Atraso dos recursos pode afetar lucro de cafeicultores

Por: Gazeta Mercantil

AGRONEGÓCIO
22/07/2008
 
Atraso dos recursos pode afetar lucro de cafeicultores
 
 
São Paulo, 22 de Julho de 2008 – O atraso em pelo menos 30 dias na liberação do crédito do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para financiar a colheita do café pode obrigar produtores a buscar recursos por meio da venda no mercado físico, cada dia menos remunerador. O cenário é agravado pela queda dos preços no mercado internacional, motivado pelos baixos preços do petróleo e pelos rumores de desaquecimento das economias americana e chinesa.


A estimativa de uma safra estimada em 45,5 milhões de sacas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é mais uma determinante para o recuo dos preços no mercado físico. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea/Usp), o indicador diário dos preços do café arábica é de R$ 247,27 para a saca (60 quilos) negociada no último dia 18, desvalorização de 6,4% neste mês. O valor está muito aquém do dia 25 de fevereiro, quando os preços atingiram o melhor nível deste ano: R$ 294,97 a saca. Estima-se que o custo da saca para o produtor seja de R$ 245,00.


Com parte dos produtores endividados com CPRs (vendas futuras com garantia bancária) e no próprio Funcafé, a liberação de novos recursos é fundamental para a estratégia de venda à longo prazo explica Gilson Ximenes, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC).


O problema foi agravado com as indefinições sobre o alongamento das dívidas agrícolas, incluindo o Funcafé. Somente após a aprovação da resolução 3.583 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no início deste mês, que ampliou o pagamento das dívidas dos cafeicultores de 1º de julho para 1º de outubro, os produtores que possuíam pendências foram autorizados a tomar novos empréstimos.


“Como houve um atraso na safra acreditávamos que os recursos chegariam no tempo certo”, afirma Ximenes. Segundo disse, a falta de crédito para estocagem pode prejudicar os produtores em um ano de safra grande como este.


“Além disso, o limite de crédito para cada produtor baixou de R$ 500 mil em 2007 para R$ 400 mil neste ano. Mas estamos trabalhando para aumentar pelo menos os recursos para a estocagem”, argumenta Ximenes.


Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, acredita que o cenário para o café é positivo neste ano em virtude da grande demanda. Mas explicou que é difícil precisar quanto e quando os preços deverão subir. “O produtor que não conseguiu montar uma estratégia para evitar a venda na entrada da safra poderá ser prejudicado”, avalia.


O Ministério da Agricultura deverá aplicar R$ 2,16 bilhões na atual safra, divididos entre colheita, estocagem, custeio e Fundo de Aquisição do Café (FAC). Segundo Lucas Tadeu Ferreira, diretor do departamento do café do Mapa, até o dia 15 foram liberados R$ 1 bilhão em recursos para os produtores. Para a colheita, foi ofertado R$ 476 milhões dos R$ 496 milhões previstos. “Está tudo dentro do cronograma do CMN. Até outubro devemos ofertar todo o valor previsto”, explicou.


O Banco do Brasil, maior financiador desta safra com R$ 303 milhões já recebidos, já repassou R$ 41 milhões desse total. Para custeio foram R$ 26 milhões e para estocagem R$ 15 milhões. José Carlos Vaz, diretor de agronegócio do Banco do Brasil disse que não faltou recurso para os produtores em nenhum momento. Mas manifestou preocupação na possibilidade de renegociação de algumas CPRs. “Essa prorrogação eleva o risco e pode prejudicar o fluxo de novos financiamentos”, avalia.


Mercado internacional
Ontem, o contrato do café para setembro fechou estável, cotado a 137,30 centavos de dólar por libra-peso, queda de 0,2%.


(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 9)(Roberto Tenório) 
 
 

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