02/04/2013
Balança tem o pior resultado no mês de março desde 2001
Registro de aquisições externas de gasolina pela Petrobras pesou no resultado, bem aquém do esperado
Juliana Garçon jgarcon@brasileconomico.com.br
O resultado da balança comercial de março — um saldo positivo de US$ 164 milhões, o primeiro deste ano — foi o pior para março desde 2001, segundo a série histórica do Banco Central. Com o fechamento de março, o país ainda acumula déficit comercial de US$ 5,150 bilhões.
Em igual período de 2012, o resultado foi positivo em US$ 2,419 bilhões. Apesar disso, o governo projeta superávit na balança neste ano, de acordo com a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MIDC), Tatiana Prazeres. “Estamos em um nível de exportações elevado. Eu reafirmo a nossa expectativa de um superávit em 2013 apesar do déficit do primeiro trimestre.”
No mês passado, as exportações totalizaram US$ 19,323 bilhões e as importações, US$ 19,159 bilhões. Os dados foram divulgados ontem pelo MIDC.
“Acumulamos um déficit expressivo no ano, que indica consumo aquecido, importações aceleradas e oferta empacada”, diz Gilberto Braga, professor de economia e finanças do Ibmec. “Tudo isso indica que as medidas do governo para equacionar demanda e produção ainda não surtiram o efeito desejado. Também dá sinais de que o PIB não deve chegar aos níveis desejados pelo governo”, explicou.
Os itens que puxaram o recuo nas vendas foram trigo em grão, petróleo bruto, algodão bruto, folhas de fumo, minério de cobre, farelo de soja, grão de café, carne suína e minério de ferro. Por outro lado, cresceram no mês as exportações das carnes de frango e bovina, de milho e soja em grão. Além disso, uma série de manufaturados puxou a elevação nas vendas externas: plataforma para extração de petróleo, hidrocarbonetos, suco de laranja congelado, automóveis de passageiros, motores e geradores elétricos e açúcar refinado.
Combustíveis
O atraso no registro de aquisições externas de gasolina pela Petrobras, finalmente contabilizadas, pesou contra o saldo positivo. Em março, as importações de combustíveis e lubrificantes somaram US$ 3,177 bilhões.
A tendência foi reforçada pela queda de 32,9% nas exportações de petróleo, na comparação com março de 2012. No trimestre, as vendas externas apresentaram recuo expressivo, 45,1% em relação aos três primeiros meses de 2012. Queda na produção e aumento do consumo interno motivaram o recuo nas vendas externas de petróleo, de acordo com Prazeres.
Trava
“A balança está travada porque temos exportações concentradas demais em poucos agentes e poucos produtos”, diz Silvio Paixão, professor de macroeconomia da Fipecafi. Num universo de 20 mil exportadores cadastrados, um grupo de 500 representa mais do que 70% do valor exportado. Na pauta, a predominância de commodities — agrícolas, minerais e energéticas — é brutal. “Daí que ficamos muito vulneráveis aos vetores de preço e volumes de vendas desses itens”, diz.
Apesar desta limitação, o Brasil ainda vive situação razoavelmente confortável, avalia Paixão, devido ao cenário global. “Dentre os produtos que importamos, há disponibilidade considerável a preços relativamente baixos. Nas commodities que exportamos, os preços estão relativamente altos.”
O quadro dá espaço para que o país busque enfrentar o desafio de ampliar as vendas de manufaturados, semimanufaturados e produtos de alto valor agregado. A indústria ainda pode reagir às mudanças na lista de cem produtos que tiveram o Imposto de Importação elevado no ano passado. O tema está em discussão no MIDC, que ontem divulgou a retirada do monoetilenoglicol (álcool usado na fabricação de produtos como fibras de poliéster, cosméticos e resina PET) da lista, o que reduz a alíquota de 20% para 12%. ^
Com Reuters e ABr