Fernando Lopes, de São Paulo
Todos os produtos agropecuários negociados na BM&FBovespa encerraram março com cotações médias mensais inferiores às registradas em fevereiro, conforme cálculos do Valor Data baseado nos contratos futuros de segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez.
Isso não significa monotonia. Pelo contrário. Os fundamentos permaneceram presentes, mas novamente oscilações vinculadas à crise financeira irradiada a partir dos Estados Unidos foram marcantes, com um claro divisor de águas no dia 17 e sinais de maior sustentação na metade final do mês do que na inicial para a maioria das commodities.
Erick Figueiredo, da Terra Futuros Corretoras, lembra que foi no dia 17 que o Fed, o banco central americano, anunciou, entre outras medidas de estímulo, a compra de US$ 300 bilhões em títulos de longo prazo do governo, o que liberou liquidez. A decisão provocou a desvalorização do dólar, o que normalmente oferece suporte às commodities, e, pelo viés inflacionário, atraiu investidores para esses mercados, como também é comum acontecer nessa situação.
Produtos como açúcar e café, que até então perdiam sustentação pelo lado dos fundamentos, reagiram expressivamente por pelo menos dois dias, para depois se acomodarem em um patamar mais baixo, mas superior ao do início do mês. Não foi uma reação suficientemente forte para garantir um aumento das médias mensais de preços, mas o movimento mostra que o resultado poderia ter sido uma queda maior que a verificada.
O café, na comparação dos preços médios mensais de março e fevereiro, foi o produto que mais recuou. A baixa foi de 4,93%, para US$ 123,50 a saca de 60 quilos. Não houve, como realça Figueiredo, novidades do lado dos fundamentos – que, ainda positivos pela oferta global mais restrita, perdeu fôlego, também pela mesmice.
O açúcar, cujos preços internacionais e domésticos ainda refletem a drástica redução da produção da Índia, mas que foi influenciado pela entrada da safra brasileira, foi a commodity que caiu menos na BM&FBovespa em março. O preço médio ficou em US$ 16,63 por saca de 50 quilos, 0,48% menos que em fevereiro.
Os grãos (soja e milho) não escaparam dos movimentos financeiros especulativos e, entre os fundamentos, viram o foco sair da América do Sul, onde a estiagem derrubou produções na Argentina e no Brasil, e passar de vez para os Estados Unidos, onde se especulava sobre os tamanhos das áreas de plantio na nova safra (2009/10).
Era barbada que a área de soja deveria aumentar, como se comprovou em relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) de intenções de plantio no país divulgado no dia 31. Em contrapartida, as apostas para a área de milho eram de queda, também atestada pelo USDA. Soja e milho caíram na BM&FBovespa – 2,59% e 4,70%, respectivamente -, mas, conforme Luis Felipe Meirelles de Azevedo Marques, também da Terra Futuros, o interesse dos investidores, inclusive pessoas físicas, já era maior nó fim de março.
O boi gordo também caiu (4,35%), mas a tendência é de alta, como já pode ser observado no mercado físico.