Valor Econômico
03/02/15
A balança comercial fechou o mês passado com déficit de US$ 3,174 bilhões, o que levou o rombo em 12 meses (US$ 3,065 bilhões) a ser o pior resultado desde 1999, considerando-se apenas o acumulado em 12 meses a partir do mês de janeiro. Em 1999, a diferença entre importações e exportações acumuladas nos 12 meses terminados em janeiro foi de US$ 6,617 bilhões.
No mês passado, foram US$ 13,704 bilhões em exportações e US$ 16,878 bilhões em importações, queda de 10,4% na média diária dos embarques internacionais (de US$ 728,5 milhões para US$ 652,6 milhões) e de 12% nos desembarques (US$ 913,4 milhões para US$ 803,7 milhões).
De acordo com o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Daniel Godinho, o fator preponderante para o fraco resultado de janeiro foi a queda no preço do minério de ferro, principal item da pauta exportadora brasileira.
“O minério de ferro representa 40% da queda total das exportações de janeiro”, avaliou o secretário. Segundo ele, o preço desse produto caiu 48,9% entre janeiro do último ano e o mês passado. Somado a redução de 1,2% no volume exportado, o resultado é uma retração de 52% nas exportações de minério de ferro, de US$ 2,5 bilhões para US$ 1,2 bilhão.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra que a tendência é que os preços do minério continuem contribuindo negativamente este ano para o desempenho de exportação da commodity. O preço médio do minério de ferro, de US$ 75 por tonelada no ano passado, deve cair para algo entre US$ 55 e US$ 60 a tonelada na média de 2015, segundo estimativas da AEB. Em janeiro, diz Castro, o preço médio do minério foi de US$ 51,4 a tonelada, mas o preço chegou a cair a US$ 47,60.
Godinho também destacou que “há uma característica sazonal do mês de janeiro, que é tradicionalmente deficitário desde 2009”. Segundo ele, isso acontece por conta da “baixa atividade econômica” no início do ano, com entressafras e férias coletivas. Já no lado das importações, apesar do esfriamento na atividade, há “uma reposição de estoques”. Por conta disso, disse ele, as exportações tiveram o pior resultado desde 2010 para meses de janeiro. Mesmo assim, o secretário relutou em apontar uma tendência para o ano, já que “há uma série muito grande de fatores que influenciam no resultado”.
Entre esses fatores, Godinho citou do lado positivo o câmbio e o desenvolvimento da economia americana. Por outro lado, podem atrapalhar a balança comercial neste ano a queda nos preços das commodities e as incertezas quanto ao crescimento na União Europeia, Argentina e China.
O secretário ponderou que a pasta prepara um plano nacional de exportações para incentivar [as vendas para o exterior]e portanto temos que aguardar mais um pouco para fazer avaliação”, como já indicou o ministro Armando Monteiro, do Desenvolvimento. Mesmo sem previsão para as vendas ao exterior, Godinho avaliou que trabalha “com expectativa de saldo comercial positivo no fim do ano”.
Essa previsão leva em conta, entre outros fatores, um “crescimento de exportações para os Estados Unidos, puxados por manufaturados”. Somente em janeiro, houve uma queda de 3% nas vendas para o país norte-americano. Isso se deve, explicou Godinho, à queda no preço do petróleo, o que levou há uma redução de 45% nas vendas do produto para os EUA. Apesar desse ponto negativo, a redução no preço do combustível tem um efeito líquido positivo para a conta de transações de bens com o exterior, já que o Brasil tem uma importação líquida do produto.
“O efeito preço se apresenta dos dois lados, mas tendo em vista que o Brasil é importador líquido, o efeito preço tende a beneficiar a conta petróleo”, resumiu o secretário. Dados da pasta mostram que essa subdivisão da balança comercial teve um déficit de US$ 685 milhões em janeiro deste ano ante diferença negativa de US$ 1,461 bilhão no primeiro mês de 2014.
Segundo avaliação da AEB, o embarque brasileiro de petróleo deverá resultar em receitas menores este ano. O valor de exportação em 2015, diz Castro, deve ser 6% menor este ano, na comparação com 2014, mesmo com elevação de 20% no volume. Castro lembra que essa avaliação é conservadora porque a queda de preços está acelerada. A estimativa da AEB leva em consideração preço de petróleo médio de exportação de US$ 460 por tonelada.
Em janeiro, segundo dados do Mdic, o petróleo teve preço médio de US$ 354,4 a tonelada. Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados, destaca que o déficit registrado em janeiro foi um pouco pior que o esperado pela consultoria, que estimava saldo negativo de
US$ 3 bilhões. “Não se trata de uma diferença tão grande, mas não é um resultado animador.” A consultoria destaca as quedas ainda intensas tanto na exportação quanto na importação, evidenciam que a “perda de dinamismo comercial ainda não atingiu o fundo do poço”.