CENÁRIOS DO MERCADO DE CAFÉ – 2006/2007
AVALIAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DO MERCADO DE CAFÉ VERDE E EXPECTATIVAS DE ABASTECIMENTO E PREÇOS NO CURTO PRAZO
Preços do café em grão devem continuar a subir
SUMÁRIO:
1) Estoques privados brasileiros em níveis muito baixos
2) Estoques oficiais brasileiros estão se esgotando
3) Financiamento para estocagem 2006 amplo e em níveis recordes
4) Financiamento para 2007 ainda maior
5) Consumo interno em crescimento
6) Safra 2007/2008 com perspectiva de uma grande quebra
COMENTÁRIOS:
A marcha das cotações do café em grão cru reflete o ambiente de
redução gradual dos estoques físicos no mundo e no Brasil, bem como, é o
resultado da política de sustentação de preços implementada pelo Ministério
da Agricultura, através da SPAE – Secretaria de Produção e Agroenergia e o
DECAF – Departamento do Café.
Assim, de forma previsível, e que foi amplamente comentada pela ABIC em correspondências anteriores, os preços do café em grão estão em pleno
processo de recuperação, superando os baixos preços do período 2002/2003, na pior crise vivida pelo setor e que afetou, igualmente, a industria de café brasileira.
Com as primeiras impressões a respeito da próxima safra indicando
uma colheita muito menor do que a de 2006, a ABIC alerta os industriais
associados para uma possível elevação dos preços da matéria prima (café em
grão cru), em continuação ao processo de recuperação que se iniciou a mais
de dois meses, que já afetou os custos da industria de torrefação e que
poderá trazer conseqüências mais danosas às empresas que não se atualizarem no mercado.
Destaque-se que, a presente elevação dos preços do café em grão cru,
que ocorre desde Setembro/2006, com alta de 21% – de R$ 190,00/sc para R$ 230,00/sc (ver abaixo), NÃO FOI ACOMPANHADA por majoração dos preços do café aos consumidores, que se alteraram apenas 4 %, no mesmo período – de R$ 8,48/kg para R$ 8,85/kg, na cidade de São Paulo.
A ABIC traduz, abaixo, a sua interpretação sobre os principais fundamentos que caracterizam o atual cenário de preços do café:
1) Estoques privados brasileiros de café em níveis muito baixos
De acordo com os levantamentos feitos pela CONAB, os estoques
físicos privados de café em grão no Brasil, encontravam-se em níveis muito
baixos antes do inicio da colheita atual. Com a safra 2006/2007 na ordem de
43 milhões de sacas, ajustada à demanda da exportação e do consumo interno, se é absolutamente previsível que os estoques físicos no final do primeiro trimestre de 2007, estejam ainda menores. Da mesma forma, os estoques privados internacionais também estão experimentando uma redução importante, tal que, a demanda mundial de café em 2007 estará acima da produção mundial do grão.
2) Estoques oficiais brasileiros estão se esgotando
Os estoques oficiais de café encontram-se no nível de 1,9 milhão de
sacas, tendo alcançado 17 milhões de sacas em 1995. Em 2006, o DECAF
arrematou mais de 1,1 milhão de sacas, de Janeiro a Novembro. Dessa forma, estes estoques estão chegando ao final e serão insuficientes para atender a
eventual demanda em 2007, caso se confirme uma safra próxima de pequeno
tamanho.
3) Financiamento para estocagem 2006, amplo e em níveis recordes
O MAPA – Ministério da Agricultura e Abastecimento, através do DECAF e da SPAE, conseguiu recapitalizar o FUNCAFE que, desta forma,
disponibilizou quase R$ 1,6 bilhão para o financiamento da cafeicultura,
industria, comercio e exportação, neste ano de 2006. Este montante,
acrescido das CPRs e dos recursos do Credito Rural, totalizaram mais de R$
2,5 bilhão para os financiamentos à lavoura, volume suficiente para
deslocar mais de 10 milhões de sacas da disponibilidade atual, o que
justifica a oferta apertada de café no mercado e os preços em recuperação e
elevação.
4) Financiamento para 2007 ainda maior
As informações do DECAF sobre a evolução dos recursos do FUNCAFE já permitem prever que em 2007, os recursos serão ampliados para R$ 2,1 bilhão. A combinação de uma safra menor com recursos ainda maiores para
colheita/estocagem, seguramente, vai implicar em suporte para os preços do
café.
5) Consumo interno em crescimento
Dados preliminares da ABIC demonstram que o consumo interno de café continua crescendo. Em 2006, o consumo vai superar os 16 milhões de sacas e em 2007, a expectativa é chegar a 17 milhões, ampliando significativamente
a demanda pelo grão, justamente num cenário de safra menor combinada com estoques reduzidos e financiamento amplo para a cafeicultura. Isto
significa, outra vez, preços do grão em elevação.
6) Safra 2007/2008 com grande quebra
As informações que estão chegando das diversas regiões produtoras,
principalmente as de Minas Gerais, que concentra 50% da produção brasileira
de café, dão conta de que a quebra da próxima safra pode ser expressiva.
Embora seja ainda muito cedo para se fazer prognósticos, até mesmo porque a CONAB vai anunciar, em Dezembro, a sua primeira previsão, é certo que a
safra 2007 estará abaixo da demanda conjunta da exportação e do consumo interno (42,5 milhões de sacas em 2006), agravando, ainda mais, o cenário de abastecimento da industria.
As informações acima permitem acreditar que o cenário de
abastecimento no período próximo, principalmente entre Dezembro/2006 e
Março/2007 tende a se complicar. Destaque-se, ainda, que a política
anticíclica, bem sucedida até o momento, implementada pela SPAE-DECAF,
permitirá que os produtores que financiaram a estocagem do grão possam
renovar o financiamento deslocando o retorno do café para 2008, o que
significa uma graduação adicional da oferta de café ao mercado.
CONCLUSÃO:
Os preços do café em grão cru, podem continuar a se
elevar no curto prazo. Como a matéria prima é o principal componente de
custo da torrefação, representando mais de 60% do preço final, as
industrias terão que rever seus custos continuamente, alterando, dessa
forma, seus preços aos diferentes canais de distribuição.
Rio de Janeiro, 01 de dezembro de 2006 .
ABIC – Associação Brasileira da Industria de Café