, portanto –, os produtores de café desembolsaram, no mesmo ano, R$ 134,5 milhões.
Trata-se de uma diferença de 16,5 vezes. É bom lembrar que a inadimplência dos sojicultores é elevada, chegando a 25% para o setor de sementes, o que certamente afetará o resultado de vendas de defensivos em 2005, ainda não divulgado pelo Sindag. Com relação ao citrus, o gerente da Basf acha que “o setor está saindo do fundo do poço.” Relata: “as vendas da Basf para a citricultura neste ano estão US$ 1 milhão acima do ano passado”.
Como duas partes de uma mesma região
O nordeste paulista mais o sul de Minas e o Triângulo Mineiro formam uma região só do ponto de vista geográfico. Nossa região tem o corpo paulista e a alma mineira. As outras duas – Triângulo Mineiro e o sul de Minas – têm o corpo mineiro mas a alma é paulista. No fundo, são duas partes de uma mesma região.
O que une o sul de Minas à nossa região é a maneira como produzimos. E como olhamos a realidade. Vamos hoje analisar apenas a primeira, isto é, como produzimos. Fiquemos com o café que até ontem era o principal produto de nossa região, o nordeste paulista. E atualmente é marca de eficiência do sul de Minas. O sul de Minas, quanto ao café, é hoje o que fomos ontem. Nos dois casos, a marca é a produtividade.
Há duas espécies de café: o robusta e o arábica. O primeiro é uma planta mais forte, que nasce em qualquer lugar e não exige cuidados especiais mas o grão é de baixa qualidade. O segundo, que são os melhores cafés, são do tipo arábica, de regiões altas, que têm aroma intenso e variações de corpo, de acidez e de sabor.
Produzimos sempre os melhores embora se saiba que o bom café possa ser uma mistura de quatro cafés de não tão boa qualidade. Não é por acaso que mistura, na língua portuguesa, tem a mesma raiz, como palavra, de mistério. A mistura é um mistério, o diferencial. O café é uma fruta e, como tal e como a maçã, pode ter sabor variado. (Antônio Golfeto)
Fonte: A Cidade