Valor Econômico
Fatos e previsões ligados ao clima prometem ter forte influência sobre o mercado internacional de commodities agrícolas neste mês de dezembro. E haverá notícias climáticas para todos os gostos, que certamente encontrarão nas principais referências globais para os preços desses produtos tão caros ao Brasil – as bolsas americanas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) – suas caixas de ressonância mais importantes.
Para depurar as expectativas de curto prazo, os reflexos do fenômeno El Niño na América do Sul tendem a começar a pesar tanto na formação das cotações dos grãos (soja, milho e trigo) quanto no caso de algodão, café e suco de laranja. Exceto pelo café, são produtos ainda passíveis a eventuais guinadas climáticas no Hemisfério Norte, onde a colheita de grãos e algodão, por exemplo, já se aproxima do fim.
Mas talvez essas variações climáticas “conjunturais”, determinantes para guiar as cotações nas próximas semanas ou meses, não sejam tão importantes quanto os resultados das discussões de longo prazo que começam na semana que vem na Dinamarca. Como observa Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, na aguardada Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas, em Copenhague, poderão ser definidos ou sinalizados parâmetros e metas capazes de direcionar atividades agrícolas e as apostas dos investidores nesses mercados por anos.
Sartori tem especial expectativa com o que pode sair de Copenhague em relação a metas para a utilização de biocombustíveis. Além do etanol feito da cana, cujo quadro de oferta e demanda rebate nos preços do açúcar, há o etanol de milho, que reage à política americana de subsídios, por exemplo, ou o biodiesel produzido a partir de commodities como soja e trigo, contemplado com políticas próprias em mercados vitais como EUA, União Europeia e Brasil.
O analista não se esquece que o posicionamento do então presidente dos EUA George W. Bush favorável aos biocombustíveis, manifestado na virada de 2006 para 2007, foi fundamental para atrair ainda mais o interesse de fundos de investimentos pelo mercado de commodities agrícolas, que já estava em alta por conta do contínuo crescimento da demanda de grandes países emergentes como China e Índia por alimentos.
A conjunção dos dois fatores abriu o apetite dos fundos especulativos em um momento de piora dos rendimentos em outras aplicações e levou às commodities a máximas históricas em meados do ano passado. Em geral as cotações recuaram após o aprofundamento da crise irradiada a partir dos Estados Unidos, em setembro de 2008, mas seguem acima de suas médias históricas e com forte contágio do comportamento do dólar.
Independentemente dos fundamentos de oferta e demanda, a erosão da moeda americana foi mais uma vez determinante para a sustentação das cotações agrícolas em novembro em Chicago e Nova York. Na média do mês, o dólar voltou a perder valor em relação a outras moedas importantes como o euro, e cinco das oito principais commodities transacionadas pelo Brasil no exterior (suco, algodão, soja, milho e trigo) encerraram o mês com cotações médias mais elevadas do que em outubro.
Conforme cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente a de maior liquidez), mesmo as commodities agrícolas que recuaram (açúcar, café e cacau) contaram com o suporte oferecido pela deterioração do dólar, que conteve as variação negativas dos preços. “O dólar e os movimentos financeiros dos fundos continuaram sendo a grande influência do mercado”, afirmou Renato Sayeg, da Tetras Corretora, de São Paulo.
Para soja e milho, duas das commodities agrícolas de maior liquidez, as chuvas durante a colheita nos Estados Unidos ajudaram a sustentar as cotações em novembro, ao mesmo tempo em que os sinais de reaquecimento da demanda chinesa se somaram aos fatores “positivos” para os preços da soja. Mas, da trinca, o trigo, cujo plantio nos EUA poderá ser afetado pelas chuvas que atrasam a colheita dos outros dois produtos, foi quem mais subiu. Seu preço médio foi 8,66% superior ao registrado em outubro, ante as valorizações médias de 5,4% do milho e de 4,69% da soja.
Para soja e milho, acredita Antonio Sartori, as fortes chuvas do El Niño que prejudicam o plantio de grãos no sul do Cone Sul serão monitoradas mais de perto pelo mercado em dezembro. No Rio Grande do Sul, disse ele, apenas 30% da área plantada total prevista foi de fato semeada até agora e um terço dela terá de ser replantada por causa das chuvas.
Em Nova York, açúcar, café e cacau recuaram mas mantiveram-se em patamares elevados, o suco de laranja voltou a subir com problemas na oferta da Flórida e de São Paulo e a reação do consumo americano e o algodão foi a commodity que mais subiu, também influenciado pelo clima nos EUA.