Cafeicultores recebiam mais de US$5 por quilo de café – agora, são cerca de US$3
Por Cristiana Couto
Uma série de desafios está ameaçando a produção de café na Colômbia. A crise, porém, não diz respeito apenas às questões climáticas, assunto que foi tema de reportagem no jornal britânico The Mirror desta segunda (25). Ela não é recente e tem origens diversas. Dependendo do ponto de vista de quem a discute, também é profunda.
Ao lado da elevação do custo de mão de obra e insumos, os produtores colombianos – são 550 mil famílias que vivem da cafeicultura – estão enfrentando os baixos preços do café, além de questões fiscais, políticas e institucionais. Diante do cenário preocupante, uma greve nacional está programada por ativistas para 28 de abril, segundo o jornal El Tiempo, e novas mobilizações estão sendo planejadas para agosto.
Segundo a reportagem do The Mirror, em 2023, os cafeicultores recebiam mais de US$5 por quilo de café – agora, são cerca de US$3. Além disso, cita o periódico, houve uma queda de 35% na área de produção de café nos últimos cinco anos (os dados são da Rede de Comércio Justo da América Latina e do Caribe – CLAC).
O aumento das temperaturas e as mudanças nas chuvas estão tornando o cultivo e a colheita colombiana desafiadores. Doenças como ferrugem e broca do café vem afetando ainda mais a produtividade dos cafezais. Há, também, a ameaça do fenômeno La Niña, previsto para acontecer no trimestre de junho a agosto. O acontecimento climático, ainda que transitório, ocasiona chuvas para além do normal a partir da variação de diversos fatores (pressão atmosférica, ventos etc.) que atingem o Oceano Pacífico tropical – justamente, as águas que banham as costas da Colômbia.
Desde o início de março, notícias nos jornais locais dão conta de que cafeicultores têm protestado e exigido medidas para controlar a revalorização do produto, para não haver mais aumento de contribuições e que políticas sejam criadas em benefício do setor agrícola e, por fim, que haja uma reestruturação completa da Federação Nacional dos Cafeicultores (FNC) – instituição que há quase um século gerencia os negócios do café no país. A ameaça de greve foi feita caso o governo não tome medidas para enfrentar a queda dos preços do grão no mercado.
Ontem (26), o editorial do tabloide espanhol El País declarou “ser inconcebível, por exemplo, que o próprio Presidente da República acuse a Federação Nacional dos Cafeicultores de ser o exemplo do roubo de café pela oligarquia”.
O movimento União dos Cafeicultores da Colômbia, criado há um ano e com 500 membros, reclama dos prejuízos que os cafeicultores enfrentam e exige que o diretor da FNC, Germán Bahamón, aumente os impostos sobre importações de café (do Peru, do Equador e do Brasil) para 70%, noticiou o mesmo jornal. Os cafés importados perfazem cerca de 50% do consumo interno da Colômbia (em reportagem de 2023 da revista colombiana Diners, a estratégia das empresas é comprar esses cafés e misturá-los a resíduos do grão nacional de baixíssima qualidade, colocando a bandeira da Colômbia na embalagem e vendendo o produto final a um preço bem menor do que o café colombiano puro).
Já Bahamón defendeu-se, advertindo na semana passada que a sustentabilidade econômica do setor cafeeiro colombiano está em risco devido à rentabilidade “baixa ou nula”, pois não há recursos suficientes para atender às necessidades do setor.
Dias atrás, o Ministério da Agricultura do país habilitou o Fundo de Incentivo à Capitalização Rural (ICR) para apoiar a meta de renovação de 100 mil ha de café. Mas, segundo notícias do Portafolio em 21/3, essa ajuda é pequena, já que o dinheiro necessário para uma intervenção eficiente “excede as possibilidades econômicas do Fundo”.
A União dos Cafeicultores da Colômbia exige, ainda, que haja eleições diretas para o diretor da Federação e a criação de órgãos de fiscalização para monitorar como seus recursos estão sendo administrados. No último ano, o grupo liderou várias manifestações contra a FNC, incluindo uma greve em agosto passado em Armenia, Quindío, e protestos em frente a um estabelecimento da rede de cafeterias Juan Valdez.
Mesmo com a habilitação do Fundo, a demanda dos produtores é que o governo colombiano injete 500 bilhões de pesos colombianos num fundo de estabilização de preços.
De acordo com a Associação Nacional dos Estudantes do país, que se manifestou sobre o episódio, a origem da crise do café na Colômbia começa na década de 1990, quando políticas de livre comércio implementadas no país resultaram em condições desfavoráveis para o país competir com outros que produzem cafés a custos mais baixos.
Perguntado pelo CaféPoint sobre a questão atual do café na Colômbia, o presidente da torrefadora italiana illycaffè, Andrea Illy, destaca uma das origens do problema financeiro do país. “Duas décadas atrás, 60% das lavouras foram renovadas, com previsão de produção de 18 milhões de sacas”, explica Andrea. Segundo ele, essa previsão não se confirmou, e as lavouras precisam ser novamente renovadas.
Outros fatores que agravam a crise, apontam os especialistas, é a revalorização do peso colombiano em relação ao dólar no último ano. Mesmo com a queda dos preços internacionais do café, os produtores têm recebido menos, o que resultou numa queda substancial de renda.
As notícias das últimas semanas indicam, ainda, que há torrefadores considerando outras origens, como Peru e Honduras, para substituir os cafés colombianos, e que importadores reduziram pedidos de grãos do país.
A insuficiência de infraestrutura agrícola, como sistemas de irrigação, é outro fator agravante
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